Rio - Quem usa a bicicleta como meio de transporte já pode contar com 450 km de ciclovias em todas as zonas da cidade, mas os ciclistas querem mais. E vão ganhar. A Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente (Seconserma) do Rio promete expansão, ainda neste ano, com mais 3,2 kms de ciclovias em Sepetiba e a ampliação em 3,5 kms da faixa do Recreio. O aumento da ciclovia do Centro também está sendo estudado.
Além disso, o Plano Diretor Cicloviário, que vai avaliar a atual rede de ciclovias e identificar a demanda por novas rotas, está em fase de elaboração. O documento deve ser lançado em até um ano. A proposta vai ao encontro das demandas do casal Andrei Francalacci e Alessandra Menza, moradores de Laranjeiras e ciclistas habituais.
"Tem que ter mais conversa com quem usa bicicleta. Por exemplo, às vezes estamos na ciclovia e ela acaba de repente. Elas precisam ser interligadas. E sinto falta de um mapeamento das ciclovias para ajudar no planejamento", defendeu Andrei.
Outra preocupação do casal é a questão da segurança ao pedalar. "Antigamente minha esposa insistia que eu fosse trabalhar de bicicleta, hoje insiste que eu não vá", disse Andrei. "Eu gostaria de ter uma bike mais leve, que seria mais cara, mas por medo de assaltos não tenho coragem, fico com um modelo básico. Tenho até amigos que pintam a bicicleta de laranja, para fingir que é a bicicleta alugada do Bike Rio", lamentou Alessandra.
Além da violência urbana, eles também relataram problemas com a segurança no trânsito, como a invasão das ciclofaixas por motociclistas e motoristas. Essa é uma infração recorrente, segundo a Guarda Municipal (GM). "Em 2016 aplicamos 820 multas por estacionamento irregular nestes locais. Em 2017 já foram aplicadas mais de 460 multas por essa irregularidade", informou a área técnica da GM, em nota.
Também é comum ver ciclistas ferindo as normas do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que determinam, por exemplo, a obrigatoriedade de refletores noturnos na bicicleta na frente, atrás, dos lados e nos pedais do veículo, uma campainha acoplada ao guidão e um espelho retrovisor do lado esquerdo, artigo raro entre os veículos vistos nas ruas.
Segundo a área técnica do Denatran, estão sendo realizados estudos para viabilizar a aplicação de multas e outras penalidades a infrações cometidas por ciclistas e pedestres, conforme previsto no CTB. As novas normas devem ser publicadas ainda neste ano. "Fazemos trabalhos constantes de orientação, pois no momento não há determinação de aplicação de multas a ciclistas infratores", apontou a nota da Guarda Municipal.
Entre as infrações previstas no CTB que poderão ser fiscalizadas mais de perto com a mudança, estão o transporte de cargas incompatíveis com a bicicleta, transporte de caronas sem garupa adequada e de crianças pequenas sem cadeirinha. O trânsito em calçadas e entre os carros, uso de fones de ouvido e telefones celulares também estão na mira, além das 'bandalhas', como deixar de sinalizar ao virar ou ultrapassar, trânsito na contramão e desrespeito aos sinais vermelhos.
Andrei e Alessandra concordam com a nova fiscalização. "São várias questões. Com o VLT e as ciclofaixas de mão dupla, por exemplo, as pessoas precisarão se habituar a olhar para os dois lados sempre. Ainda está no começo, mas está se criando uma cultura em torno disso. A cidade está mudando".
Em clima de melhoria da qualidade de vida dos ciclistas, o Rio de Janeiro receberá, no ano que vem, a Conferência Velo-City, um grande evento bienal internacional sobre mobilidade urbana sustentável. É a primeira vez que a programação virá a um país latino-americano. A última edição do evento foi realizada em Amsterdã, na Holanda. O tema principal da conferência será o 'Acesso à vida', com discussões sobre inclusão do ciclismo no aspecto da qualidade de vida e geração de economia viva.
Segundo a Seconserma, entre os dias 12 e 15 de junho de 2018 serão realizadas palestras e workshops para promover troca de experiências entre ciclistas do mundo todo e debater o uso da bicicleta. O evento é organizado pela Confederação de Ciclismo da Europa. Mais informações estão disponíveis no site oficial do evento, na página velo-city2018.rio.
Bike Rio terá novidades
Os usuários das bicicletas de aluguel do Bike Rio, as famosas 'laranjinhas', também podem esperar por uma luz no fim do túnel. Há meses enfrentando problemas, como o péssimo estado de conservação das magrelas e a falta de bikes nas estações, o autônomo Lucas Assunção, 22 anos, disse estar torcendo por melhorias, que devem chegar com a renovação da concessão, assinada pelo prefeito no último dia 27.
"Em algumas estações só encontro bikes com defeito, ou com problemas no encaixe da estação. Estou pagando a assinatura, espero que o serviço melhore em breve", declarou. Com a renovação, a Prefeitura do Rio receberá R$ 17,5 milhões à vista. O número de 2.600 bicicletas em 260 estações deverá ser mantido, mas com a estrutura renovada.
Segundo a Tembici, empresa que faz, desde maio, a gestão da concessão patrocinada pelo Banco Itaú, as reformas estão a caminho. A empresa promete bicicletas com design mais leve e ergonômico, cestos adaptáveis, pneus com aros reflexivos e tecnologia antifurto, além de marchas para três velocidades, freios mais seguros e outras atualizações.
Além disso, as estações ganharão baterias extras abastecidas por painéis solares e quiosques com interface para realizar o pagamento digital.
O aplicativo também deve melhorar e vai contar com recursos de planejamento no passeio. Também estão previstas facilidades nos meios de pagamento do aluguel, integração com o GPS do dispositivo para registrar as viagens e encontrar estações próximas, e a possibilidade de ver as vagas de cada estação para evitar surpresas desagradáveis ao tentar alugar ou devolver uma bicicleta.
*Reportagem da estagiária Nadedja Calado, sob supervisão de Maria Inez Magalhães