Rio - O tenente Marcos Luiz, subcomandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Camarista Méier, relatou em depoimento não ter feito nenhum disparo contra a casa onde a menina Vanessa dos Santos, 10 anos, foi atingida na cabeça na tarde desta terça-feira. A informação é da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), que divulgou o teor do depoimento do oficial na noite desta quarta.
Vanessa estava na porta de casa, na localidade Boca do Mato, quando foi baleada. Ela chegou a ser encaminhada ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu. A vítima é a 37ª criança morta pela violência desde 2007.
Segundo o oficial, que portava apenas um fuzil no momento da ação, ele e sua equipe foram alvos de disparos de criminosos que estavam na parta alta da comunidade, mas não revidaram. Ao tentarem localizar os bandidos, o tenente foi alertado por uma moradora sobre uma movimentação suspeita próximo à casa.
Ao tentar entrar na residência, Marcos Luiz foi atingido por três disparos de pistola no colete vindos de dentro da casa. Ao se virar para proteger duas mulheres que estavam do lado de fora, o policial foi atingido por outros dois tiros nas costas, também de pistola, sendo um no ombro e outro também no colete.
O tenente ressaltou que não viu a menina nem o suspeito em nenhum momento do ataque. Ainda segundo ele, as mulheres se identificaram como parentes de Vanessa. Elas seriam Regineide de Souza, a madrinha que socorreu a criança e Maria do Socorro, a avó da menina.
O subcomandante foi socorrido por sua equipe para o Hospital Naval Marcílio Dias. Houve confronto durante o resgate. Em seguida, uma segunda equipe tomou conhecimento de que Vanessa também havia sido atingida.
A Delegacia de Homicídios (DH) investiga o caso e todos os policiais também estão sendo ouvidos pela 8ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM).
Secretário determina que PM reveja procedimentos
O secretário de Segurança, Roberto Sá, determinou, nesta quarta-feira que as polícias do Estado revejam procedimentos, aperfeiçoando suas normas internas sobre operações tanto planejadas quanto emergenciais. Segundo ele, "a preservação da vida e da dignidade humana, bem como a valorização profissional e a ação qualificada, são parte do planejamento estratégico da Secretaria de Segurança. E isso foi ressaltado por mim na minha posse, bem como repassado aos dirigentes das duas polícias como diretriz máxima."
Após a morte da menina Maria Eduada, em março deste ano, o secretário determinou ao comando da Polícia Militar a realização de um estudo de caso, para verificar as falhas na ação e aperfeiçoar normas e protocolos de operações policiais, adotando critérios mais rígidos de controle e autorização.
Sá pediu a criaçao de grupo de trabalho no âmbito da Seseg que irá atualizar, no prazo de 30 dias, os atos normativos relacionados ao tema, incluindo a letalidade que vitima o policial. Roberto Sá estabeleceu que seja enviado, mensalmente à Seseg, um relatório gerencial e outro com informações detalhadas sobre disparos de armas de fogo por unidade operacional.
"É preciso deixar claro que a nossa política de segurança nunca foi a do confronto. A realidade, infelizmente, é que a polícia do Rio apreende oito mil armas de fogo por ano, aproximadamente 24 armas de fogo por dia, um fuzil por dia. Uma política nacional de segurança eficaz passa prioritariamente pelo combate ao uso, comércio ilegal e o tráfico de arma de fogo de uso restrito, principalmente os fuzis", disse o secretário.