Rio - A onda de ataques a terreiros de religiões de matriz afro-brasileira no estado, especialmente na Capital e Baixada Fluminense, vai antecipar a criação da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) para as próximas semanas. A previsão inicial era daqui a pelo menos três meses. A informação é do deputado estadual Átila Nunes (PMDB), que se reuniu ontem com o secretário estadual de Segurança Pública, Roberto Sá, e o Secretário de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos, Átila Alexandre Nunes, para tratar do assunto.
Ontem também, a secretaria e a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa receberam mais dois vídeos que mostram ataques a terreiros. Em um deles, supostos traficantes obrigam um sacerdote a vestir uma camisa com o rosto de Jesus Cristo e a arrebentar e inutilizar guias, conhecidas também como cordões de santos, que restaram de um altar totalmente destruído.
Um suposto traficante exibe um porrete com a inscrição "diálogo" e faz ameaças ao sacerdote. "É só um diálogo. Da próxima vez eu mato. Safadeza, pilantragem. Que bandeira branca é essa? Bandeira aqui é do TCP (sigla da facção criminosa), p*, ou de Jesus Cristo", brada o homem. A denúncia de que traficantes estariam por trás da onda de ataques foi revelada pelo DIA.
Já no segundo vídeo, os suspeitos também obrigam uma sacerdotista a destruir o próprio templo de oração, que seria no Morro do Dendê, na Ilha do Governador. Nas imagens, o suposto traficante manda a mulher destruir tudo.
"O 'capeta chefe' tá aqui, quebra tudo. O sangue de Jesus tem poder. Todo mal tem que ser destruído em nome de Jesus. Quebra tudo, o do canto também. Desvenda esse mistério que está embaixo dessa saia. Quebra! Arrebenta esse demônio que está aí", ameaça no vídeo.
No encontro, ficou definido que as vítimas terão atendimento diferenciado na Decradi, incluindo auxílio jurídico, psicológico e social. O mais cotado para a nova unidade é o delegado Orlando Zaccone, segundo o deputado Carlos Minc.
"A liberdade religiosa está sendo ameaçada por traficantes travestidos de evangélicos. Segundo os dados do Disque 100, entre os anos 2011 e 2015 foram registrados 131 casos de intolerância. Precisamos nos unir e também caminharmos juntos em nome das humanidades, pluralidades e tolerâncias. Não podemos deixar que o ódio, arraigado pela intolerância, cresça em nossos corações. Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, origem e religião. Se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar", destacou Ivanir dos Santos, da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, em entrevista ao ?DIA?.