Após declaração, padre se desculpou. Ele se comprometeu a visitar terreiro que foi atacado na terça-feira - Reprodução Internet
Após declaração, padre se desculpou. Ele se comprometeu a visitar terreiro que foi atacado na terça-feiraReprodução Internet
Por *Luana Dandara

Rio - Após ter um vídeo divulgado na internet com declarações polêmicas sobre as religiões afrodescendentes, o padre Fábio de Melo foi notificado ontem por intolerância religiosa. O autor da ação foi o babalaô Ivanir dos Santos, presidente da Comissão Estadual de Combate à Intolerância Religiosa, que pede que o padre retire o material das redes por o considerar depreciativo. Em uma conversa com Ivanir, Fábio de Melo reconheceu o erro e prometeu se retratar.

No sermão, gravado em abril durante a Festa da Divina Misericórdia, em Cachoeira Paulista, o padre afirmou que os fiéis não têm de temer a 'macumba' e que ainda comeria a oferenda. A publicação já tem mais de 95 mil compartilhamentos e mais de 2,7 milhões de visualizações.

"Vocês têm o poder de expulsar demônios. Se você achar, se você de fato acredita que uma galinha preta na porta da sua casa com um litro de cachaça tem o poder de trazer destruição na sua casa, na sua vida, você não conhece a força do Cristo ressuscitado. Com todo respeito a quem faz a macumba, pode fazer na porta da minha casa que se tiver fresco a gente come", disse ele, na missa.

Para o babalaô Ivanir, o padre associou as religiões afro-brasileiras ao demônio. "Foi um discurso de incentivo ao preconceito. Logo depois da notificação, no entanto, ele me ligou e reconheceu o erro, disse que não era a sua intenção. Fábio também se comprometeu a retirar o vídeo, publicado por diversas páginas no YouTube, e combinou uma visita na próxima semana ao Centro Espírita Caboclo Pena Branca, destruído por criminosos na terça-feira", afirmou Ivanir.

O protagonismo do padre no catolicismo será importante na luta contra a intolerância, reiterou o babalawô. "Ele se mostrou disposto a reparar a falha. Se tratando de uma figura pública, é importante esse gesto de aceitar o diálogo. Reconhecer é um primeiro gesto", completou

Presidente do Conselho Estadual de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa, Márcio de Jagun, também fez um convite para Fábio de Melo participar de uma reunião do conselho. "Não é aceitável nem confortável que referências das religiões de matrizes africanas sejam dadas em tom pejorativo. O padre foi infeliz na sua exemplificação. Mas ele ter sido notificado e reconhecer o erro serve de exemplo para que o comportamento não se repita", destacou Márcio.

Pelo Twitter, o padre pediu desculpas a quem se sentiu ofendido e disse que não é "proprietário da verdade".

"O candomblé fez parte da minha origem. Somos irmãos e não me sinto melhor que ninguém. Apenas expressei, durante uma celebração cristã, convicções cristãs. Peço perdão aos que se sentiram ofendidos. O mundo já está dividido demais para que criemos outras divisões", escreveu.

Campanha para reerguer o terreiro
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Em ação conjunta com a Comissão de Combate a Intolerância Religiosa, a igreja cristã dos mórmons - Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias - fará uma campanha de arrecadação de verba para a reconstrução do terreiro que foi invadido, destruído e incendiado na terça-feira, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
De acordo com Iltamar Paiva, membro da igreja que lidera as arrecadações, além do dinheiro, voluntários estão dispostos a ajudar com a mão de obra, parte elétrica e hidráulica. "A mensagem que a gente quer passar é de amor, independente da religião".
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O proprietário do terreiro, Sérgio Malafaia, relatou estar angustiado após o crime. "O dano material foi grande, mas o espiritual é maior. Aquilo tudo era sagrado".
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