Por thiago.antunes

Rio - Por motivos de segurança, o secretário municipal de Educação do Rio, Cesar Benjamin, aconselhou o prefeito Marcelo Crivella a não participar do culto ecumênico realizado ontem na Escola Municipal Escritor e Jornalista Daniel Piza, em Acari.

O ato lembrou a estudante Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, assassinada na quadra da escola na semana passada. A polícia indiciou por homicício qualificado o cabo Fábio de Barros Dias e o sargento David Gomes Centeno, que atiraram em homens caídos na calçada da escola em Acari.

Ato ecumênico reúne alunos%2C professores e funcionários de escola. Volta às aulas começa gradativamente a partir de segundaSeverino Silva / Agência O Dia

“Ontem, o tráfico roubou três caminhões da Comlurb, daqueles bem pesados que transportam lixo, e blindou os acessos à escola. Havia uma situação muito tensa ontem. Eu recomendei pessoalmente ao prefeito que não viesse. Hoje não está, felizmente. O pessoal está mais afastado, nós não estamos vendo aqui no entorno da escola a presença ostensiva do tráfico”, disse.

Ele contou que teve que transferir a reunião com o corpo docente da escola para a sede da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE). “Os professores não permaneceram aqui porque ficaram temerosos com a movimentação que havia em volta da escola e pediram que a reunião fosse feita em um local um pouco mais afastado. Em função disso eu pedi que o prefeito não viesse.”

Culto ecumênico pela menina Maria Eduarda%2C morta a tiros no pátio da escola em AcariSEVERINO SILVA / AG O DIA

Benjamin disse que vai solicitar uma reunião com a Secretaria de Segurança e com o Comando-Geral da Polícia Militar para estabelecer um protocolo para que não haja operações policiais em favelas no horário de entrada e saída das escolas. “A ideia é que cada comandante receba uma delegação de escolas da região para discutir e validar o protocolo. Queremos que as escolas sejam um lugar de paz e também garantir a vida dos nossos alunos, professores e funcionários”, afirmou.

Em relação ao processo de blindagem das escolas, anunciado pelo prefeito na semana passada, o secretário contou que a prefeitura está trazendo uma amostra de uma argamassa especial dos Estados Unidos para fazer um teste. O pedido de importação já foi feito e o material deve demorar até dois meses para chegar. A blindagem deve começar em 15 escolas no Complexo da Maré, onde foi observado que as paredes de gesso não oferecem segurança.

A volta às aulas na escola só vai ocorrer a partir de segunda-feira. “Vai ser gradativa, seguindo as orientações de uma equipe de psicólogos que está aqui trabalhando em tempo integral. As atividades serão retomadas inicialmente na parte lúdica, esportiva, e dando assistência a cada estudante, para que gradativamente a escola recupere a sua grade normal de ensino”, disse o secretário.

Os pais de Maria Eduarda vão se reunir hoje com o governador Luiz Fernando Pezão. “Vou pedir ao governador para a polícia não realizar operações entre 6h30 e 18h. Essa não foi a primeira vez que um pai e uma mãe ficaram chorando a dor da morte da filha. Não queremos mais que isso aconteça. Não queremos vingança. Queremos que a Justiça seja feita para que minha filha possa descansar em paz”, disse, emocionado, o pedreiro Antônio Alfredo da Conceição, de 63 anos.

Mãe da estudante, Rosilene Alves Ferreira, 53, confirmou que o prefeito lhe ofereceu um apartamento fora da comunidade, mas ela ainda não sabe qual decisão irá tomar. O ato contou com a presença de jogadores de basquete do Flamengo, time de coração de Duda. O técnico José Neto, o pivô JP Batista e o supervisor da equipe André Guimarães entregaram uma camisa da equipe personalizada com o nome da estudante.

Em nota, a assessoria da PM informou que as operações em áreas de risco ocorrem, em sua maioria, após a entrada ou saída de alunos das escolas. 

Confira a nota na íntegra

"A Polícia Militar esclarece que é uma das poucas Instituições que atuam em áreas conflagradas. Essa atuação é motivada por acionamentos de cidadãos ao 190 ou a partir de operações previamente planejadas. Nesse último caso, as operações ocorrem, em sua maioria, antes ou após a entrada e saída de alunos das escolas.

Desde maio de 2016, a Polícia Militar, visando aproximar a Corporação da comunidade escolar, seja no âmbito Estadual ou Municipal, criou o Conselho Comunitário de Segurança Escolar (CCSE) em todas as AISP do Rio de Janeiro. Esse conselho se reúne uma vez ao mês, nos batalhões, para discutir e buscar soluções em conjunto com representes das escolas para os problemas que se apresentam na comunidade escolar.

Além dessas reuniões, é comum entre os Batalhões e nas UPPs, a interação direta, seja dos comandantes de companhia ou os comandantes de UPPs, com os diretores de escolas através de grupos de whatsapp, o que proporciona agilidade no contato e estabelece uma relação de confiança.

Temos atuado também em diversos projetos sociais junto às comunidades, em especial com crianças e adolescentes. Projetos esses que carecem de apoio e envolvimento dos demais órgãos públicos.

A Corporação tem todo o interesse em ampliar o debate em relação à segurança nas escolas. Entendemos que a Segurança Pública é um assunto complexo. É preciso atuar nas causas para evitar que a Corporação seja cobrada pelas consequências.

O Comando da Corporação convida o Prefeito do Rio, Marcelo Crivella, e o Secretário Municipal de Educação, Cesar Benjamin, a conhecer os projetos desenvolvidos pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), bem como a participar de uma das reuniões do CCSE."

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