Casal sequestrado no Fundão foi mantido refém durante nove horas e libertado em uma comunidade em Belford Roxo - Fernanda Dias / Agência O Dia
Casal sequestrado no Fundão foi mantido refém durante nove horas e libertado em uma comunidade em Belford RoxoFernanda Dias / Agência O Dia
Por NADEDJA CALADO

Rio - O casal de professores da UFRJ sequestrado no campus da Ilha do Fundão, na Zona Norte do Rio, na última sexta-feira deve voltar ao local pela primeira vez após o crime nesta segunda. Eles vão prestar depoimento na 37ª DP (Ilha do Governador) e, em breve, pretendem voltar às atividades na Universidade.

Em entrevista, o casal falou sobre as horas de tensão do sequestro. Segundo eles, os criminosos pediram os dados bancários e senhas e disseram que, se não estivessem corretos, eles sofreriam as consequências. "Tivemos medo de morrer até o último momento. Nos despedimos várias vezes um do outro“, narrou uma das vítimas.

Eles foram mantidos reféns por nove horas, enquanto os bandidos faziam compras com seus cartões. “O último momento foi o pior. Eles disseram que iam nos libertar, só faltava um motoboy chegar com a gasolina para o carro. Aí ligaram o rádio em uma estação evangélica, com o discurso de um pastor falando sobre morte, arrependimento. Parecia que aquele discurso era para a gente, que aquela gasolina era para a gente", disse a professora. O casal foi solto em Belford Roxo.

O casal que está há décadas na UFRJ — ele desde 1988, ela desde 1996 — lamentou a falta de segurança no campus. "Os bandidos disseram que no mesmo dia havia mais duas 'equipes' para fazer o mesmo crime no campus. Duas semanas antes, soubemos de mais uns três casos semelhantes. Acontece várias vezes semanalmente, se não todos os dias", contou o professor.

O casal também criticou a nota da Universidade: "É patético. E falaram em nome da comunidade acadêmica, que temos que pensar uma solução. Nós não temos que pensar em nada, eles têm. A administração da Universidade não é a vítima, é o algoz. O crime não foi premeditado pelos assaltantes, nos escolheram ao acaso, poderiam ter sido outros. Mas foi premeditado pela UFRJ, que sabe onde e quando os crimes acontecem, e não faz nada".

Reitoria lamenta episódio e revela acordo para reforçar segurança

Em nota, a administração da UFRJ lamentou ter que registrar novamente um crime na Cidade Universitária, e afirmou que o caso está sendo acompanhando pela 37ª DP (Ilha do Governador). "O crime, brutal, é inadmissível em um campus universitário e causa indignação a toda a comunidade, em virtude da gravidade e da violência a que os docentes foram expostos", disse a assessoria.

A instituição também afirmou que, no mês passado, se reuniu com o subsecretário de assuntos estratégicos da Secretaria de Segurança do Rio, Roberto Alzir, e pediu atenção ao aumento do número de sequestros relâmpagos no campus. Segundo a UFRJ, foi acordado um reforço no policiamento das vias no entorno da universidade, que é de responsabilidade da Polícia Militar.

Seis casos de sequestro-relâmpago em cinco meses ocorreram no Fundão, diz UFRJ

Entre janeiro e maio deste ano, seis casos de sequestros-relâmpagos aconteceram no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no campus do Fundão. Segundo a universidade, esse número é superior ao mesmo período do ano passado. O último aconteceu na última sexta-feira quando um casal de professores foi rendido e sequestrado, ficando sob o poder dos bandidos por nove horas.

Por conta do aumento desse tipo crime no local, na próxima quarta-feira, a Prefeitura Universitária vai se reunir com a Delegacia Antissequestro (DAS) para pedir apoio nas investigações. Gerly Miceli, coordenadora geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFRJ (Sintufrj), atribui aumento da insegurança a três fatores: falta de concurso para vigilantes, falta de segurança no BRT e a via que corta o campus que tem acesso pela Ponte do Saber, que virou rota de fuga de criminosos.

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