Rio - De janeiro a setembro deste ano, seis carros foram roubados por hora no estado do Rio. Com o aumento do delito, motoristas começaram a mudar os hábitos. A gastroenterologista Bárbara Lima (nome fictício), de 52 anos, moradora da Tijuca, seguia para o consultório na Rua Dias da Cruz, no Méier, no dia 19 de agosto. Seria mais um sábado normal de trabalho não fosse uma incômoda surpresa.
Ao decidir cortar caminho, entrou com seu Honda HR-V na pouco movimentada Rua Joaquina Rosa, uma transversal à Rua Lins de Vasconcelos. Foi quando avistou um Ford EcoSport vindo na direção contrária e fechou a passagem de Bárbara. Três homens armados desceram um deles com fuzil e renderam a médica. Ela só teve tempo de sair do carro, entregar seus pertences e ver o trio levar o veículo. Era seu primeiro carro automático, que foi aparecer após dois dias. Estava com vários amassados e sem diversos acessórios, quase que totalmente depenado. O seguro deu perda total.
"Desde, então, nem penso em comprar outro. Enquanto a situação da cidade estiver assim, não quero ter mais carro. Só tenho andado de táxi, os amarelinhos. Até mesmo Uber eu tenho medo, porque os ladrões também atacam, já que é um veículo como outro qualquer e sem identificação. É preocupante", avalia a médica.
Mudanças também começaram a fazer parte da rotina do administrador de empresas Thiago Soares, 35, que passou a acessar aplicativos e a página do Centro de Operações do Rio, antes de sair de casa, na Barra, para checar a situação do caminho ao trabalho, no Centro. "Mas, às vezes, não é suficiente. Eu e minha esposa passamos minutos antes de um tiroteio na Rocinha. Um amigo nosso trocou o carro por um blindado", conta.
A engenheira Ellen Paixão de 35 anos, foi alvo de dois arrastões em menos de um ano. Nas duas vezes, estava com a filha de 7 anos e conseguiu avisar aos bandidos que iria dar a volta para retirá-la do banco de trás. A última, em setembro, foi perto da Uerj, e a primeira, em Guadalupe. O carro foi recuperado nas duas vezes, mas com avarias. A rotina de Ellen mudou drasticamente após os ataques. "Depois das 20h, não saio mais de carro, uso o Uber. E evito prender minha filha na cadeirinha de bebê. Meu marido reclama, mas é instintivo, estou amedrontada. Busco uma maneira rápida de puxá-la em casos de um novo arrastão", confessa.
Mesquita e São Gonçalo lideram ranking
?De acordo com o Instituto de Segurança Pública, Mesquita e São Gonçalo são as áreas com mais roubos de carros. De janeiro a setembro, foram 4.541 registros na área do 20º Batalhão da PM (Mesquita) e 4.540, na do 7º BPM (São Gonçalo). Em seguida, vêm as regiões de abrangência do 9º BPM (Rocha Miranda), com 3.674 roubos registrados, e do 41º (Irajá), com 3.698.
O Batalhão de Irajá também é o que mais recupera veículos roubados, com 3.768. De acordo com PMs, um dos motivos é que muitos carros são roubados para outros delitos e abandonados em seguida.
Um levantamento realizado pela Federação Nacional de Seguros Gerais(FenSeg) aponta que, em 50% dos casos de roubos de veículos no Rio, os crimes são praticados para retirada de peças e venda no mercado ilegal.
O especialista em Segurança, Vinícius Cavalcante, dá dicas no volante. "Dirija sempre olhando bem à frente para observar se há roubos do tipo arrastão. Você pode ser atacado em qualquer lugar, mas veja quais são as regiões mais perigosas. Tenha em mente postos policiais e hospitais no seu caminho, case precise", disse Cavalcante.
Reportagem de Bruna Fantti, Luiz Almeida e do estagiário Matheus Ambrósio