Falso sequestro continua a fazer vítimas no Rio de Janeiro - Arte de Luiza Erthal
Falso sequestro continua a fazer vítimas no Rio de JaneiroArte de Luiza Erthal
Por ADRIANO ARAÚJO

Rio - Há duas semanas, um adolescente de 16 anos recebeu um telefonema assustador. Sua avó havia sido sequestrada e os bandidos queriam joias e outros pertences valiosos para pagar o resgate. O jovem foi vítima do golpe do falso sequestro, e permaneceu 10 horas sob forte pressão psicológica, ao mesmo tempo que sua mãe também era enganada: por meio de uma conferência telefônica, os criminosos a fizeram acreditar que seu filho é quem estava em apuros e exigiram dinheiro para "libertá-lo".  O caso mostra que a ampla divulgação dos cuidados para não cair no golpe não impede que pessoas de todas as idades continuem caindo na armadilha.

A forma como mãe e filho foram envolvidos no golpe chamou a atenção da Divisão Antissequestro (DAS). A ordem para ambos era dizer que estavam bem e que o outro deveria fazer o que eles mandassem. "Isso ocorre por conta da tecnologia, é uma modernização do golpe original, um outro mecanismo para fazer as vítimas acreditarem que o sequestro é real", explica o delegado Cláudio Gois, chefe da DAS. 

Morador da Zona Oeste, o adolescente foi aterrorizado pelos bandidos pelo telefone e recebeu ordem para não entrar em contato com a polícia ou familiares, ou a avó teria o braço arrancado. Ao chegar em casa, a mãe encontrou o quarto revirado. 

"Ninguém conseguiu falar com ele o dia inteiro. Quando a mãe chegou em casa e viu tudo bagunçado, ficou desesperada. Depois ligaram para ela dizendo que estavam com ele e ela saiu para sacar dinheiro no banco", contou o pai do garoto, que não quis se identificar.

Com auxílio tecnológico, os policiais da DAS conseguiram localizar o rapaz e a sua mãe. Ele foi encontrado no Madureira Shopping, por volta das 22h, após ter entregue um cordão de ouro e uma quantia em dólares a criminosos em Rocha Miranda. Já a mãe foi interceptada em Inhaúma, a bordo de um táxi que pegara no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Galeão, onde fora para sacar dois mil dólares. Ela já tinha transferido cerca de R$ 1,5 mil para os bandidos, mas eles exigiram mais dinheiro.

A investigação da DAS já identificou o presídio de onde vieram as ligações e está próximo de identificar os envolvidos no crime. Para não atrapalhar, as diligências são realizadas em sigilo.

Golpes são impedidos pela polícia

De acordo com Cláudio Gois, os casos de falso sequestro que chegam à DAS sempre são impedidos e, muitas vezes, os agentes conseguem descobrir os criminosos. Por isso, ele reforça a importância de procurar a polícia, em qualquer delegacia, e fazer a denúncia. "Os criminosos fazem muitas ligações antes de conseguirem uma que dê certo. O importante é que qualquer pessoa que receba um destes telefonemas não tome nenhuma atitude antes de tentar contato com a pretensa vítima. Caso não consiga avisar o fato a familiares e ou amigos, tem que se dirigir imediatamente a uma delegacia policial", reforça o chefe da DAS.

Não existem números disponibilizados sobre casos de falso sequestro, já que ele é tipificado como extorsão, o que engloba outras modalidades de crimes, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). A maioria das ligações são feitas das cadeias e conta com a participação de pessoas de fora da prisão.

DAS recebeu ligação de golpistas

Recentemente, uma das chamadas realizadas por bandidos de forma aleatória caiu numa linha da própria Divisão Antissequestro (DAS). O agente que atendeu a ligação entrou no jogo dos golpistas, que estavam presos em um presídio. Os policiais marcaram um encontro para entregar o "resgate" e um taxista acabou preso. Três detentos de uma cadeia de Japeri foram identificados e cada um tinha uma função: um imitava a voz da "mulher sequestrada", um fazia as ameaças enquanto um terceiro emprestou o aparelho telefônico para a realização do golpe.  

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