Rio - Os pacientes que necessitam de remédios da Rio Farmes, a Farmácia Estadual de Medicamentos Especiais, que são usados em tratamentos de doenças graves, estão passando dificuldades para encontrá-los. Pessoas com doença renal crônica são os principais atingidos, mas também faltam remédios para lúpus, inflamações intestinais graves, hormônios de crescimento e epilepsia.
Nesta quinta-feira, Márcio da Silva, de 41 anos, veio de Seropédica, na Baixada Fluminense, buscar os medicamentos usados pela esposa para insuficiência renal. Ele reclama que tentou falar por telefone com o atendimento da farmácia de remédios especiais do estado mas, como não conseguiu, faltou ao trabalho e arriscou ir até à farmácia do estado, na Praça Onze, no Centro do Rio.
"Eu moro longe, cinco horas da manhã tive que sair para chegar aqui. É complicado, muita gente que usa medicamento para problema crônico está tendo dificuldades para pegar remédio", disse o encarregado de pavimentação, que voltou para casa sem levar o sacarato de hidróxido férrico de 100 mg. "Se não tem remédio, não tem jeito. Ela vai passar mal e corremos direto para a clínica para fazer a hemodiálise, até fora dos dias marcados, para não entrar em crise e parar nos hospitais. Ela não pode ficar sem medicação", explica. Segundo a Rio Farmes, o medicamento já está disponível nesta sexta-feira.
Pacientes renais crônicos também não estão encontrando o cloridrato de cinacalcete 30 mg. José Amilton Ferreira, de 60 anos, foi dois dias esta semana para retirá-lo para o filho de 40 anos, mas não encontrou.
"Vim segunda-feira e voltei hoje (quinta-feira) porque falaram que tinha chegado, mas este mês não tem e não deram previsão. Ele pega vários remédios, mas o principal que ele precisa é esse", contou. O pai do paciente crônico conta que o remédio é muito caro para comprá-lo, além de não ser vendido no Brasil. O preço médio é de R$ 800 por caixa, com 30 comprimidos, na compra pela internet.
"Ele toma quatro caixas por mês, são quatro comprimidos por dia. Há alguns anos, meu filho precisou acionar a Justiça para pegar esses remédios. Sem eles, é arriscado ficar de cama, aleijado. Precisa tomar o remédio, senão pode agravar", disse José Amilton, que veio de Olaria, na Zona Norte.
O cinacalcete é o mesmo medicamento usado por Jorge Henrique Campos de Lima, de 58 anos, aposentado por invalidez por conta da doença renal. Ele disse que o problema é recorrente.
"Mês passado não tinha o cinacalcete, mas no dia 8 consegui pegar. Já soube que não tem mais. Todo mês falta algum remédio, tanto para renal quanto para outras doenças, aí não dão nenhuma previsão. Parece que nunca compram o suficiente, todo mês tem problema", critica.
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), responsável pela Rio Farmes, o cloridrato cinacalcete é fornecido pelo Ministério da Saúde e sua entrega está prevista para a próxima semana.
A dificuldade dos pacientes se agrava porque, além de caros, os remédios especiais não são comumente encontrados em farmácias. "Claro que pesa (o preço), mas a questão é que você não acha. Pode procurar nas farmácias que você não encontra. Por isso a gente apela para isso aqui, né?”, disse Márcio, que às vezes consegue a medicação para a esposa de 42 anos através de doações. A solução injetável do sacarato de 100 mg custa em média R$ 80, com cinco ampolas.
Medicamentos para outras doenças em falta
Familiares de pacientes que sofrem de outras doenças graves contaram que outros medicamentos estão em falta na Rio Farmes. A professora Tatiana Félix, de 40 anos, veio buscar Azatiopina de 50 mg para o marido, que sofre de hepatite autoimune, mas não encontrou. Segundo ela, em dezembro também não tinha. “Com frequência está em falta”, disse.
A técnica em enfermagem Renata Gomes Machado, de 30 anos, veio buscar somatropina 4ui, um hormônio que auxilia no crescimento do filho, de 12 anos. Ela contou que está há três meses sem pegar o medicamento.
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), alguns medicamentos em falta já estão comprados, mas ainda não foram entregues pelos fornecedores. Entretanto, há remédios que ainda estão em processo de compra. A pasta informou que para cada medicação é feito um edital para a aquisição e eles são comprados conforme a procura dos pacientes.
O caso do somatropina é mais grave: foram abertos dois pregões, mas não apareceu nenhum interessado em fornecer a medicação para o estado. Um novo processo deve ser realizado no próximo mês.
Remédios em falta na Rio Farmes: veja a previsão de reabastecimento
- Cloridrato de cinacalcete 30 mg: Fornecido pelo Ministério da Saúde, tem entrega prevista para semana que vem;
- Sacarato de hidróxido férrico 100 mg: Foi entregue pelo fornecedor, os estoques foram abastecidos nesta sexta-feira;
- Ciclosporina 100 mg: a entrega pelo fornecedor estava agendada para esta sexta-feira;
- Ciclosporina 50 mg: a entrega estava prevista para o mês de abril e não foi realizada. A secretaria está cobrando a entrega imediata do medicamento;
- Topiramato 100 mg: a entrega estava prevista para o início desta semana. A secretaria está cobrando a entrega imediata do medicamento;
- Mesalazina 500 mg: está em processo de compra com previsão de entrega para o dia 7 de junho;
- Azatioprina 50 mg: em processo de compra com previsão de entrega até o fim deste mês;
- Lamotrigina 100 mg: a entrega estava prevista para abril, mas não ocorreu. A SES já notificou a empresa fornecedora para entrega imediata do medicamento;
- Somatropina 4ui: A Secretaria Estadual de Saúde realizou pregões, mas não houve interessados e novo processo de compra está em andamento.