Por gabriela.mattos

Rio - Para a maioria dos moradores de favelas com UPPs, a implantação das unidades não modificou em nada o seu cotidiano. Foi o que constatou a pesquisa “UPP: Última Chamada”, divulgada ontem pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes. Ao serem indagados sobre pontos positivos e negativos da ocupação, entre 55% e 68% responderam que a presença da UPP é indiferente. Mais de dois terços concordaram com as afirmativas que “a UPP foi uma maquiagem” (68%) e que é “um projeto falido” (66,1%).

Apesar disso, quase 60% dos moradores das comunidades preferem que as UPPs sejam mantidas, porém com modificações. Cerca de 79% afirmaram que a punição aos maus policiais ajudaria a melhorar o desempenho do projeto. Os pesquisadores perceberam um distanciamento do conceito de polícia de proximidade: 38% dos entrevistados disseram ter tomado conhecimento, nos últimos 12 meses antes da pesquisa, de situações em que policiais da UPP xingaram ou humilharam moradores.

Maioria nas favelas do Rio quer permanência de UPPs, mas com mudançasSeverino Silva / Agência O Dia

Justamente os dois aspectos que a “pacificação” prometia melhorar foram mencionados como os piores problemas de se morar em favelas: falta de infraestrutura e serviços (40%), seguida de violência, insegurança, confrontos e tiroteios (32%).

“Durante muito tempo a avaliação sobre o sucesso das UPPs se concentrou no controle dos territórios, redução da violência letal e diminuição dos tiroteios, deixando em segundo plano a necessária reforma institucional da polícia”, avaliou uma das coordenadoras da pesquisa, Leonarda Musumeci. Segundo ela, figuram entre as necessidades o aprofundamento da ideia de polícia de proximidade — em contraponto à lógica bélica — e a consideração dos moradores como atores e interlocutores das políticas públicas.

Foram identificadas supostas desigualdades entre UPPs em distintas regiões: moradores da Zona Sul e do Centro são os que mais afirmam que a UPP trouxe benefícios (48%) e os da Zona Oeste, os que menos acreditam nisso (23%). Os da Zona Oeste acham que a UPP trouxe problemas em proporção maior do que os do Centro e Z. Sul (45% contra 18%).

Pessoas que sofreram abordagens ou tiveram a casa revistada nos últimos 12 meses apontam malefícios em proporções superiores às que não passaram por tais experiências. “Os resultados da pesquisa parecem refletir a costumeira desigualdade de tratamento do poder público às regiões mais ricas e mais pobres do município”, acrescentou Musumeci. Foram consultadas 2.479 pessoas de 16 anos ou mais, que vivem em comunidades com UPPs, entre 8 de agosto e 25 de outubro de 2016.


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