Rii - A morte de um bebê de um ano e seis meses na quarta-feira, causada por suposta omissão de socorro por parte de uma médica, causou comoção e revolta no Rio. De acordo com parentes, Breno Rodrigues Duarte da Silva, enterrado ontem, morreu após se engasgar com vômito, enquanto aguardava em casa, na Barra da Tijuca, uma segunda ambulância do serviço de emergência em domicílio de uma empresa terceirizada da Unimed.
Isso porque uma hora e meia antes, a médica Haydee Marques da Silva, de 59 anos, segundo testemunhas, teria se recusado a levá-la para um hospital na primeira ambulância solicitada pela família. Em 2010, conforme registro que O DIA teve acesso, na 26ª DP (Todos os Santos), a mesma médica foi denunciada por suposta agressão a uma paciente, que queria fazer uma tomografia computadorizada na cabeça.
O pedido foi negado pela profissional, dando sequência a discussão e agressões físicas dentro do Hospital Memorial Engenho de Dentro. O caso foi parar na Justiça, mas acabou extinto por ser lesão corporal leve, que inclusive a acusada não cumpriu.
A denúncia, de lesão corporal leve, com pena de seis meses ,foi feita somente em fevereiro de 2013. Em outubro de 2014, a defesa de Haydee propos uma transação penal, que foi o pagamento de uma cesta básica no valor de R$ 500,40, que nunca chegou à associação que deveria ser destinada. Com isso, a punibilidade acabou extinta em junho do ano passado.
Na quarta-feira, segundo a mãe de Breno, Rhuana Lopes Rodrigues, de 28 anos, o menino, que sofria de “epilepsia de difícil controle”, conforme consta no boletim de ocorrência da 16ª DP (Barra da Tijuca), passava mal desde a madrugada, por conta de uma gastroenterite. A médica que cuida dele indicou a internação.
“Durante a madrugada ele piorou, tinha dificuldade de respirar. O home care solicitou ambulância da Cuidar Emergências Médicas às 8h20 e às 9h10 já estava na porta do meu condomínio. O porteiro avisou que tinha chegado, mas a médica não subia. Depois, ele ligou e disse que a doutora tinha ido embora. O porteiro disse que ela esbravejava ao telefone e estava nervosa. Aí ela rasgou os papéis que pareciam ser a solicitação do atendimento e disse que tinha acabado o plantão e que não era pediatra”, contou Rhuana. A narrativa foi confirmada pelas câmeras do prédio. Quando a segunda ambulância chegou, às 11h, o menino já estava morto.
Breno nasceu com problemas neurológicos e desde que deixou o hospital, em julho de 2016, recebia atendimento em casa no sistema home care. Rhuana deixou a vida de empresária e passou a se dedicar só ao filho.
“Ele tinha uma hora e meia para chegar ao hospital. Se ela (Haydee) o tivesse levado, ele estaria vivo?”, questionava, acrescentando que o filho estava fazendo uso de medicamentos alternativos, como um à base de canabidiol. O Conselho Regional de Medicina do Rio abriu uma sindicância para apurar o caso.
Denunciada por agressão
No dia 25 de setembro de 2010, a analista de sistemas Débora Andrade Silva registrou queixa contra Haydee na 26ª DP (Todos os Santos), acusando-a de mau atendimento e suposta agressão física. Naquele dia, segundo o boletim de ocorrência, Débora, acompanhada do noivo, Dênis Oliveira, discutiu com a médica, depois de ela se recusar, no Hospital Memorial do Engenho de Dentro, a encaminhá-la para um exame de tomografia.
No registro, Débora narrou que dois dias antes caiu de uma escada e bateu forte com a cabeça. A médica, após examinar a paciente, não viu necessidade de encaminhá-la para tomografia e que Haydee teria orientado a comunicante a dirigir-se à recepção para cancelar o atendimento. Irritada, Débora rasgou o a ficha de atendimento do plano de saúde Memorial, dizendo que a médica também não receberia pelo “mau atendimento”.
Haydee, chamando-a de “perua e piranha”, tentou pegar a ficha rasgada das mãos de Débora, o que a deixou com arranhões no braço e no peito. Haydee não foi encontrada pelo DIA para comentar as acusações.