Polícia Civil faz perícia em cemitério após temporal espalhar ossadas pela rua em Caxias - Severino Silva
Polícia Civil faz perícia em cemitério após temporal espalhar ossadas pela rua em CaxiasSeverino Silva
Por JONATHAN FERREIRA

Rio - Policiais civis fazem uma perícia, na manhã desta quarta-feira, no Cemitério Nossa Senhora das Graças, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde um muro desabou em um temporal. Por causa do alagamento, algumas ossadas foram arrastadas para ruas próximas do bairro Parque Beira Mar, nesta terça. Durante a noite, o caso foi acompanhado pelo subsecretário André Xavier. O local continua interditado pela Defesa Civil.

O caso assustou os moradores da região. O gari José Cláudio dos Santos, de 66 anos, disse que o bairro foi afetado por uma forte pancada de chuva. "A rua ficou parecendo com um piscinão. Sempre que chove forte alaga tudo aqui, pois não há manutenção e limpeza dos bueiros", reclamou.

Já a doméstica Crislaine dos Santos, de 29 anos, contou que carros e ônibus passavam pela rua quando o muro desabou. "Começou a chover forte e em dez minutos o muro desabou, espalhando ossadas por toda a rua. Até caixão foi levado pela força da água. Além de não termos hospital aqui perto, ainda ficamos expostos a esse risco de doenças por causa da água que jorrou do cemitério", lamentou.

O operador de guindaste Luiz Carlos Dias, 63 anos, cobrou providências da prefeitura. "Passamos pela mesma situações de enchentes no ano passado. Teriam que Trocar a galeria para facilitar o escoamento da água, mas Ninguém toma uma providência. O muro do cemitério já estava rachado e a água estava passando pelo muro", denunciou.

Um morador da comunidade Vila Operária, que fica em frente ao cemitério, denunciou a falta de manutenção do local. Segundo ele, o responsável pelo cemitério paga R$ 50 para que moradores da favela façam a limpeza do espaço. Enquanto isso, a diarista Adriana Maria de Jesus passou a manhã contabilizando os prejuízos causados pela chuva.

"A água invadiu a minha casa e molhou os meus móveis. Perdi guarda roupa, cama e colchão. Sempre que chove forte eu tenho prejuízo. Não dá nem vontade de comprar móveis novos porque quando chover forte eu vou perder tudo de novo", lamentou. 

Parte do muro do Cemitério Nossa Senhora das Graças, em Caxias, cedeu. Ossos foram parar na rua - Severino Silva

Ao DIA, a prefeitura de Caxias informou que a gestão do cemitério é privada e que o local será interditado. Segundo o prefeito Washington Reis, cinco cemitérios da cidade acumulam multas de R$ 5 milhões. "Enquanto não quitarem as dívidas com a prefeitura, não poderão operar. Vou lacrar o cemitério e apreender os veículos deles", prometeu.

Washington Reis denunciou a precariedade do cemitério. "Tem ossadas jogadas (pelo cemitério). Eles passam com retroescavadeira derrubando os túmulos. Colocam concreto em cima dos ossos. Não respeitam os entes queridos. São pessoas gananciosas que visam lucro a qualquer preço", afirmou.

A prefeitura tentou retomar a gestão dos cinco cemitérios, mas uma decisão judicial manteve a administração privada. De acordo com Washington Reis, a prefeitura também decidiu construir um cemitério público, às margens da Rodovia Washington Luiz, mas as concessionárias conseguiram uma decisão liminar que proíbe o município de realizar sepultamentos gratuitos.

"A liminar será julgada pela Justiça no próximo dia 7 de março. O município luta para obter o direito de ter um espaço público para que os moradores da cidade possam enterrar seus ente queridos de forma gratuita.

Uma atividade de saquear o povo [cemitérios privados]. Um enterro custa R$ 5 mil. As famílias que não tem dinheiro para enterrar, esperam até seis dias para conseguir fazer o enterro", destacou. O prefeito disse que quando as pessoas morrem em outra cidade, as famílias são obrigadas a pagar um "pedágio" que chega a R$ 2 mil para conseguir trazer o corpo para enterrar em Duque de Caxias.

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