Rio - Os seis hospitais federais no Rio (Andaraí, Bonsucesso, Cardoso Fontes, Ipanema, Lagoa e Servidores do Estado) estão definhando, com o fechamento gradativo de importantes setores de atendimento à população, e correm até o risco de fechar as portas de algumas emergências e serviços especializados nos próximos meses. O alerta é do presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj), Nelson Nahon, que se reunirá com diretores das unidades a fim de encontrar soluções.
“Esses hospitais, assim como alguns institutos, como o Inca (do Câncer), Into (de Traumatologia) e INC (de Cardiologia), além do Hospital do Fundão, estão agonizando. Há redução de recursos, diminuição de equipes médicas e de outros profissionais, falta de medicamentos, inclusive quimioterápicos, leitos, e insumos básicos. Só o INC reduziu sua capacidade de transplante de coração e pesquisas com células-tronco em 30%. E não há soluções concretas por parte do ministro da Saúde, Ricardo Barros. Trata-se de uma tragédia anunciada”, criticou Nahon.
Referência nacional, o Centro de Queimados do Hospital do Andaraí corre risco de acabar até o final do ano, segundo o Cremerj. Os 28 médicos que ocupam cargos de chefia na unidade assinaram carta manifestando a intenção de deixar os cargos de coordenação, “por falta de compromisso da diretoria.” Temendo o fechamento de mais setores, como os Departamentos de Cardiologia e Pneumologia da unidade, funcionários protestam. Ontem, servidores do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) penduraram faixa, alertando para o possível fechamento da Emergência, que há cinco meses funciona em contêineres, por conta de uma obra emperrada.
“Enquando isso, sofremos em dobro”, desabafou Marcos Costa, de 35 anos, que, com um dos joelhos com suspeita de fratura, aguardava um ortopedista desde 12h até o início da noite na emergência do HFB. “Só consequi internação pro meu irmão porque ele chegou desmaiado”, contou Márcia Costa, 36. Jeferson Nascimento, 36, foi visitar o pai, internado no fim de semana, embora esteja aguardando tratamento quimioterápico para câncer na bexiga há dois meses. Regina Limal, 65, se disse perplexa ao visitar um parente: “Só tem um banheiro para visitantes e pacientes. Não há sequer sabão e os doentes são atendidos em cadeiras no corredor”.
Em nota, a assessoria do ministro negou que esteja sendo omisso e garantindo que há medicamentos nas unidades apontadas pelo Cremerj, em relatório entregue dia 17. No dia em que recebeu relatório, de mil páginas, resultado de vistorias do Cremerj, Barros atribuiu a crise a uma suposta “ineficiência” administrativa. Alega que desde 2016 o MS também repassou ao estado, para procedimentos de média e alta complexidade, R$ 3,9 bilhões, e ao município, R$ 1 bilhão.
Ministério nega queda no atendimento
O Departamento de Gestão Hospitalar do Ministério da Saúde no Rio (DGH), que coordena os seis hospitais federais, informou em nota que iniciou processo de especialização das unidades, com a consultoria do Hospital Sírio-Libanês (SP), a fim de “redefinir, em 60 dias, perfis assistenciais, otimização de serviços e eliminação de carências específicas”.
“O DGH reitera que nenhum pedido de entrega de cargo das chefias dos serviços médicos do Hospital Federal do Andaraí foi formalizado, e que todos os profissionais continuam atendendo normalmente”, ressaltou o texto, garantindo que o estoque de medicamentos do hospital está abastecido, e que o DGH está empenhado em garantir a manutenção das atividades na unidade. “Somente no primeiro trimestre de 2017, o HFB teve aumento de 31% nas consultas gerais e quase 10% nas cirurgias e emergências”, destaca.
A direção do Into, ainda conforme a nota, negou falta de medicamentos e existência de equipamentos quebrados. Quanto ao INC, a direção argumentou que não houve redução de sua capacidade e que este ano quatro transplantes já foram feitos.“Além disso, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, adicionou o relatório recebido do Cremerj ao processo que o MS está levantando sobre as necessidades alegadas”.
Com o estagiário Matheus Ambrósio, sob supervisão de Francisco Edson Alves