Luidi Nunes, autor de mais de 3 mil painéis de vitrais, em seu ateliê, é referência mundial da técnica - Fotos: Daniel Castelo Branco
Luidi Nunes, autor de mais de 3 mil painéis de vitrais, em seu ateliê, é referência mundial da técnicaFotos: Daniel Castelo Branco
Por FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - Originada no Oriente por volta do Século 10, a arte dos vitrais pedaços de vidros coloridos ou pintados, que formam mosaicos com cenas ou personagens de alguma história passa por um processo de resgate no Rio de Janeiro. O município, que já sediou seminário internacional sobre o tema, tem ofertado, por meio de diversas instituições, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), oficinas para a formação de técnicos especializados em confecção, conservação, manutenção e restauro em obras de interesse histórico e cultural espalhadas, sobretudo, em igrejas, palácios e casarões antigos.

O setor também prepara um inventário inédito, para saber com mais exatidão a quantidade total de obras, especialmente as raras, que a cidade possui. Muitas delas, como as do Theatro Municipal, igrejas Bom Pastor, na Tijuca, e da Imaculada Conceição, em Botafogo; palácios do Catete e Tiradentes; Catedral Metropolitana ; Ilha Fiscal; Confeitaria Colombo e antiga sede da Manchete, são cultuadas no mundo inteiro, com detalhes artísticos que não são encontrados nem na Europa, berço dos vitrais.

De acordo com vitralistas famosos, como Luidi Nunes, conhecido como o papa do assunto no Brasil, a aplicação de vitrais, antes restrita a igrejas e obras sacras, em projetos contemporâneos de arquiteturas residenciais e comerciais amplia o horizonte da técnica. Só obras de sua autoria existem em mais de 3 mil metros quadrados na Capital Fluminense, em outros estados e no exterior.

"A formação de mão de obra especializada é fundamental para a preservação desse segmento", afirma Luidi, salientando que os vitrais passaram a ter nova importância na sociedade nas últimas décadas. "De 20 anos para cá, a noção de preservação e fomentação dos vitrais passou a fazer parte mais intensamente da cidade, cuja quantidade de obras desse tipo e seu valor comercial ainda é incalculável", atesta o artista. "É um verdadeiro tesouro".

Luidi é discípulo de Alberto Magini, vitralista italiano que montou os vitrais do Theatro Municipal no início do século 20, e sócio de Luiz Gonçalves na empresa Luidi & Gonçalves, em Bonsucesso, um dos pouco mais de 20 ateliês do país e um dos mais requisitados na Europa e EUA. Além dele, outros nomes têm contribuído para a expansão dos vitrais. Como o do arquiteto e urbanista do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, Helder Vianna.

"As guerras, a revolução industrial e a crise econômica ocasionaram muitas perdas na Europa e no Brasil. Hoje, vitrais estão virando modismo e equipes especializadas são um desafio", comentou Helder, que ontem participou do Curso de Conservação e Restauração de Madeiras e Vitrais da Casa de Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ele diz que mestres como Luidi e a artista plástica e vitralista Marianne Peretti, parceira de Oscar Niemayer em muitos projetos, garantem a sobrevivência e disseminação dos vitrais.

Projeto em shopping surpreende
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A tendência de vitrais na construção civil no Rio, além de obras sacras e clássicas, é antiga. "O Palácio do Catete, em 1862, foi um dos primeiros a usar", enaltece Helder Vianna. "Projetos modernos surpreendem, como o Norte-Shopping, que instalou 1,2 mil metros quadrados de vitrais no teto", frisa Luidi Nunes. A matéria prima vem da França, Alemanha e EUA. O Brasil produz ferro, chumbo, gesso e solda.
Para o historiador Marcelo Tavares, doutorando em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP/UERJ), no Século 21 os vitrais sugerem nova relação com o "mundo externo". "Valorizam a importância da luz natural, a responsabilidade com a natureza, e dá status social", justifica. "E dão ares de divino, como nas igrejas, devido ao jogo multicolor das peças, iluminadas pelo sol. Remetem à reflexão espiritual", completa.
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A qualidade do vidro, da pintura à fogo, e o tempo das peças, sobretudo as da Idade Média, conferem a raridade de uma obra em vitral.
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