Soraia Macedo de Lemos - Arquivo Pessoal
Soraia Macedo de LemosArquivo Pessoal
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - A adolescente Soraia Macedo de Lemos, de 17 anos, morta com um tiro na cabeça em um assalto na Rua Estocolmo, no bairro Jardim Guanabara, na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio, na noite desta terça-feira, já tinha sido vítima de roubo de celular na mesma via, no mesmo horário, há um ano. É o que revela um primo da jovem, reforçando que em nenhuma ocasião ela reagiu. 

"Como ela precisava circular por lá para ir ao colégio, ela não pode deixar de passar por ali. Ela não tinha como fazer outro trajeto", disse Lucas Barbosa, 16 anos, que já morou na região e era vizinho da prima. Hoje ele mora com a mãe em Arraial do Cabo e veio correndo quando soube da notícia. 

"Fiquei muito mal e não consegui acreditar. Nossa família está muito abalada. A ficha ainda não caiu para a gente. Por uma coisa banal, por um celular, a vida está valendo muito pouco", disse o também adolescente.

Segundo informações, a adolescente estava a cerca de 300 metros do Colégio Estadual Professora Maria de Lourdes de Oliveira Tia Lavor, que fica na Rua Sargento João Lopes, para onde seguia com a namorada para estudar, por volta das 19h. As duas usavam fones de ouvido quando foram abordadas pelos bandidos em uma moto, na Rua Estocolmo.

Soraia entregou o aparelho, mas os bandidos dispensaram quando viram se tratar de um iPhone e pediram o smartphone da outra jovem, que teria demorado a entregar. Os criminosos acabaram disparando, atingindo a vítima na cabeça. Ela chegou a ser socorrida ao Hospital Municipal Evandro Freire, no mesmo bairro, mas não resistiu aos ferimentos. O crime aconteceu próximo ao , na Rua Sargento João Lópes.

Agentes da Delegacia de Homicídios da Capital (DH) foram acionados e estiveram no local local. Os policiais buscam imagens de câmeras de segurança e testemunhas que possam ajudar a identificar os autores do crime.

Mesma rua onde professor de jiu-jitsu foi morto em assalto

A Rua Estocolmo, via onde Soraia foi morta, é o mesma que, em fevereiro deste ano, morreu o professor de jiu-jitsu Állex Gonçalves Passos, de 27 anos. Na época, o jovem foi atacado a tiros por bandidos também durante um assalto.

Állex estava de moto e passava na rua na altura da Rua Copenhague quando foi rendido por criminosos. No momento do crime, o professor teria reagido e os suspeitos dispararam contra ele. Após o assassinato, os bandidos fugiram levando a mochila da vítima. O caso até hoje não foi solucionado pela Delegacia de Homicídios (DH-Capital).

'Um celular vale mais que uma vida', diz morador da região

A rua onde a jovem Soraia foi baleada fica no bairro Jardim Carioca, considerado um bairro de classe média, com casas grandes e prédios residenciais. Os moradores reclamam que de um ano para cá a violência cresceu na região e tem tirado a tranquilidade da até então pacata região.

A professora aposentada Silma da Costa Amorim, de 60 anos, foi morar no bairro há 10 anos, acompanhando o marido militar. Ela, que veio de Petrópolis, pensar em deixar a região e lamentou a morte da jovem "por um celular".

"Está horrível, não tem policiamento aqui, você só vê no jardim Guanabara. Aqui e em qualquer lugar do Rio um celular vale mais que uma vida. Há uma semana, fecharam a Linha Amarela e fiquei presa com meu netinho de 2 anos no carro. Eu vim para cá porque meu marido foi trocado, mas não aguento mais aqui, quero sair. Vou para a Região dos Lagos o mais rápido que eu puder", dissse.

Quem trabalha na região também reclama da escalada de crimes. "A violência cresceu assustadoramente na região. De um ano para cá tem assalto todo dia, a qualquer hora do dia", disse um comerciante.

'Arrancaram um pedaço de mim', desabafa mãe de adolescente 

A mãe da adolescente Soraia fez um longo e emocionante desabafo em uma rede social, na madrugada desta quarta-feira.

"Filha, sempre quis o melhor para você. Te abracei sempre que precisou dos meus abraços. Tentei te dar meu melhor. Choramos e rimos juntas. Te aconselhei em tudo em sua vida. Sempre tive orgulho de ter você como filha. Sou muito apaixonada por você. Parece que é mentira que vou acordar e não te ver mais. A ficha ainda não caiu. Meu eterno chorinho, minha menina boba levada. Arrancaram um pedaço de mim. Não sei o que vai ser de mim agora. Apenas 17 anos sonhando em ficar de maior. Uma menina cheia de esperança e com um futuro brilhante pela frente", lamentou Cristiane, mãe de Soraia.

'Boa aluna, cheia de sonhos', diz diretora de colégio

Soraia estava no último ano do Ensino Médio e tinha sonhos de fazer faculdade. É o que conta Lilian Arnaus, de 48 anos, que há cinco é diretora do colégio onde a adolescente estudava. Ela revela ter ficado em choque com a informação da morte da jovem.

"Ontem (terça) quando recebi essa notícia foi um baque muito grande. É uma violência sem motivo. Somos solidários com os pais, a nossa dor pela perda da Soraia é igual. Ela era uma boa aluna, tinha sonhos como todo estudante, queria fazer faculdade", disse Lilian.

A unidade educacional conta com 1.852 alunos e costuma trabalhar com o tema da violência nas salas de aula. 

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