Por gabriela.mattos

Rio - Os guardas municipais do Rio, Marco Antônio e Antônio Marcos do Carmo, de 50 anos, são gêmeos, e, no dia a dia, se envolvem em diversas situações inusitadas. Eles fazem parte de um tipo de população que está se multiplicando com rapidez. Só na última década, o aumento foi de 30% em parte de Região Sudeste. Mas quantos eles são no total, sobretudo no eixo Rio-São Paulo? É o que vai revelar pesquisa inédita no país, em fase de finalização pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). O objetivo é criar o Cadastro Nacional de Gêmeos para incentivar mais pesquisas de comportamento, entre outros aspectos psicológicos dessa população.

Os gêmeos Carmo e Marco escolheram até a mesma profissão%3A ambos são guardas municipais Márcio Mercante / Agência O Dia

Um estudo preliminar da USP já havia indicado que a incidência de gêmeos, só na cidade de São Paulo, tinha saltado de 10 em cada mil bebês trazidos à luz para 13 a cada mil nascidos, de 2003 a 2013. Segundo especialistas, o mesmo percentual pode ser aplicado a outros estados, especialmente o Rio, pela proximidade territorial.

A ginecologista e obstetra carioca Juliana Risso, 41, especializada em fertilidade, explica que a proliferação de partos múltiplos é uma tendência crescente. Ela mesma, por coincidência, casada com ortopedista Antônio Alves, da mesma idade, é mãe dos gêmeos Bernardo e Carlos Eduardo, de 6 anos, caçulas de Sara, de 8. Uma das hipóteses para justificar o 'boom' de partos gemelares é a modernidade.

Gêmeos de todo país se reúnem em encontro da USPDivulgação

"As mulheres hoje são mais independentes, com maior poder aquisitivo e formação profissional, postergando, com isso, a maternidade. Deixando para ser mães com idades mais avançadas e recorrem a técnicas de reproduções assistidas. Isso faz com que as chances de gestações gemelares aumentem".

Tânia Lucci, do Departamento de Psicologia Experimental da USP, é uma das auxiliares da professora Emma Otta, coordenadora da Painel USP de Gêmeos. "Temos várias fontes, como cartórios e internet, através do Painel USP de Gêmeos", disse Tânia. Gêmeos ou parentes podem enviar dados pelo site https://goo.gl/vyHLai. No primeiro estudo, constatou-se que quanto mais elevada a classe social, que dispõe de mais recursos para tratamentos, maior a chance de nascimentos de gêmeos.

Ginecologista e especialista em fertilidade%2C Juliana Risso%2C com o marido%2C teve gêmeosDivulgação

Um dos elementos que confirmou esta hipótese foi o alto percentual de gêmeos nascidos no Hospital Albert Einstein. Em dez anos, houve registro de 17 a 29 gêmeos em mil nascimentos, enquanto que nos hospitais públicos a taxa variou entre 7 a 11 por mil. Outro fator que chamou a atenção foi a idade materna. Mulheres com mais de 35 anos têm mais chances de gestação múltipla dizigótica, quando há formação do embrião a partir de dois óvulos e de dois espermas separados, o que pode resultar em casal de gêmeos. Já quando há maternidade em torno dos 24 anos, o número de gravidez monozigótica (bebês idênticos e do mesmo sexo) e dizigótica é relativamente igual.

Ana Cláudia e Ana Luiza Baylão estudam na mesma faculdade em Volta RedondaDivulgação

Irmãos colecionam histórias inusitadas

?Gêmeos sempre despertam curiosidade e colecionam histórias pitorescas, como é o caso dos guradas Marco Antônio e Antônio Marcos, há 25 anos na corporação. "Vivo levando tapões nas costas de colegas do Antônio, achando que eu sou ele", lembrou Marco, que, por sua vez, já ganhou até beijo de uma ex-namorada de Antônio, que se confundiu. "Já adverti motorista estacionado irregularmente, enquanto o meu irmão já tinha acabado de fazer isso, deixando o condutor confuso, achando que eu estava com memória fraca", contou Antônio.

Alunos de Medicina%2C Roberto e Renato Costa%2C só não dividem a mesma salaDivulgação

No estado do Rio, há gêmeos por todo canto. No Centro Universitário de Volta Redonda, no Sul Fluminense, dois pares deles, Roberto e Renato Costa Silva, 24, e Ana Luiza e Ana Cláudia Baylão, de 23, chamam a atenção, frequentando o mesmo curso de Medicina. "Às vezes, inexplicavelmente, a gente veste roupas iguais, sem combinar", frisou Ana. "Estamos sempre juntos, mas não estudamos na mesma sala", detalhou Renato. O mundo dos iguais ficou tão vasto, que em Rodilândia, em Nova Iguaçu, uma via foi batizada de Rua Gêmeos. No Rio Grande do Sul, Cândido Godoi virou objeto de estudo por ser a cidade com mais gêmeos do país. Lá, a cada dez pessoas, uma tem um irmão idêntico.

Para reunir ainda mais os gêmeos pelo Brasil, o Sindicato dos Gêmeos tem o site sindicatodosgemeos.com.br para promover encontros, projetos culturais, eventos, pesquisas e ações sociais. 

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