Da frota de 7.335 ônibus, 3.023 não são refrigerados, de acordo com a Secretaria Municipal de Transportes - Luciano Belford / Agencia O Dia
Da frota de 7.335 ônibus, 3.023 não são refrigerados, de acordo com a Secretaria Municipal de TransportesLuciano Belford / Agencia O Dia
Por GUSTAVO RIBEIRO

Os passageiros que quiserem viajar de ônibus no Rio sem sentir calor terão que pagar mais caro por isso. A Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) está estudando uma maneira de cobrar valores diferenciados de passagens para veículos com e sem ar-condicionado. Isso significa que a atual tarifa de R$ 3,60 só seria mantida para os 'quentões', que constituem menos da metade da frota da cidade (41,21%).

Para justificar a proposta, o órgão informou que "a prefeitura está empenhada em resolver a questão tarifária", com objetivo de oferecer mais conforto e qualidade à população". Segundo a SMTR, 3.023 dos 7.335 coletivos da cidade ainda não são refrigerados. 

A medida contraria a promessa feita pelo prefeito Marcelo Crivella desde o início de seu governo, de que não concederia aumento até que toda a frota fosse climatizada. Pressionado pelos consórcios, ele anunciou, em dezembro, a contratação da empresa PricewaterhouseCoopers para definir uma tarifa 'justa'. A auditoria apontou o valor de R$ 4,05, que não foi aplicado. Após várias decisões judiciais que mandaram baixar e subir a passagem, a última, do dia 26, fixou o preço em R$ 3,60.

EMPRESAS CRITICAM

O Rio Ônibus, que defende a tarifa de R$ 4 para todos os veículos (valor apontado por uma consultoria contratada pela entidade), considerou que a nova proposta da prefeitura ignora o contrato de concessão e todos os estudos técnicos. O presidente, Cláudio Callak, ressaltou que a medida vai criar segregação social. "Oitenta porcento dos passageiros utilizam vale-transporte. Quem mais precisa usar o transporte vai acabar recebendo passagem mais barata do empregador e vai andar sem ar. Existem outras maneiras de incentivar a climatização sem ser com um pacote de maldades", criticou.

A engenheira de Transportes Eva Vider, da Escola Politécnica da UFRJ, lembra que o ex-prefeito Eduardo Paes incluiu R$ 0,20 no reajuste de 2015 para subsidiar a refrigeração de toda a frota até 2016 e a meta foi descumprida: "Eles já tiveram prazo para colocar ar e não colocaram. O que tem que ser feito é uma planilha atualizada de custos para saber o valor real para o sistema todo", apontou Eva.

Já Alexandre Rojas, engenheiro de Transportes da Uerj, é a favor da tarifa diferenciada. "Aumentar o custo da passagem com ar é razoável, porque o ar aumenta o custo do serviço. Essa alternativa estimula que as empresas refrigerem a frota", avaliou.

Promotor: o dever é dos consórcios
Publicidade
O promotor Rodrigo Terra, da 2ª Promotoria de Tutela Coletiva do Direito do Consumidor, repudiou a proposta. Ele também destacou que a climatização já era prevista com o acréscimo feito em 2015 e, mesmo assim, as empresas descumpriram. "De qualquer maneira, o TJ tem decidido que, como o dever do concessionário é prestar o serviço com comodidade, a climatização já estaria incluída na prestação do serviço", ponderou.
Você pode gostar
Comentários