Rio - Casos de estupro continuam frequentes no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Seropédica. Segundo relatos, duas meninas foram atacadas nesta semana ao pedirem carona no fim da aula. Alunas contam que uma das vítimas foi abordada em um carro por um homem armado e foi espancada. No entanto, elas ressaltam que as duas jovens ficaram com medo de fazer a denúncia na delegacia.
Após essas recentes ocorrências, as estudantes estão organizando um ato contra a violência sexual na universidade, a partir das 13h da próxima segunda-feira. Em abril do ano passado, O DIA já havia denunciado estupros na instituição. De acordo com os últimos dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), entre janeiro e março deste ano foram registrados sete casos em Seropédica, o mesmo número contabilizado nos três primeiros meses de 2016.
Estudante de Engenharia de Alimentos, X., de 25 anos, contou que os próprios alunos organizam um sistema de carona no fim das aulas, já que não há muitos ônibus no local. "Temos um ponto onde damos e pedimos carona em direção ao Centro de Seropédica. A gente sempre acredita na boa fé das pessoas e pega carona sem conhecer. Eu já cansei de dar carona, inclusive para homens, e pegar também", explica a jovem.
X. acrescentou ainda que a direção da Rural disponibiliza alguns ônibus, mas que os coletivos não atendem a demanda dos estudantes. Ela afirma que as mulheres não conseguem andar tranquilamente e procuram andar juntas no campus.
"O apelido desses ônibus é fantasminha, de tão raros que são. Infelizmente, não temos a liberdade de andar sozinhas pela universidade e todo homem se torna uma possível ameaça", lamenta a menina, acrescentando que foi vítima de dois casos de assédio e conseguiu fugir graças às técnicas de defesa pessoal ensinadas pelo pai. "Foi um trauma terrível", lembra.
Para Y., de 23 anos, a falta de iluminação em diversos pontos da universidade acaba contribuindo para o aumento desses casos. "Além disso, o número de guardas nas entradas principais não é suficiente. As áreas, como as florestas, não são monitoradas o dia todo, apenas nos períodos em que ocorre algum caso. Aí eles fazem a ronda", afirma a estudante de Agronomia.
Em nota, a UFRRJ informou que soube dos casos e pediu para os alunos tomarem cuidado com caronas de pessoas desconhecidas. A instituição reforçou que a reitoria está acompanhando as duas ocorrências e providenciando ações para aumentar a segurança na universidade.
No site, a direção da faculdade enumerou algumas dessas medidas. Entre elas estão a aquisição de lâmpadas e material elétrico para a melhoria da iluminação do espaço, que devem ser entregues em dez dias; a compra de um sistema de câmeras de filmagem para o monitoramento das áreas de maior circulação de pessoas no campus; e acompanhamento e apuração de casos de violência contra a mulher.
"A Reitoria da UFRRJ considera que a grave situação de violência e insegurança vivenciada em nossos campus não é um problema isolado e de fácil solução, uma vez que exige a adoção de um conjunto de medidas de políticas públicas, cujas decisões dependem de uma consistente articulação de esforços entre os atores do estado e da sociedade civil", completou, em nota.