Rio - Para a maioria dos moradores de favelas com UPPs, a implantação das unidades não modificou em nada o seu cotidiano. Foi o que constatou a pesquisa “UPP: Última Chamada”, divulgada ontem pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes. Ao serem indagados sobre pontos positivos e negativos da ocupação, entre 55% e 68% responderam que a presença da UPP é indiferente. Mais de dois terços concordaram com as afirmativas que “a UPP foi uma maquiagem” (68%) e que é “um projeto falido” (66,1%).
Apesar disso, quase 60% dos moradores das comunidades preferem que as UPPs sejam mantidas, porém com modificações. Cerca de 79% afirmaram que a punição aos maus policiais ajudaria a melhorar o desempenho do projeto. Os pesquisadores perceberam um distanciamento do conceito de polícia de proximidade: 38% dos entrevistados disseram ter tomado conhecimento, nos últimos 12 meses antes da pesquisa, de situações em que policiais da UPP xingaram ou humilharam moradores.
Justamente os dois aspectos que a “pacificação” prometia melhorar foram mencionados como os piores problemas de se morar em favelas: falta de infraestrutura e serviços (40%), seguida de violência, insegurança, confrontos e tiroteios (32%).
“Durante muito tempo a avaliação sobre o sucesso das UPPs se concentrou no controle dos territórios, redução da violência letal e diminuição dos tiroteios, deixando em segundo plano a necessária reforma institucional da polícia”, avaliou uma das coordenadoras da pesquisa, Leonarda Musumeci. Segundo ela, figuram entre as necessidades o aprofundamento da ideia de polícia de proximidade — em contraponto à lógica bélica — e a consideração dos moradores como atores e interlocutores das políticas públicas.
Foram identificadas supostas desigualdades entre UPPs em distintas regiões: moradores da Zona Sul e do Centro são os que mais afirmam que a UPP trouxe benefícios (48%) e os da Zona Oeste, os que menos acreditam nisso (23%). Os da Zona Oeste acham que a UPP trouxe problemas em proporção maior do que os do Centro e Z. Sul (45% contra 18%).
Pessoas que sofreram abordagens ou tiveram a casa revistada nos últimos 12 meses apontam malefícios em proporções superiores às que não passaram por tais experiências. “Os resultados da pesquisa parecem refletir a costumeira desigualdade de tratamento do poder público às regiões mais ricas e mais pobres do município”, acrescentou Musumeci. Foram consultadas 2.479 pessoas de 16 anos ou mais, que vivem em comunidades com UPPs, entre 8 de agosto e 25 de outubro de 2016.