Rio - Traficantes da Nova Holanda, no Complexo da Maré, alugam pistolas para assaltos a ônibus na Avenida Brasil e fuzis para criminosos de outras comunidades. A informação faz parte de inquéritos da 21ªDP (Bonsucesso), que investiga o tráfico local. “Eles alugam uma pistola por R$ 100 para usuários de crack assaltarem ônibus na Avenida Brasil. Aceitam parte das mercadorias roubadas como pagamento. Já o aluguel de um fuzil gira em torno de R$ 1 mil e pode ser feito de forma parcelada”, afirmou Wellington Vieira, titular da delegacia.
Um dos aluguéis detectados pela delegacia foi de fuzis para traficantes da Vila Kennedy, que travam uma guerra com criminosos de uma quadrilha rival. “Estimo que a Nova Holanda deva ter cerca de 100 fuzis. Mas essa parte da investigação vai ficar com a Desarme (Delegacia Especializada em Armas, Municções e Explosivos)”, disse Vieira.
A contabilidade aparece em depoimentos de pessoas que atuam no tráfico local. Um adolescente de 14 anos, que agia como ‘olheiro’ (com a função de avisar quando alguma operação começa), disse que chega a receber R$ 4 mil por mês no tráfico. “O declarante entrou para o tráfico por causa de dinheiro, sendo certo que o declarante recebe R$ 1.000 por por semana, em torno de R$ 3.000 a R$ 4.000 por mês”, diz um dos trechos do documento digitado por um inspetor. “É triste constatar que os jovens, sem antecedentes, menores de idade são seduzidos pelo tráfico, pelo dinheiro fácil. Já na função de vapor, recebem esse valor. Perdem a vida por dinheiro”, lamentou Vieira.
Dinheiro fácil do tráfico
Em depoimento, o próprio adolescente confessa que foi seduzido pela vida fácil do tráfico. “O dinheiro do tráfico vem fácil e vai fácil. O diabo fica atentando para comprar coisas que não precisa, como óculos caro, roupas caras, maconha, graminha de ouro, jóias de ouro, mas acaba perdendo”, disse.
A polícia já identificou os principais responsáveis pela negociação de toneladas de drogas, conhecidos na gíria do tráfico como ‘matutos’. Entre eles, estão os foragidos Marcelo Veiga, conhecido como Marcelo Piloto, e Iranildo Silva, o Naldo. Um homem que reside em Salto del Guairá, no Paraguai, e negocia toneladas de maconha enviadas para a Maré, teve somente o seu apelido revelado pela polícia: Baixinho. O Disque-Denúncia oferece R$ 10 mil por informações que levem à prisão de Piloto.
Conforme reportagem do DIA deste domingo, a favela Nova Holanda é o ‘quartel-general do Comando Vermelho’, centralizando a maior parte da droga distribuída para a cidade do Rio e Região Metropolitana. O uso de barcos de pescadores na Baía de Guanabara é uma das formas dessa distribuição.