Rio - Explosões de agências bancárias têm se tornado cada vez mais frequentes no Rio e o prejuízo provocado por esse tipo de ação criminosa vai além do dinheiro que os bandidos conseguem roubar. Quando as quadrilhas vão embora, deixam para trás moradores da vizinhança completamente inseguros. Com medo das explosões e roubos, muitos vizinhos e comerciantes estão deixando casas e negócios que funcionam perto de bancos em várias partes da cidade. Foram 45 roubos a caixas eletrônicos ocorridos de janeiro a setembro deste ano no estado.
É o caso de algumas famílias do edifício Conde das Palmeiras, na Rua 24 de Maio, no Riachuelo. No local funciona uma agência do Bradesco que já foi explodida duas vezes em três meses. Em cima do estabelecimento bancário, há mais de 90 apartamentos. Ao lado, a Escola Municipal Pareto.
"Da última vez foi uma coisa terrível. Aconteceu tudo debaixo da nossa janela. A minha mãe de 85 anos dormia na hora da explosão e acordou apavorada. Os bandidos fecharam a 24 de Maio, perto da São Francisco Xavier enquanto outros vieram e invadiram o banco. Após detonarem os explosivos, trocaram tiros com uma patrulha da PM que passava", conta a pedagoga Nilva Coelho de Lima, 47 anos, e que mora há 14 anos no edifício.
Segundo Nilva, os moradores fizeram um abaixo assinado pedindo que o banco só funcione durante o dia. "A agência já tinha sido assaltada, mas nunca usaram granadas e bombas. Nesse ano, os criminosos se superaram", diz.
A pedagoga já esperava esse tipo de ação. "Atacaram outros bancos da região e era fato que uma hora eles iriam chegar aqui. Após o ataque, a vizinha do andar de cima e uma outra do andar de baixo colocaram seus apartamentos à venda e se mudaram", contou.
MESMA FORMA DE ATUAR
Segundo um agente da Delegacia de Roubos e Furtos, que investiga os roubos, a forma de atuar dos criminosos é a mesma. "Alguns deixam rastros de arames na rua para furar os pneus das viaturas durante a perseguição. Percebemos que os alvos são caixas eletrônicos que possuem grandes quantias em dinheiro, o que pode indicar que eles recebam informações internas", afirmou o investigador, que pediu para não se identificar.
O maior número de roubos a caixas eletrônicos ocorreu em 2005, com 72 casos no estado. A diferença para as ações de agora é o uso de explosivos do tipo C-4, muitas vezes roubados de pedreiras. Por conta disso, o Grupo de Atuação Especial em Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, investiga a modalidade desde o ano passado. As provas colhidas até o momento apontam que criminosos da facção PCC possam estar envolvidos. Alguns presos eram paulistas.
Muitos cariocas que moram perto de agências pensam em se mudar. Há poucos metros do prédio da pedagoga Nilva, na mesma calçada, criminosos destruíram uma agência do Santander três vezes em apenas dois meses. Por conta disso, ao menos três moradores e cinco lojistas abandonaram o local temendo novos ataques.
"Eu sai daqui com a minha família por conta dessa criminalidade. Os bandidos estão ousados. Os colegas comerciantes uma loja de estofados, uma madeireira, uma drogaria e até um Subway decidiram deixar essa área temendo que fossem vítimas desses criminosos. Trabalho aqui há 22 anos e está insustentável", relata o vendedor Humar Sabag, 47, de uma loja de carros ao lado da agência. Um homem que morava em um apartamento ao lado da agência, há dois meses se mudou para o bairro do Rocha.
Já na Abolição, uma agência do Banco do Brasil foi destruída em agosto e até hoje não voltou a funcionar, causando transtornos para quem precisa dos serviços bancários. "Infelizmente, é mais uma das muitas. Eles arrebentaram com tudo, aqui, durante o crime", afirmou o gerente do banco que não quis se identificar.
SEM OPÇÃO DE BANCOS
"O roubo aconteceu pouco antes das 3h da manhã. Isso foi em meados de agosto. Explodiram tudo e desde então, a agência não abriu mais. infelizmente, é um prejuízo para todos nós. Hoje, se eu preciso pagar conta nesse banco tenho que ir ou em Madureira, ou em Cascadura, ou no Méier ou no Norte Shopping", disse Carlos dos Santos Custódio, 51, que mora em frente a agência na Rua da Abolição.
"Depois que os criminosos entraram aqui e o banco fechou, o faturamento das lojas caiu uns 40%. A essa hora (10h da manhã de sexta-feira), a loja estaria cheia. A gente não sabe se vai reabrir. Mas temos medo que reabra e que os bandidos a explodam novamente", contou Sônia Lopes, 55, dona de uma padaria ao lado do BB.
Bancos elevam investimentos
Diante do aumento de casos de violência, os bancos brasileiros já investem o triplo em aprimoramento da segurança, em comparação com dez anos atrás. Questionada pelo DIA, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou que o gasto é da ordem de R$ 9 bilhões. A Febraban ressaltou ainda que as instituições também atuam em estreita parceria com governos, polícias e com o Poder Judiciário para combater a criminalidade.
A entidade destacou que "vem acompanhando os ataques a caixas eletrônicos com extrema preocupação" e entende que o combate desse crime exige um conjunto de ações investigatórias no âmbito da segurança pública. Para a Febraban, é necessário impedir que criminosos consigam explosivos, desbaratar as quadrilhas com ações de inteligência e dificultar o acesso ao produto do crime.