Rio - Chega a ser desesperador. No meio da noite, aquele bebê fofinho, cheirosinho e lindinho abre o berreiro. E agora? É cólica? Está querendo mamar? Está sentindo frio? Sujou a fraldinha? Muitas mamães, especialmente as de primeira viagem, ficam perdidas na noite porque não conseguem identificar o motivo do desconforto do ser mais importante do mundo: o seu bebê.
Que o diga a mamãe da Maria Luisa, Daniela Barros, 36 anos, que mora em Sorocaba, São Paulo. “Só queria dormir durante a amamentação. Quando ia colocar no berço, chorava. Ela queria só colo. Entrei em desespero, comecei a chorar. Fiquei exausta”. História semelhante a da socióloga carioca Isabela Neves, 33, mãe do João. “Meu filho não dormia nada. Acordava de hora em hora de madrugada”.

As duas mamães resolveram pedir socorro e ambas recorreram à mesma pessoa, a enfermeira Lúcia Wanderley, conhecida como “encantadora de bebês”. Lúcia é uma espécie de personal-mãe ou super Nanny. “Eu ensino os pais a criarem uma rotina e ter um tempo para eles. Depois que o bebê nasce os pais praticamente se separam: a mãe dorme com o bebê e o pai vai para o sofá da sala”, conta Lúcia, que em 35 anos estima ter ajudado a cerca de sete mil famílias. “A gente cria uma rotina em que o bebê dorme no berço e os pais voltam para a cama e todos ficam felizes para sempre”, garante Lúcia. Segundo ela, o segredo é a disciplina. “O bebê tem que ter hora para mamar, para interagir, passear, dormir. Tem que ter hora para tudo, senão vira bagunça”, ensina a encantadora.
Ela só trabalha com recém-nascidos e costuma morar, no máximo, dois dias com a família, tempo suficiente para arrumar a casa. “A mãe fica querendo agradar a criança. A primeira reação é pegar o bebê no colo, mas às vezes o bebê não quer ficar no colo. Está pedindo para ir pro berço, para ser colocado em um lugar onde possa se esticar melhor. Teve casos em que os pais descobriram comigo que a criança não gostava de colo”, conta Lúcia, que garante ensinar técnicas para as mamães aprenderem a identificar o motivo do choro. “Depois que pega a manha, fica tudo legal”, garante a encantadora, que cobra entre R$1,5 mil e R$ 3mil.
O que para Lúcia não passa de técnica, para as mamães que “padecem no paraíso” parece mágica. “Logo na primeira noite, o bebê dormiu a noite inteira. Parecia um milagre. Ela encanta a família toda, diz a mãe da Maria Luisa. “Foi a melhor coisa do mundo ter um neném dormindo a noite toda. E o bebê ficou bem mais feliz e descansado”, concorda a mãe do João, que continua dormindo a noite toda.
Até três meses é mais feto que bebê
Com 30 anos de experiência, o pediatra Antonio Carlos Turner, diretor da clínica Total Kids, afirma que de zero a três meses, o recém-nascido é mais feto do que bebê. “A gestação dura nove meses e nos três primeiros meses fora da barriga, a criança está se adaptando ao novo ambiente”. Ele explica que muitas vezes em que chora, a criança está saciada nutricionalmente, mas carente de afeto e carinho.
“É imaturidade do cérebro, que tem lembrança do tempo em que estava na barriga da mamãe”. Para o pediatra, a mãe tem que cortar o cordão umbilical que fica no imaginário dela. “Criança que não chora é que pode estar doente. Quando chora, mostra atividade”. Para Turner, o pediatra deveria orientar melhor e as consultas não deveriam ser tão rápidas. Ele também passa um pito nas mamães. “Além de se preocupar com o enxoval ou a cor do quarto do bebê, tem que ler sobre psicologia infantil.”
COMO ACALMAR O NENÉM
EMBALANDO O BEBÊ
Ninar a criança é ótimo para conter o choro. O movimento imita o que acontece na barriga, quando o feto fica sob o balanço do líquido amniótico.
O SOM DA PLACENTA
O chiadinho soprado no ouvidinho do bebê também acalma. Esse é o som do fluxo do sangue da placenta. É um ruído de estática (shii).
CHARUTINHO CONFORTÁVEL
Enrolar a criança que nem um charutinho conforta e tranquiliza o bebê, porque era nessa posição que o neném ficava na barriga da mamãe.