Por thiago.antunes

Rio - O delegado José Mário Salomão Omena, titular da 45ª DP (Complexo do Alemão), foi convocado pela Corregedoria da Polícia Civil a prestar depoimento na próxima terça-feira. O policial terá que dar explicações sobre o motivo que o levou a pegar um helicóptero em um aeroporto do Rio e seguir junto do advogado Ricardo Gontijo Buzelin até a delegacia de Itatiaia (99ª DP), na divisa com São Paulo. A suspeita é de que ele tenha auxiliado o advogado na tentativa de liberar R$ 841 mil reais, em dinheiro vivo, encontrados em um carro por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

PRF apreendeu o dinheiro na DutraDivulgação

O dinheiro, segundo o depoimento dos homens que estavam no veículo, teria como destino uma empresa chinesa no porto de Itaguaí. A corregedoria quer explicações de Omena sobre o motivo de o policial estar ao lado do advogado e se de fato ele poderia estar lá naquele horário. Além disso, a corregedoria vai investigar se Omena é sócio-proprietário de uma empresa de segurança, em Piedade, na Zona Norte.

Tudo começou, na manhã da última quanta-feira, quando a PRF parou um Corsa Sedan, no KM 318 da BR 116, em operação de rotina. No veículo estava o motorista Jorge Bernardino da Silva, de 43 anos, e o passageiro o policial militar de São Paulo Pedro Henrique da Silva Costa, de 26. Ao revistarem o porta-malas do carro, os agentes descobriram uma caixa de papelão contendo vários maços de notas de R$ 100 e R$ 50.

O PM afirmou que havia R$ 200 mil que pertenciam a um chinês da Rua 25 de março, no Centro da capital paulista, e seriam para o pagamento de um carregamento que estaria em um contêiner em Itaguaí. Ainda de acordo com o militar, ele estava escoltando a remessa.

Durante os depoimentos dos dois na 99ª DP, um helicóptero da empresa Ultra Pilot Escola de Aviação Civil, da Barra da Tijuca, pousou ao lado da delegacia, com três pessoas: José Omena, Ricardo Buzelin e um piloto. No local, Buzelin apresentou-se como defensor da empresa FF Assessoria e Consultoria Empresarial Eireli, que, segundo ele, era a dona da quantia encontrada e não tinha ligação com chineses. O advogado apresentou nota fiscal no valor de R$ 855 mil reais. Porém, durante a contagem do dinheiro os policiais verificaram que havia R$ 841 mil. Devido à divergência, o dinheiro ficou retido e foi depositado, ontem, em conta judicial até que seja comprovada a origem.

Delegado será ouvido pela corregedoria para saber o que ele foi fazer em ItatiaiaReprodução TV Globo

Empresa de segurança em Piedade

A corregedoria apura também se Omena é um dos sócios da Destak Security, uma empresa de segurança que fica na Avenida Dom Helder Câmara, em Piedade. Como delegado, ele não poderia ser um dos donos dessa empresa por configurar conflito de interesses.

O Departamento Geral de Polícia da Civil (DGPC) informou que "vai apurar também essas informações, dentro do procedimento instaurado (sobre a ida a Itatiaia)". O DIA tentou entrar em contato com o delegado, mas ele não atendeu as ligações. A Ultra Pilot Escola de Aviação Civil informou que só poderia se pronunciar na segunda-feira. A FF Assessoria e Consultoria Empresarial Eireli tem sede em São Paulo e ninguém atendeu as ligações. Os demais citados não foram localizados.

Morte em delegacia onde Omena comandava

Não é a primeira vez que o delegado José Omena tem o seu nome envolvido em um escândalo. Em 2004 quando ele era titular da 126ª DP (Cabo Frio) foi citado em um inquérito pelo Ministério Público — junto com outros quatro policiais — após o estudante Rômulo Batista de Melo, naquela época com 21 anos, morrer na delegacia. O jovem teria sido espancado na distrital. Durante o caso, o delegado informou que o rapaz"era acusado de ter roubado um carro em que ele estava". No entanto, o veículo era de um amigo.

Seis dias depois da prisão, Melo foi levado pela polícia para o Hospital Municipal Conde Modesto Leal, em Maricá, onde chegou em coma, com crise convulsiva e ferimentos na cabeça e em outras partes do corpo. O laudo cadavérico apontou que o estudante sofreu traumatismo craniencefálico e hemorragia intracraniana decorrentes de ação contundente (espancamento e ferimentos). O documento disse ainda que as lesões ocorreram no período de 24 horas que antecedeu a morte.

Em depoimento, os policiais disseram que o estudante bateu voluntariamente com a cabeça na cela. No entanto, à época a mãe do rapaz contou que o filho dizia estar sob ameaça de morte quando estava preso.

Durante a investigação do crime, a promotora de Justiça Isabela Padilha, titular da 1ª Promotoria de Justiça de Cabo Frio, denunciou o delegado José Omena e um oficial de cartório, por falsidade ideológica. Dois policiais civis também foram denunciados por crime de tortura, e tiveram a prisão preventiva pedida pela justiça. Um médico também foi indiciado por omissão de socorro, falsidade ideológica e falso testemunho.

Durante a apuração dos fatos, a Corregedoria da Polícia Civil informou que iria investigar a postura do delegado. Indagada pelo DIA, ontem, sobre o que foi apurado, Polícia Civil não respondeu sobre esse fato.

Colaborou Bruna Fantti

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