MP e Seap investigam se agentes penitenciários facilitaram acesso de detentos e visitantes não autorizados pela Justiça a celas transformadas em 'suítes de motel' - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia
MP e Seap investigam se agentes penitenciários facilitaram acesso de detentos e visitantes não autorizados pela Justiça a celas transformadas em 'suítes de motel'Daniel Castelo Branco / Agência O Dia
Por GUSTAVO RIBEIRO

Rio - As investigações sobre seis suítes parecidas com quartos de motel, flagradas pelo Ministério Público no quarto andar da Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, que abriga presos da Lava-Jato, pretendem descobrir quando e por quem as estruturas foram construídas. Os promotores também investigam se agentes penitenciários permitiram o acesso de detentos e visitantes sem autorização judicial, como prostitutas, aos locais para visita íntima. "É um trabalho sigiloso, porque presume o envolvimento de servidores", afirmou o delegado David Anthony, novo titular da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap).

Nova vistoria realizada ontem pela Seap apreendeu itens irregulares nas celas, como R$ 7,4 mil em espécie. As suítes foram divulgadas pela coluna 'Informe do DIA'. Para o MP, a qualidade da estrutura, que conta com piso de porcelanato e televisões, também destoa do que é comum em penitenciárias. Pinturas de coração na parede, banheiro com espelho e luz vermelha completavam os momentos de prazer.

A promotora Andrea Amin, coordenadora do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp), determinou a inspeção, em fevereiro, após denúncia anônima. "Instauramos investigação para apurar eventual improbidade de agentes públicos e prática de crime, e identificar se era um parlatório ou uma estrutura montada para favorecer alguém", explicou Amin. "O material, diante da penúria que o antigo secretário dizia que a Seap estava, também chamou atenção", acrescentou.

"Isso é inconcebível. Inclusive o (secretário) Dr. Anthony está vindo conversar comigo sobre este assunto daqui a pouco e vamos tratar desse problema", disse o interventor federal na segurança do estado, general Braga Netto, à TV Globo.

O procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem, afirmou que as suítes são anteriores à posse de David Anthony. O coronel da PM Erir Ribeiro Costa Filho, que até 18 de janeiro comandava a Seap, será chamado para prestar esclarecimentos. Andrea Amin disse que o MP não divulgou o fato antes para não atrapalhar a investigação.

Estão presos em Benfica secretários estaduais da gestão do ex-governador Sérgio Cabral, como Wilson Carlos (Governo) e Hudson Braga (Obras), além dos deputados Edson Albertassi, Jorge Picciani e Paulo Melo, todos do MBD. Cabral foi transferido de Benfica para presídio federal no Paraná em 18 de janeiro.

Motel de Benfica desperta indignação e 'inveja' do lado de fora
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Beto Trajano: 'É uma pouca vergonha, para não dizer outra coisa'Alexandre Brum / Agencia O Dia
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A notícia da existência de parlatórios que mais se parecem com suítes de motel na Cadeia Pública de Benfica indignou a população e foi motivo de piadas de donos dos verdadeiros estabelecimentos voltados para encontros íntimos. O dono de um motel no Centro do Rio, que pediu para não ser identificado e disse que o movimento anda fraco na casa, brincou que a concorrência é desleal em um momento de crise.
"Fica complicado assim. Como no Brasil tudo é pelo avesso, espero que nenhum órgão público chegue aqui amanhã querendo transformar meu ambiente em penitenciária", se divertiu.
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Já na Lapa, a informação espantou a população. "Isto uma pouca vergonha, para não dizer outra palavra bem pior que estas', criticou o comerciante Umberto Trajano, de 58 anos. Para o aposentado Luiz Pereira, 70 anos, que há muito tempo não vai a um motel, o luxo dos detentos é maior que o da maior parte da população. "Isso desafia a lógica, impressionante. Desse jeito, fala com a polícia para me buscar agora que também quero ser preso".
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75% dos contratos foram renovados sem licitação
A varredura feita ontem nas celas também recolheu roupas e alimentos não permitidos e um bloco de consulta odontológica com carimbo. A Seap não divulgou a quem pertenciam os itens. Com 470 presos, a unidade está sob intervenção da Corregedoria da pasta.
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O procurador-geral Eduardo Gussem ressaltou que o MP está promovendo uma devassa na Seap em parceria com o novo secretário para desvendar irregularidades. Segundo Gussem, 75% dos contratos eram renovados sem licitação ou com compras diretas.
A Seap destacou que está sendo providenciada a publicação das substituições do diretor, subdiretor e chefe de Segurança Pública da cadeia, que serão investigados. No ano passado, o MP já havia descoberto outras regalias no presídio, como sala de cinema e alimentos proibidos.
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