Por thiago.antunes

Rio - O dia de ontem terminou em fúria. A greve geral contra as reformas previdenciária e trabalhista acabou em um violento confronto no Centro do Rio. Por volta das 17h, quando o ato estava sendo encerrado com um show na Cinelândia, a confusão explodiu. Para dispersar a multidão, a PM usou bombas de efeito moral,gás lacrimogêneo e spray de pimenta. O Centro ficou em chamas.

Manifestantes, muitos com os rostos cobertos — como os ‘black blocs’ que agiram nos protestos de 2013 —, incendiaram cerca de 10 ônibus e automóveis. Também tocaram fogo em latas de lixo e banheiros químicos, que foram derrubados nas pistas, bloqueando o tráfego e deixando as pessoas acuadas e em pânico. Vítimas foram atendidas no Hospital Souza Aguiar, no Centro.

Pelo menos dez veículos%2C a maioria ônibus%2C foram incendiados durante os protestos na região central. Na Lapa%2C Lojas Americanas é saqueada e agência do Bradesco%2C depredadaCléber Mendes/ Agência O DIa

Viaturas da PM, fachadas de bancos e de lojas foram destruídas a pedradas. Da Cinelândia, os protestos violentos se espalharam por toda a região central. A estação Cinelândia do metrô precisou ser fechada à noite. A Lapa, tradicional reduto boêmio, viu uma cena rara: bares e restaurantes baixaram as portas.

As ruas Mem de Sá, Riachuelo e Lapa foram interditadas por vândalos, que montaram barricadas com caçambas e sacos de lixo. O Bradesco, na Mem de Sá, teve a fachada completamente destruída. Nas Lojas Americanas, da Riachuelo, houve saque.

Houve confusão e correria em vias do CentroMárcio Mercante / Agência O Dia

“Havia meia dúzia de baderneiros de um lado, mas os PMs começaram a atirar bombas em todas as direções. Estava no palco, com o microfone na mão, quando duas bombas de gás foram arremessadas. Não compactuamos com vandalismo”, reclamou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-Rio), Marcelo Rodrigues.

Duas horas antes, manifestantes e policiais já haviam protagonizado violento conflito no entorno da Assembleia Legislativa (Alerj). “Esse segmento da sociedade civil que faz opção pela violência e depredação não está sintonizado com a opção de luta do movimento”, disse o diretor da Federação Nacional dos Médicos, Jorge Darze, afirmando que a polícia, sob orientação do governo do estado, age com violência contra manifestações pacíficas.

Manifestantes fizeram barricadas no CentroMárcio Mercante / Agência O Dia

Em nota, a PM informou que a “corporação agiu em vários distúrbios, reagindo à ação de vândalos que, infiltrados entre os legítimos manifestantes, promoveram atos de violência e baderna pelo centro da cidade”. E confirmou saques e depredação de lojas, estações do Metrô e do VLT, ônibus e carros apedrejados e incendiados. “A Polícia Militar continua nas ruas, buscando neutralizar a ação de vândalos que se passam falsamente como manifestantes”, destacou.

O presidente Michel Temer lamentou o episódio. “Infelizmente, pequenos grupos bloquearam rodovias e avenidas para impedir o direito de ir e vir do cidadão, que acabou impossibilitado de chegar ao seu local de trabalho ou de transitar livremente.

Fatos isolados de violência também foram registrados, como os lamentáveis e graves incidentes ocorridos no Rio de Janeiro”. Já o governador do estado, Luiz Fernando Pezão, não se manifestou até o fechamento desta edição. Segundo a Firjan, as atividades da indústria foram normais.

‘Isso não é democracia’

Professores da rede particular, que também protestavam na Cinelândia, foram alvo das bombas de gás e efeito moral da Polícia Militar. “Isso não é democracia. A polícia jogou muita bomba”, reclamou o presidente do Sindicato, Oswaldo Teles. Segundo ele, mais de 500 pessoas, entre as quais crianças, ficaram encurraladas. “Estamos aqui na sede do sindicato, acuados. Está um desespero”, disse Teles ao DIA, por telefone.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) repudiou o que classificou como “violenta ação da Polícia Militar contra milhares de manifestantes que participavam de ato na Cinelândia”. Nota assinada pelo presidente da instituição, Felipe Santa Cruz, afirma que “nada justifica a investida, com bombas e cassetetes, contra uma multidão que protestava de modo pacífico. Se houve excessos por parte de alguns ativistas, a Polícia deveria tratar de contê-los na forma da lei. Mas o ataque com métodos de tocaia e a posterior perseguição por vários bairros a pessoas que tão só exerciam seu direito à manifestação representa grave atentado à Constituição e ao Estado democrático de Direito”.

O presidente da CUT-Rio, Marcelo Rodrigues, disse que, na terça-feira, vai pedir, em ofício à Secretaria de Segurança, explicações sobre a conduta da PM. “Não compactuamos com vandalismo. Mas a polícia não pode jogar bomba em trabalhador”, afirmou Rodrigues, que classificou a ação da PM como “barbárie”.

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