Por thiago.antunes

Rio - O que os cariocas têm visto na Praia da Macumba, no Recreio dos Bandeirantes, nas últimas semanas, com o mar avançando sobre o calçadão e ameaçando imóveis, já é rotina para quem vive em Sepetiba, às margens da baía, também na Zona Oeste, há dois anos. Moradores contam que a faixa de areia no local não existe mais e a água derrubou pelo menos três casas. As áreas mais afetadas são as praias da Brisa, do Cardo e da Dona Luísa.

A força das águas derrubou muros de pelo menos três casas em praias de Sepetiba. Segundo moradores%2C o avanço do mar começou há dois anos mas se agravou nos últimos mesesSeverino Silva / Agência O Dia

Nos últimos meses, segundo moradores, a situação se agravou e as autoridades não fizeram nada para evitar o problema. "As ondas já estão chegando até na porta das casas e até aqui nos quiosques. Isso piora quando chove e é tão assustador que parece que as residências vão cair. Já pedimos a Inea e prefeitura para que viessem aqui para ver o que pode ser feito. Mas ninguém responde", afirma Jorge Salviano Machado, coordenador grupo SOS Baía de Sepetiba.

O problema tem tirado o sono da população e também a clientela de muitos comerciantes. "Aqui está pior que a praia da Macumba. A maré está acabando com tudo. Sepetiba está abandonada. Lá no Recreio eles correm e ajeitam. E aqui?", lembra o vendedor Júlio Ribeiro, de 51 anos.

"Quando a maré enche aqui fica alagado. Quando eu cheguei aqui em Sepetiba, há três anos, a faixa de areia tinha uns 100 metros. Hoje, a maré, quando está forte, já chega até a rua. Os quiosques estão aqui só de enfeite. Nenhum banhista vem aqui", afirma Ana Lúcia Santos, 36.

As ondas formadas pelo vento são tão fortes que já estão fazendo com que parte falésia do Morro do Recôncavo desmorone e, com isso, sedimentos sejam levados ao mar. Na praia da Dona Luísa, é impossível caminhar sobre a areia. O que se vê no local são pedras que desceram do morro.

Francimar reclama da poluição nas águas da Baía de SepetibaSeverino Silva / Agência O Dia

Segundo David Zee, professor da Faculdade de Oceanografia da Uerj, o problema em Sepetiba é resultado do mesmo fenômeno meteorológico que causa a destruição na Praia da Macumba. Ele explica que o vento que sopra de sul para sudoeste entre a primavera e o verão e as três praias de Sepetiba estão na direção dessa corrente de ar e que, no outono e inverno, normalmente muda de sentido. Este ano, no entanto, essa alteração não ocorreu e as ondas continuaram atingindo as praias (mesmo aquela região sendo uma baía) de março a setembro, época em que essas praias deveriam recuperar areia.

Poluição da Baía

De acordo com o especialista, a tendência agora é de que o problema continue se agravando pois o vento deve continuar nessa direção até março de 2018 pelo menos. Zee acrescenta que a situação ainda é agravada pelo assoreamento dos rios que desaguam na área. "É preciso fazer a drenagem nos rios que desembocam no mar para evitar que a água fique empossada em alguns pontos das praias. Sepetiba está localizada em uma área baixa e por isso ocorre esse problema com maior frequência", conta o professor.

E não é só com o problema das erosões que a Baía de Sepetiba está sofrendo. Numa região com mais de 450 indústrias, as águas enfrentam enfrentam o problema da poluição. Moradores que frequentavam as praias do bairro dizem que é impossível colocar o pé no mar. "Dá uma pena de ver essa baía. Antigamente, nadávamos nessa água. Hoje o que encontramos são lixos e muita poluição. Não acredito que essa baía fique limpa um dia", lamentou a dona de casa Francimar Correia da Luz , de 51 anos.

A prefeitura informou que o calçadão da Praia de Sepetiba foi construído pelo Inea (Instituto Estadual do Ambiente), mas que, mesmo assim, a Rio-Águas (órgão municipal) vai enviar uma equipe amanhã (hoje) para vistoriar a questão relatada pelos moradores. Procurado, o Inea não respondeu até o fechamento desta edição.

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