Rio - Puxada por um grupo de atrizes, a campanha #Chegadeassedio ‘Mexeu com uma, mexeu com todas’ ganhou o maior comércio popular da cidade. A camiseta criada após a denúncia de assédio sexual da figurinista da Rede Globo Su Tonani contra o ator José Mayer passa a ser comercializada a partir de hoje na loja Dimona, na Saara.
A peça custa R$ 25 e 15% do valor serão revertidos para a ONG Think Olga, que combate o assédio. Nas redes sociais, a atriz e feminista assumida Maria Ribeiro se posicionou a favor ‘das minas’ e contrária ao seu marido, o ator Caio Blat.
Em sua conta no Twitter, ela escreveu: “Pra todo mundo que tá perguntando no twitter e no insta: to cem por cento ao lado da Su - minha amiga corajosa - e das minas”. Já Caio Blat, durante uma entrevista a uma revista de fofocas, ontem à noite, disse que não concorda com o afastamento do ator e que o colega veterano “não representa ameaça a ninguém”.
Leonardo Zoneschein, diretor domercial da Dimona, explica que, a princípio, a camiseta foi confeccionada com exclusividade para as funcionárias da Globo, mas a repercussão da hashtag #Chegadeassédio foi tão grande que pediu permissão para comercializar as peças e expandir a campanha. Com a contrapartida da doação para a ONG, o pedido foi aceito.
Nas ruas, a aceitação à nova moda “engajada” em favor da campanha ainda estava dividida. A administradora Patrícia Dias, de 42 anos, disse que não usaria a blusa. “Ninguém demora oito meses para tomar uma atitude em relação ao assédio”, disse, ao criticar a vítima. Já a manicure Eunice Lisandro Brennand, 51, defende: “A união entre as mulheres e o uso da blusa intimida esse tipo de abuso, tão presente no cotidiano”.
No Instagram, as atrizes Sophie Charlotte, Drica Moraes, Alice Wegman e Tainá Müller haviam postado fotos vestindo camisetas com a frase ‘Mexeu com uma, mexeu com todas. Chega de assédio’. Gloria Pires, Grazi Massafera, Bruna Marquezine, Camila Pitanga e Taís Araujo também compartilharam a frase.
Vítima ainda não registrou queixa
Para a diretora da Divisão de Polícia de Atendimento à Mulher, Marcia Noeli, tão importante quanto a manifestação contra o assédio sexual — e toda a repercussão em torno do caso — é que a vítima registre a denúncia em uma delegacia.
“A falta do registro policial inviabiliza as investigações e, consequentemente, a punição do culpado. O movimento de apoio é muito importante, pois as mulheres muitas vezes se calam em ambientes de trabalho, com medo de ser demitidas. Outras chegam a pedir para sair do emprego e acabam revitimizadas com esse gesto”, explica.
Segundo a delegada, não há registro em nome da figurinista Susllem Meneguzzi Tonani contra o ator José Mayer na delegacia da mulher. “O culpado por assédio paga pena alternativa, ou seja, pagaria cesta básica ou prestaria serviço comunitário”, explicou.
Uma pesquisa feita pelo Datafolha, em setembro de 2016, mostra que mais de um terço da população brasileira (33%) considera que a vítima é culpada pelo estupro. A pesquisa mostra ainda que 42% dos homens e 32% das mulheres entrevistados concordam com a afirmação ‘mulheres que se dão ao respeito não são estupradas’, enquanto 63% das mulheres discordam. O instituto de pesquisa ouviu 3.625 pessoas.
Colaborou o estagiário Matheus Ambrosio