Carro, com marcas de perfurações, foi roubado pelos criminosos. Veículo é de uma mulher que saía de uma festa na Lagoa - Maíra Coelho/Agência O DIA
Carro, com marcas de perfurações, foi roubado pelos criminosos. Veículo é de uma mulher que saía de uma festa na LagoaMaíra Coelho/Agência O DIA
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - No momento em que o estado vive uma intervenção federal na Segurança, grupo formado por menores entre 15 e 17 anos percorreu cerca de 15 quilômetros entre as zonas Norte e Sul praticando crimes sem ser importunado. A jornada de terror na madrugada de domingo só terminou porque uma das vítimas alertou a polícia. A perseguição, na Lagoa, teve intenso tiroteio, assustando moradores. Jovens suspeitos foram apreendidos. "Ouvimos mais de 50 disparos. Foi assustador", disse um porteiro.

Segundo a PM, os garotos são da Favela do Rato Molhado, no Engenho Novo, e praticaram roubos desde a Feira de São Cristóvão, onde renderam a primeira vítima e roubaram um Jack J3 sedã. Pelo caminho fizeram arrastões nos bairros do Flamengo, Copacabana e Humaitá. Em Ipanema, eles abandonaram o veículo e renderam uma mulher que dirigia um KIA Carnival, na Avenida Visconde de Pirajá, retomando a fuga. A vítima tinha saído de uma festa na Lagoa, por volta das 3h, e avisou à polícia.

Caminho do grupo - Arte O DIA

Na Avenida Borges de Medeiros, próximo ao Clube Piraquê, o veículo em que estavam foi cercado por policiais do 23º BPM (Leblon), que pediram reforço, e começou a troca de tiros. O KIA Carnival era blindado e ficou crivado de tiros. Com eles foram apreendidas duas pistolas e munição.

Os adolescentes foram atingidos por tiros quando tentaram abandonar o carro, segundo os policiais. M., de 15 anos, foi atingido por um tiro no braço, nas costas e na mão. Já F., 17, foi ferido de raspão na região escrotal. I., 17, foi atingido por sete disparos, seis deles região das nádegas e na perna direita. O adolescente L., de 16 anos, sofreu escoriações. Os adolescentes foram levados para o Hospital Miguel Couto, na Gávea, ali perto.

Suspeitos de outros roubos

Os adolescentes serão encaminhados para o Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase). O caso foi registrado na 14ª DP (Leblon). Ainda na manhã de ontem, vítimas prestaram depoimento.

Os crimes praticados pelos jovens no fim de semana se assemelham a outros dois roubos que aconteceram em bares da Zona Sul nos últimos dias. Por conta disso, a polícia vai investigar se os quatro adolescentes detidos têm ligações com os casos.

No fim da noite de sábado, três bandidos armados renderam e assaltaram clientes do bar Combinado Carioca, no Humaitá. Em menos de dois minutos, quem estava na calçada do estabelecimento foi levado para dentro do local e teve os pertences roubados. Na madrugada de quinta-feira, dois suspeitos armados assaltaram o bar Belmonte, no Flamengo. Nesses dois assaltos, ninguém foi preso.

Ressocialização sofre com unidades superlotadas
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Durante todo o ano de 2017, 8.480 adolescentes foram apreendidos no estado. Desses, 2.075 foram internados nos 24 centros de ressocialização do Degase. Na última semana, a Vara de Execuções de Medidas Socioeducativas da Capital decidiu proibir novas internações no Educandário Santo Expedito, em Bangu. O motivo do embargo são as péssimas condições do centro de jovens infratores, que está superlotado. Com a capacidade para abrigar 232 menores, o espaço abriga 532 meninos que se amontoam.
No despacho, a juíza Lúcia Mothé Glioche afirmou que "as condições precárias da unidade aumenta a possibilidade de reincidência" (dos adolescentes). Hoje, toda a rede do Degase tem apenas 1.451 vagas para 2.390 internos que cumprem algum tipo de medida.
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Para a advogada Giselle Farinhas, presidente da Comissão OAB Vai à Escola da seção Barra, muitos criminosos se aproveitam dos menores para que estes pratiquem crimes. "Infelizmente, hoje, muitos adolescentes são instrumentos principalmente em comunidades carentes de bandidos. Nessas regiões, não há lazer ou educação, e esses menores não têm estrutura familiar sólida. Observando tudo isso, esses traficantes pegam esses jovens", lembra a advogada. "Como esses meninos ficaram pouco tempo em um espaço de ressocialização, os chefões das comunidades não dão as caras e preferem colocar essas crianças na criminalidade", salienta.
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