Rio - Em época de crise, em que a taxa de desemprego no Rio atingiu 13,4% em 2016 — a maior já registrada pelo IBGE desde 2012 —, uma feira com mil oportunidades profissionais em várias empresas de renome parecia até boa demais para ser verdade.
E era mesmo. As filas começaram a se formar ainda de madrugada no Club Municipal, na Tijuca, às 4h15. O banner de divulgação, que circulava pelas redes sociais, marcava o dia 12 de maio, das 9h às 17h. Mas a feira, na verdade, já tinha acontecido — em 12 de maio de 2014.
A jornalista e produtora cultural Maria Cláudia de Abreu, de 46 anos, chegou ao clube às 15h, esperando achar uma oportunidade. Acabou encontrando um cartaz que indicava que a notícia não era verdadeira. Ela relata que o movimento de pessoas enganadas não parou a tarde inteira.
“Fiquei muito chateada porque assim como eu saí de Santa Cruz, tinha pessoas que tinham vindo de Maricá”. Moradora do Jacaré, a técnica de Administração Bruna Paiva, 34, viu filas sendo desfeitas. “O porteiro informou que fazia parte de uma propaganda enganosa”.
Assim como muitas outras vítimas, elas não haviam acessado a página da organizadora da feira no Facebook, a produtora Essência Cultural, onde constava a mensagem, postada somente na véspera: “Divulguem que não haverá o evento para que não seja causado transtorno às pessoas que possam ir até o local.”
O diretor de comunicação do Club Municipal, Geraldo de Andrade, relata que ficou perplexo ao saber do boato e informou que investiga a origem da falsa notícia. “Temos 84 anos e um nome a zelar. Quando fazemos uma ação, divulgamos em vários canais. É um boato espalhado por pessoas que não têm compaixão pelos desesperados por uma falsa esperança de emprego”, disse.
A guerra contra as notícias falsas se tornou um problema tão real que, no mês passado, o Facebook lançou um guia para orientar os usuários a identificar boatos. Cristina Tardáguila, diretora da Agência Lupa, especializada na verificação de fatos, insta os cidadãos comuns a checar tudo.
“Qual a fonte de informação? Uma coisa é ler em um jornal, outra é receber pelo WhatsApp. Há outras fontes falando o mesmo? Vá à fonte original. E a última coisa é fazer o trabalho de uma reportagem e ligar”, recomendou.
Da estagiária Alessandra Monnerat, sob supervisão de Rosayne Macedo