Por thiago.antunes

Rio - De calça de moleton, sem camisa e com um banjo debaixo do braço, Almir Guineto comandava o samba no Cacique de Ramos numa quarta-feira de 1980. Foi assim que Zeca Pagodinho o conheceu. O amigo e parceiro lembrou o episódio na tarde deste sábado, durante o velório de Almir Guineto, na quadra da Acadêmicos do Salgueiro. O sambista morreu na sexta-feira, em decorrência de diabetes e complicações renais. Ele será enterrado na tarde deste domingo, no Cemitério de Inhaúma, às 15h.

"Eu ouvia falar de Almir Guineto e fui lá com o Arlindo Cruz para vê-lo. Lembro que a gente só podia tocar quando ele e os mais antigos terminassem. Éramos da nova geração, mas o Almir logo se aproximou quando viu que nós tínhamos o que mostrar", lembrou Zeca Pagodinho depois de erguer um copo de cerveja em direção ao caixão.

Zeca Pagodinho%2C Jorge Aragão e amigos em despedida comovidaSeverino Silva / Agência O Dia

Jorge Aragão, que também foi prestar a última homenagem ao amigo, destacou que o maior legado deixado por Almir Guineto é a introdução do banjo no samba. "Com o barulho da percussão, os instrumentos harmônicos eram abafados. Por ser bem alto, o banjo pôde sobressair, acabando com esse problema nas rodas. Devemos isso a Almir Guineto".

O velório foi aberto ao público, que reverenciou o sambista lembrando sucessos como "Coisinha do pai", "Mãos" e "Brilho no olhar". Zeca Pagodinho citou "Lama nas ruas":

"Essa foi a nossa principal parceria. Ele me mostrou a melodia numa viagem à Serra das Araras. Lembro que gostei tanto que pus a letra na hora. Tenho muito orgulho dela". Muito emocionado, Almirzinho Serra, filho de Almir Guineto, disse que a principal característica do pai como compositor era a espontaneidade.

"Vi muitos sambas dele surgirem sem nenhuma pretensão, às vezes a partir de uma brincadeira. Só que logo depois a música estava na boca de todo o Brasil. Era impressionante".

Reportagem de Bernardo Costa

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