Rio - Os que não acreditam em amor à primeira vista terão uma séria discussão com o cabeleireiro Emerson Costa, de 39 anos. Entre todas as 1,8 mil pessoas que passam, em média, pela estação do BRT Transcarioca Rio 2 em dias de fim de semana, quem estava na mesma fila para o ônibus naquele Sábado de Aleluia de 2015 era nada mais do que sua futura mulher: a advogada Daniela Moratelli, 34. Dois anos depois, o casal voltou ao lugar onde a história de amor começou para um ensaio fotográfico que arrancou olhares curiosos dos passageiros do transporte neste domingo.
A ideia inusitada surgiu com o objetivo de eternizar o momento em que o Cupido agiu. “Um dia antes (de conhecê-la), eu já tinha pedido a Deus alguém que crescesse junto comigo. Quando olhei para ela, meu coração disparou. Fiquei trêmulo. Não sei explicar o que aconteceu”, contou o noivo.
A flecha talvez tenha passado de raspão por Daniela — inicialmente, a advogada ficou com o pé atrás. Eles se sentaram perto um do outro no ônibus, mas só depois de muita insistência, ela deu o número de seu telefone. “Ele ficou se aproximando e eu fazendo a difícil. Eu estava no celular e ele puxou assunto dizendo que WhatsApp vicia. Eu falei: e? Só me animei quando ele começou a falar de cabelo. Como ele é cabeleireiro, eu queria fazer umas mechas”, brincou.
O primeiro encontro também foi no BRT — os dois marcaram em frente à estação Merck. O casal foi a um restaurante japonês, mas como Daniela é alérgica a frutos do mar, Emerson teve que comer tudo sozinho. Mas a relação engatou e, entre indas e vindas de ônibus, os dois começaram a morar juntos e vão celebrar a união no dia 17 de julho. A vaquinha está sendo feita para garantir a lua de mel. A noiva pede para avisar, que quem quiser participar pode acessar mecasei.com/danyeemerson.
No Terminal Alvorada, onde também teve foto e troca de roupa, quem descia do BRT observava a equipe do ensaio com estranheza. Alguns riam e outros falavam que nunca fariam algo assim. Uma funcionária da limpeza parou para admirar: “Achei romântico. Até faria algo do tipo, mas é difícil o homem topar”. Daniela comemorou: “Queríamos mesmo causar esse frisson”.
O amigo de infância da noiva e fotógrafo, Paulo Martins, 36, nunca tinha recebido proposta de ensaio pré-casamento parecida. “É uma ideia muito inusitada, mas logo embarquei. Eles são casal muito diferentão, combinam em tudo”, disse.
A mãe da noiva, a aposentada Nilza Souza, 67, confessou que não teria coragem de fazer fotos do tipo. Mas pegou o BRT para prestigiar a filha e o genro. “Era o sonho dela fazer ensaio que refletisse a história dos dois. Será surpresa para a família toda”, contou.
Entre os cliques, Emerson mantinha a noiva hidratada e ajeitava seu vestido. Daniela não desgrudava do amado. Os dois não têm problema em demonstrar amor em qualquer lugar — até no BRT. “Às vezes ele fala: posso gritar aqui que eu te amo? E ele grita mesmo! Ele é romântico”, riu.
Depois de três anos, coragem para se declarar
Há três anos, o paisagista Levi Raimundo da Silva, 67, teve uma visão no Terminal Alvorada do BRT: vai a caixa de supermercado Beatriz, 52, na fila do corredor Transoeste para Mato Alto. Por muito tempo, a paixão continuou platônica. Devido ao grande fluxo de pessoas nos veículos, ele não conseguia se sentar ao lado de seu objeto de afeição.
Há dois meses, o destino, ou o padroeiro dos amores no transporte público, uniu os dois. “Eu logo disse para ela: tem dois anos que eu queria sentar do seu lado. E fomos conversando até Mato Alto. E só conversa certa, nenhuma conversa errada. De tanta conversa, começamos a namorar”, disse ele.
Agora, Levi diz já estar “estudando” o próximo passo: o casamento. Para isso, diz ele, ainda falta os dois se conhecerem melhor. Por exemplo, o paisagista não sabe o sobrenome da amada. “Não sei o que ela viu em mim”, confessou ele, mas não deixou por menos: “Mas eu estou bem conservado, não bebo nem fumo. Ninguém me dá 67 anos”. Mas o que chamou a atenção do apaixonado pela primeira vez? “Ela tinha 1,45 m, bem da minha altura. Ela é no esquema”, brincou ele.
Reportagem da estagiária Alessandra Monnerat, com supervisão de Max Leone