Rio - A relação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e moradores de Volta Redonda, no Sul Fluminense, que já não era boa desde a privatização da empresa, em 1993, azedou de vez. A polêmica mais recente é a reintegração de posse, no dia 6, determinada pela 6ª Vara Cível de Volta Redonda, em favor da Siderúrgica, da área de lazer conhecida como Ressaquinha, usada e administrada como lazer pela comunidade do bairro Barreira Cravo há mais de 30 anos.
A companhia interditou, gradeou e colocou placas alertando que os campos de futebol society e suas sedes, que eram usados por centenas de criança, adultos e grupos da terceira idade, são de sua propriedade e que a entrada de moradores está proibida.
“Estamos chocados com a falta de sensibilidade da empresa. Além dessas atividades esportivas que envolviam famílias inteiras, afastando, inclusive, os mais jovens do mundo das drogas, nesses espaços eram promovidos eventos beneficentes para ajuda de necessitados. Essa propriedade não deixará a CSN mais rica, mas deixará um vazio, famílias órfãs de um dos raros espaço de lazer que a cidade ainda tinha”, desabafou João Nolasco, em nome dos frequentadores do local.
A diretoria do Ressaquinha Esporte e Lazer declarou que foi surpreendida pelo mandado de reintegração de posse. O diretor de Esporte, Luiz Sérgio Paiva da Rocha, ressaltou que o local era para uso da sociedade em geral. “O fechamento do Ressaquinha prejudica a população em geral e também todo o comércio existente nas suas imediações”, argumentou.
A atitude da direção do grupo CSN, está provocando reações sociais no município. Para a próxima semana estão previstos uma série de protestos e uma “visita solidária” de integrantes da Comissão Ambiental Sul e do Movimento Ética na Política (MEP). “A comunidade ainda está tentando entender a atitude da CSN, que tinha até iniciado um bom entendimento com os moradores, através do ex-diretor de Siderurgia, Márcio Lins (que se aposentou recentemente)”, lamentou José Maria da Silva, um dos representantes das duas entidades.
O assunto foi parar até na Câmara dos Deputados, em Brasília. O deputado federal Deley de oliveira (PTB) usou a tribuna do para criticar o fechamento do Ressaquinha. “Lamentamos muito que mais uma vez tenhamos de assistir um efeito triste da privatização, não de uma empresa, mas de cidade. Vamos trabalhar e torcer para impedir que o Ressaquinha não se torne mais um terreno abandonado, como outros da CSN no município”, criticou Deley.
O processo da CSN contra o Ressaquinha corria desde o início da década passada e em abril de 2016 o juiz Andre Aiex já havia determinado o despejo em favor da empresa. Na época, o Ressaquinha recorreu ao Tribunal de Justiça, mas o relator desembargador Ricardo Couto de Castro indeferiu o pedido de efeito suspensivo. Integrantes do Ministério Público e do governo municipal estariam tentando intermediar soluções, inclusive com a possibilidade de um acordo para o pagamento de aluguel da área.
A diretoria da CSN, que ainda não se pronunciou oficialmente sobre o assunto, teria depositado R$ 85 mil judicialmente para quitar obras feitas pelos associados do Ressaquinha no local, ao longo dos últimos anos. A diretoria do Ressaquinha informou que pelo menos 800 moradores do bairro Barreira Cravo, onde a área de lazer está localizada, na Avenida Artur Luiz Correa, estão sendo prejudicadas com a retomada do imóvel pela CSN.
BRIGA ANTIGA COM A COMUNIDADE
A companhia já havia adotado a mesma postura, de impedir o acesso público a outros espaços que eram utilizados para lazer, recreação e esporte pelos volta-redondenses, como a Fazenda Santa Cecília, Aero Clube, e vários campos de futebol, entre eles o do bairro Rústico.
“O pior é que a empresa fecha o acesso aos moradores e não faz absolutamente nada com as áreas. Cerca tudo com arames farpados, porteiras, coloca um banheiro químico e um abrigo precário para seguranças tomarem conta, e não utiliza os espaços para nada que oferte benefícios sociais para as comunidades”, lamenta o aposentado Lindoval Vargas da Luz, 60, morador do Aero.
A população trava uma batalha, até agora vencidas pela CSN nos tribunais, desde a década de 1990, reivindicando a maior parte de 147 áreas de terras, além de imóveis. Eles foram desapropriados em favor da Usina Presidente Vargas para a construção da cidade em 1941 e acabaram incorporados à empresa na privatização.