Rio - Dados do Conselho Nacional do Ministério Público obtidos pelo DIA apontam, em números, o que é possível observar pelas ruas do Rio, onde se vê pouco patrulhamento em meio a um cenário de crescimento vertical da criminalidade e de sensação de insegurança. Atualmente, o efetivo de policiais militares no estado está 40% abaixo do ideal.
A conclusão foi feita a partir do relatório das inspeções realizadas em maio por promotores nas 39 unidades responsáveis pelo policiamento em bairros e municípios. Hoje, há 21.516 PMs nos batalhões. O Quadro de Distribuição de Efetivo (QDE), diretriz da própria corporação que leva em conta o número de habitantes e a mancha criminal, afirma que o ideal seria um total de 36.206 agentes para oferecer um patrulhamento eficiente.
Para piorar a situação,nos últimos seis meses a PM perdeu 325 policiais. Entre as causas para a redução de efetivo estão os agentes feridos, licenciados, aposentados e mortos. Somente este ano 81 policiais militares foram assassinados.
Dos 39 batalhões, 35 estão com déficit no número de policiais. Duque de Caxias, Méier, Tijuca, Rocha Miranda e Irajá são as cinco unidades com a maior disparidade entre o QDE e o contigente existente em seus quadros — todas as áreas tiveram aumento nas taxas de criminalidade. A cidade de Caxias, por exemplo, teve o segundo maior índice de mortes violentas no primeiro trimestre deste ano, com 845 casos, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). O município deveria ter 1.690 policiais, mas possui 781 no seu efetivo, ou seja, menos 909 agentes. Entre os seus policiais, 485 realizam patrulhamento, divididos em escalas.
Para o major Ivan Blaz, porta-voz da corporação, o número deficitário de policiais explica o aumento da criminalidade. “A perda de efetivo, compromete o policiamento na rua e coloca em jogo justamente o policiamento preventivo. Ao constatar o número menor de policiais, o criminoso arrisca uma ação. A polícia é acionada quando o crime já está acontecendo. Em resumo: aumenta o número de confrontos e o número de policiais e civis feridos. Isso se reflete na letalidade violenta”.
O comandante do 15º BPM (Caxias), coronel Sérgio Porto, não comentou a falta de efetivo. Mas confirmou dados que apontam a ação policial frente ao crime já realizado. “Neste ano, somos o batalhão da Baixada com o maior número de apreensões de fuzis. Também temos números expressivos em prisões, apreensões de armas de pequeno calibre, de motos e de drogas”.
A população sofre as consequências. “Vim ao Rio em 2013 e havia policiamento. Agora, a cidade mudou. Não estou vendo policiais na rua”, lamenta o paulista Erick Colombo, 27 anos, engenheiro, que estava no Rio ontem. “Fui assaltada no Arpoador, às 10h, com uma amiga francesa. O menino puxou meu cordão. Gritei e... ninguém...nenhum policial. Fiquei com vergonha da estrangeira”, conta Carolina Bastos, 31 anos, administradora. Ela evita passar na Autoestrada Lagoa-Barra à noite e na Linha Amarela devido à falta de policiamento na via. Morador de Irajá, o aposentado Ivo Santos, 70 anos, diz que é raro ver policial perto de sua casa.
Nem todas as unidades possuem um efetivo menor do que o ideal. Campos de Goytacazes tem um excedente de 355 agentes em relação ao seu QDE. Outras duas unidades possuem mais agentes, mas não chegam nem perto do índice de Campos. Nova Friburgo tem dois policiais a mais e, Cabo Frio, 12. Macaé tem o número ideal.
Em maio, o comandante-geral da corporação, coronel Wolney Dias, determinou a transferência de 40 PMs da unidade de Campos para reforçar o Rio. No entanto, a Justiça determinou o retorno dos agentes. A crise financeira agrava a situação. O governador Luiz Fernando Pezão disse que tem 4 mil policiais para serem admitidos, mas falta verba. Como O DIA já mostrou, o corte do Regime Adicional de Serviço (RAS) tirou das ruas 500 PMs por dia e, em 2016, 1.841 saíram.
O POVO FALA
“Mudei hábitos por falta de segurança. Não pego a Autoestrada Lagoa-Barra à noite. Nem pego mais a Linha Amarela. Não tem policiamento”
Carolina Bastos, administradora, 31 anos,mora na Barra
“Me privo de sair de casa, pois, quando estou na rua, não vejo policiais. Já fui assaltada. Minhas filhas toda hora têm os celulares roubados”
Elisabete Sicupira, 64 anos, psicopedagoga, de Ipanema
“Dois garotos apontaram as armas e roubaram meu HB20. A polícia
não pode estar concentrada em apenas um lugar. Tem que circular
Lázaro Ramos, 70 anos, policial militar aposentado