Rio - A investigação da morte de sete pessoas no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, ocorrida durante operação da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e Forças Armadas na madrugada de sábado, virou um jogo de empurra entre as autoridades envolvidas.
Sem ter o resultado do exame de balística das armas ou interrogar todos os envolvidos, o delegado Marcos Amin, da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, afirmou ontem que foram os militares do Exército que trocaram tiros com supostos criminosos. "Os agentes da Core não efetuaram disparos. Eles disseram que estavam fazendo levantamento para operações futuras. Houve confronto com o Exército", disse. Amin passou para o concurso de delegado em 2012. Antes, já era policial civil e tinha atuado dois anos na Core.
Só três policiais que participaram da ação prestaram depoimento. Afirmaram que não fizeram disparos, mas não acusaram militares. A conclusão foi do próprio delegado. Procurado novamente pela reportagem, afirmou que "estava proibido de dar novas declarações".
Já o Comando Militar do Leste (CML) disse que os militares negaram ter realizado os tiros. "Eles somente ouviram um tiroteio. E, ao lá chegarem, encontraram vários mortos ao longo da estrada, em uma extensão de um quilômetro", afirmou o coronel Roberto Itamar, porta-voz da corporação. Os 17 militares que estavam em um dos blindados prestaram depoimentos somente no CML que, por enquanto, resolveu não instaurar inquérito.
De acordo com o Ministério Público Estadual, apesar da lei sancionada em outubro que transferiu para a Justiça Militar a responsabilidade de julgar eventuais crimes cometidos por militares contra civis durante Garantias de Lei e Ordem, Amin pode colher depoimentos dos militares e até pedir exames de balística das armas. "Ele não pode é indiciar os militares ou investigar diretamente a conduta deles", afirmou o promotor Paulo Roberto Cunha, do Grupo de Atuação de Segurança Pública.
Ainda segundo Cunha, "cabe ao Ministério Público Militar avaliar a necessidade da instauração de Inquérito Policial Militar em relação aos militares". A procuradora Maria Lourdes Sanson, do Ministério Público Militar, afirmou que "acompanha o caso". Como O DIA antecipou ontem, o Ministério Público espera um relatório da Polícia Civil sobre a operação. No entanto, até a noite de ontem, o documento não havia sido enviado ao MP. Na operação, um fuzil, sete pistolas e drogas foram apreendidos.
Feridos
Os feridos continuam internados. Um deles foi baleado nas duas mãos, passou por uma cirurgia e deve ser operado novamente. Já outro foi atingido no queixo e seu estado de saúde é gravíssimo. Um rapaz que ficou ferido nas costas, está em situação estável.
Na manhã de ontem, cerca de cem pessoas fizeram uma manifestação contra as mortes. Com faixas e cartazes, os moradores da comunidade pediam Justiça e diziam que os mortos eram inocentes.
Fundo de segurança em análise
Os secretários estaduais de Segurança Pública querem a criação de um fundo nacional para financiar o combate ao crime. A proposta está entre as 12 sugestões apresentadas pelo Colégio Nacional de Secretários Estaduais de Segurança Pública (Consesp) ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, e ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ontem à tarde, no Rio.
O presidente do Consesp, Jeferson Portela, que é do Maranhão, defendeu a atualização da legislação. "Estamos diante de combate ineficaz à potência das atividades criminosas, que tem comando nacional", disse Portela. "Prendemos 14 fuzis novos, no Maranhão, na caixa. É importante termos fundo com fonte de financiamento definida".
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, reconheceu que a modernização e melhoria da leis é importante e que espera votar, ainda no primeiro semestre do ano que vem, as propostas que serão apresentadas. Sobre as mortes no Salgueiro, o secretário do Rio, Roberto Sá, disse que confia na investigação da Delegacia de Homicídios de São Gonçalo.