Rian morreu com dois tiros - Reprodução
Rian morreu com dois tirosReprodução
Por ADRIANO ARAÚJO

Rio - Um adolescente foi morto a tiros, na noite desta terça-feira, na Favela Parque Alegria, no Caju, na Zona Norte do Rio. Rian de Alencar Silva, de 15 anos, levou pelo menos três tiros, um deles de fuzil no peito, segundo familiares. Eles acusam policiais da Unidade de Polícia Pacificadora de execução. Entretanto, a UPP disse que o jovem foi atingido após um confronto entre PMs e bandidos na comunidade.

Em prantos, Lenilda de Alencar, mãe do menino, esteve no Instituto Médico Legal (IML) com outros familiares na manhã desta quarta-feira para liberar o corpo da vítima. Testemunhas contam que o jovem teria sido levado para uma região conhecida como Chiqueirinho, onde teria sido executado, entre 19h e 20h.

"Pelo amor de Deus, que alguém me responda se isso é normal, dar tiro na perna, no braço, e depois executar com um tiro no peito. Seja o que ele fosse, não merecia isso. Viram o meu filho vivo, andando, depois apareceu desse jeito, morto de forma brutal", desabafou.

A mãe de Rian disse que fazia comida em casa quando foram avisar que o filho tinha sido levado pelos policiais. Segundo Lenilda, algumas pessoas que estavam na localidade do Chiqueiro, onde há também uma empresa que produz concreto, viram o adolescente com os policiais, ainda com vida.  

"Fiquei louca, andei a favela inteira. Um rapaz que foi liberado disse que ele tinha sido levado para este lugar. Fui na sede da UPP, ligaram para um tenente, que disse que ele foi baleado e foi levado para o hospital (Federal de Bonsucesso). Só que ele já chegou morto no hospital", disse.

Ele chegou a ser levado para o Hospital Federal de Bonsucesso, mas já estava sem vida quando foi socorrido, segundo a família. A unidade confirmou que Rian já estava morto quando deu entrada na emergência às 19h54 com um tiro no tórax e coxa.

Segundo a mãe, um grupo de policiais da favela que se denomina "Bonde do Satanás" e aterroriza moradores da comunidade seria o responsável pela morte.  Ela disse que filho não tinha envolvimento com o crime e, mesmo se tivesse, ele foi executado. 

"Ele levou três tiros, um no braço, outro na perna e um no peito. Pelo amor de Deus, ele ficou com um rombo enorme no peito. Esse é o procedimento normal desses corruptos da polícia? É normal? Mãe é sempre a última a saber, né? Mas que eu saiba não tinha envolvimento. E mesmo que estivesse armado, tivesse envolvimento, ele estava rendido. Por que não levaram, prenderam ele? Ainda tiraram foto dele morto. É muita crueldade!" falou, indignada. Ela admitiu que o filho ser usuário de drogas.  

Lenilda de Alencar, mãe de Rian, afirma que foram os policiais da UPP do Caju que o mataram - Maíra Coelho/Agência O Dia

Procurada, a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Caju não respondeu aos questionamentos da reportagem do DIA. Em nota, informou que o jovem foi morto durante um confronto entre traficantes e policiais, que antes foram atacados quando patrulhavam na Rua Interna. Após o tiroteio, uma pistola calibre 40, duas granadas e um rádio transmissor foram apreendidos. O policiamento foi reforçado na região. 

Em outra nota, o comando da UPP Caju falou que o confronto está sendo investigado pela Divisão de Homicídios que está aberto ao diálogo com os moradores, dizendo que nenhuma denúncia relacionada a atuação policial chegou ao conhecimento da unidade.

"A Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) informa que reclamações sobre atuações de policiais militares lotados em Unidades de Polícia Pacificadora também podem ser denunciados à Ouvidoria Paz com Voz através do telefone (21) 2334-7599.O anonimato é garantido", diz o texto.

A ocorrência foi registrada na Delegacia de Homicídios (DH-Capital), que está investigando as circunstâncias do crime, mas não deu maiores detalhes do caso. O corpo de Rian deve ser velado e enterrado no Cemitério do Caju nesta quinta-feira. 

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