Rio - Os casos de racismo cometidos por alunos da PUC-Rio, no último sábado, durante os Jogos Jurídicos Estaduais, em Petrópolis, não se restringem à competição. Segundo denúncias, em cinco meses teriam ocorrido cinco casos dentro da instituição, na Gávea.
Uma das vítimas, o estudante de Jornalismo, Leonne Gabriel, 21, conta que lhe entregaram uma carta racista, quando ele estava na sala de aula. "Após eu dar uma entrevista sobre preconceito dentro da PUC, alguém viu a reportagem, fez um recorte, escreveu ofensas racistas e mandou para mim em sala. Por esse motivo eu não fico surpreso com o que aconteceu em Petrópolis", contou Gabriel. Ele revelou que o tratamento na delegacia foi tão impactante quanto a carta. "Na 14ª DP (Leblon) fui negligenciado, como se o racismo no Brasil fosse de menor valor. O que precisamos entender é que racismo não é bullying. É crime".
A Frente Estadual de Juristas Negros e Negras (Fejunn) cobrou posição mais firme da universidade. "É inconcebível que a PUC Rio tenha em seus quadros alunos, sobretudo alunos de Direito, praticantes de crime de racismo. O coletivo Nuvem Negra, de alunos pretos da PUC, fará um ato às 11h de hoje, na universidade.
O DIA perguntou a PUC-Rio sobre a quantidade de comissões que foram abertas para investigar casos de racismo dentro da universidade, qual o trabalho que é feito para coibir a prática e quais as punições, mas a instituição não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Poucos professores negros
A sensação de preconceito gerada dentro do campus é aumentada quando nota-se a falta de referência entre os docentes. Dados gerados pelo Sistema de Gerência Universitária (SGU), em 2016, — um programa interno da instituição — mostra que dos 1.985 professores da instituição, apenas 86 são negros. Isso representa apenas 4,3% contra 94% de brancos entre o quadro de educadores.
Se isso for esmiuçado, apenas 1,6% de mulheres negras lecionam na PUC-Rio, enquanto o número de homens negros que dão aula na instituição chega a 3,2%
Racismo nos Jogos Universitários
Racismo em nível superior. A comunidade acadêmica fluminense ficou pasma com as denúncias de ofensas racistas feitas por estudantes de Direito da PUC-Rio, no sábado passado, durante os Jogos Jurídicos Estaduais, em Petrópolis. Alunos da PUC-Rio teriam cometido atos de racismo e injúria racial, em três oportunidades, contra alunos negros da Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Uerj e UFF.
Segundo testemunhas, o primeiro caso, alunos da PUC atiraram uma casca de banana contra um estudante negro da UCP, durante partida de futebol. Depois, após um jogo de basquete masculino, membros da delegação da PUC-Rio imitaram macacos para ofender estudantes da Uerj. Na quadra de handebol, o alvo foi uma aluna da Uerj, chamada de "macaca" pela torcida da PUC.
A Uerj e a UFF emitiram notas repudiando as manifestações racistas. "É absolutamente inadmissível que atos como esses ainda possam ocorrer, especialmente por envolver estudantes de Direito. Considerando que o racismo é crime, não podemos nos furtar de exigir a devida investigação desses fatos e rigorosa punição, devendo ser assegurada ampla defesa dos envolvidos", afirmou a Uerj, em comunicado assinado pela reitoria. A UFF disse que acompanha "com preocupação e indignação os relatos" e colocou a estrutura da universidade à disposição das vítimas.
A PUC, também em nota, garantiu que instituiu uma "Comissão Disciplinar para averiguação das informações e, caso confirmada a veracidade, a apuração e individualização das responsabilidades de membros do corpo discente". De acordo com o delegado Cláudio Batista Teixeira, da Delegacia de Petrópolis, até a noite de ontem, nenhuma das vítimas registrou queixa. "O crime é de ação penal pública condicionada. Ou seja, precisamos que a pessoa venha até a delegacia para fazer o registro. Esses alunos têm que se manifestar", explicou o delegado. Para o presidente da Comissão Especial de Estudos de Processo Constitucional da OAB/RJ, Rodrigo Pessanha, garantiu que a Ordem vai acompanhar os desdobramento do caso. "São os futuros advogados, juízes, promotores. E se o racismo é sempre inadmissível, vindo dos operadores do Direito é ainda mais grave a situação".
A estudante de Direito da Uerj, Raiza Uzeda, de 21 anos, uma das organizadoras e fundadoras do Coletivo Jogos sem Racismo testemunhou as injúrias raciais. "Nós ficamos revoltados por causa do que aconteceu no sábado, quando jogaram uma casca de banana no menino da UCP. Há muito tempo cobranças já estavam sendo feitas para que alguma medida fosse tomada contra o racismo nos jogos. A torcida da Uerj gritava "PUC racista" e eles respondiam com xingamentos", contou Raiza.
Renata Azevedo, aluna do 5º período de Direito da Uerj disse que frequenta os Jogos Jurídicos há quatro anos e nada foi feito para combater. "Frequento desde o meu primeiro período e sempre teve racismo neste campeonato. A Liga nunca fez nada para impedir. É necessário que uma punição forte e efetiva seja feita para combater esse crime", defendeu. A Liga Jurídica Estadual, que organiza os Jogos, retirou o título de campeão geral da competição e suspendeu a participação da PUC-Rio da próxima edição.