Rio - A Polícia Civil investiga uma possível participação do Primeiro Comando da Capital (PCC) nos recentes ataques a caixas eletrônicos no Rio de Janeiro. O caso mais recente ocorreu na madrugada de ontem, na agência do Santander, no Boulevard 28 de Setembro, em Vila Isabel.
Dez bandidos em três carros abordaram um motorista e exigiram que ele atravessasse o veículo para bloquear a rua. Segundo a polícia, a quadrilha estava armada com fuzis, pistolas e artefatos. A porta da agência e os caixas foram explodidos, mas ninguém ficou ferido.
Após o episódio, que ocorreu por volta das 4h30, os bandidos trocaram tiros com policiais da Delegacia de Homicídios, que passavam de carro pelo local. O barulho da explosão e dos disparos assustou moradores do bairro, que relataram o medo pelas redes sociais. “Acordei com o coração na boca. Era uma mistura de tiros com bombas. Me senti em meio a uma guerra”, disse uma internauta.
A suspeita de participação de criminosos do PCC na elaboração dos planos de ataques a caixas eletrônicos no Rio foi confirmada pela Polícia Civil, no entanto, o órgão evitou dar detalhes do inquérito para não atrapalhar as investigações.
Mas, o que de fato chamou a atenção das autoridades foi o modus operandi da ação, que é similar aos ataques em São Paulo. Em março, bandidos armados com fuzis e metralhadoras usaram explosivos para roubar uma agência da Caixa, em Janiru, no interior paulista. Na fuga, os criminosos atiraram contra viaturas da polícia.
Dois dias depois, o cofre de um banco foi explodido por bandidos fortemente armados, em Pedrinhas Paulista. Na fuga, eles atiraram para o alto para intimidar os policiais.
Segundo a delegada titular da 20° DP (Vila Isabel), Bárbara Lomba, uma perícia foi realizada na agência de Vila Isabel ontem. Investigadores buscam testemunhas e imagens de câmeras para auxiliar na identificação dos suspeitos.
PCC e ADA: aliados contra o comando vermelho
Não é a primeira vez que o PCC está na mira de investigações da Polícia Civil do Rio. No início do ano, policiais fluminenses identificaram uma aliança entre a facção paulista com a Amigo dos Amigos (ADA), o que levou a mudanças internas no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu.
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Uma investigação da polícia paulista provou que integrantes do PCC estariam morando na Rocinha, dominada pela ADA, para ajudar a gerenciar o tráfico na favela. De acordo com a polícia do Rio, o PCC teria rompido um acordo de cooperação de mais de 20 anos com o Comando Vermelho (CV) e, por conta disso, pediram a transferência de galeria dentro do presídio.
Na modalidade de ataque a caixas eletrônicos, apenas em fevereiro deste ano, quatro agências — duas em Belford Roxo, uma no Centro do Rio e outra no Rio Comprido — foram alvo de criminosos. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública, foram registrados 51 roubos a caixas em 2016, o que representa um aumento de 54% em comparação com o ano anterior.
Somente no ano passado, foram apreendidos 644 materiais explosivos em todo o estado, incluindo bombas de fabricação caseira. No caso de Vila Isabel, ontem, a Polícia Civil apura o tipo de explosivo utilizado na ação.
A Vila Isabel do medo
Conhecido pela boemia, o bairro de Vila Isabel está cada vez mais distante de continuar com esse título. Em menos de dois meses, pelo menos cinco casos de violência com mortes foram registrados no entorno do Boulevard 28 de Setembro.
Os frequentes episódios de assalto, inclusive, foram um dos motivos para o fechamento de dois dos tradicionais bares da via, Petisco da Vila e Chopp Gol. Por conta da violência, outras lojas também encerraram suas atividades. E, as que permanecem abertas, reduziram o horário de funcionamento, principalmente durante a noite.
Na semana passada, o PM reformado Almir Tadeu Alves de Oliveira, de 58 anos, foi morto após reagir a uma tentativa de assalto nas Lojas Americanas do Boulevard. Há um mês, um homem foi morto a tiros na Praça Barão de Drummond.
Perto dali, na Rua São Francisco Xavier, no mesmo dia, o policial Renato César Jorge Cardoso, 47, também foi assassinado por quatro homens armados. Ainda no mês passado, outro PM, à paisana, reagiu a uma tentativa de assalto e trocou tiros com suspeitos na altura da Rua Radialista Waldir Amaral com a 28 de Setembro.
E não é só no asfalto que os crimes acontecem. No Morro dos Macacos, os tiroteios têm sido diários. Na semana passada, o policialmente foi reforçado na comunidade, que tem Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), por agentes de outras UPPs, do 6º BPM (Tijuca) e do Batalhão de Choque (BPChq). O reforço foi acionado após a morte de três pessoas suspeitas de participarem do tráfico de drogas na comunidade.