Rio - Não é de agora que as milícias da Zona Oeste e Baixada Fluminense estão na mira da Polícia Civil e do Ministério Público. Já se sabe que, atualmente, os paramilitares estão agindo como traficantes naquelas regiões. Na ação do Ministério Público à Justiça — com pedido de prisão de 42 milicianos da Zona Oeste e de Itaguaí, na Baixada Fluminense — os promotores Jorge Luís Abdelhay e Fábio Corrêa fizeram duras críticas à atuação da Polícia Militar quando a questão é apurar e punir agentes da corporação que são ligados à milícia.
Um trecho do documento sublinha: "Certo que organização delinquente (a milícia) vem crescendo e ganhando fôlego excepcionalmente nessa comarca alicerçada, sobretudo, nos vínculos intersubjetivos de proteção e acobertamento". Em outro trecho, os promotores dizem os milicianos têm desenvoltura para atuar nas áreas da Zona Oeste e Itaboraí sem temer o policiamento ostensivo.
E os promotores seguem: "A Polícia Militar apesar da incessante incidência de atuação de atuação ostensiva da dita 'milícia', cujo componentes foram mudando com o tempo, jamais efetuou sequer uma única prisão em flagrante delitos de seus membros".
Na operação desta quinta-feira, com 25 presos, um dos 42 mandados de prisão era contra Antônio Carlos de Lima, o Sargento Antônio, Toinho, Brow ou Mestre, que é lotado no batalhão de Santa Cruz (27º BPM). De acordo com a Justiça, o militar é o braço direito do ex-soldado PM Carlos Eduardo Benevides Gomes, o Cabo Bené. Segundo a Polícia Civil, o policial lotado no 27º BPM está de licença médica. "Há procedimentos investigatórios sobre a conduta do policial, inclusive na própria Corporação, além de ter contra ele um mandado de prisão", informou a polícia em nota. Ele não chegou a ser preso e já é considerado foragido.
Já “Cabo Bené” foi expulso da corporação em 2008 após ser preso em Campo Grande por envolvimento com a organização paramilitar. Após um Inquérito Policial Militar (IPM), o miliciano foi considerado culpado e foi exonerado da corporação. O ex-PM também está foragido.
Procurada pelo DIA, a Polícia Militar não comentou o pedido de prisão do PM do batalhão de Santa Cruz. Em uma nota, a PM assumiu “que não possui recursos investigativos específicos para desmantelar os grupos criminosos em toda sua complexa organização”.
Segundo a corporação, foi criado o “Grupo de Atenção às Milícias, uma subdivisão correcional que aprofunda as investigações internas de possíveis componentes envolvidos com tais grupos criminosos”, diz o comunicado.
Ainda de acordo com a PM, somente neste ano, já foram investidos um milhão de reais para a criação do grupo e realização dos procedimentos apuratórios e estão ainda previstos mais três milhões em investimentos para os próximos anos.
Por fim, a PM disse que já realizou inúmeras prisões de PMs ligados a milícia. “Sendo identificados e comprovados como participantes de tais grupos às margens da lei, os militares transgressores são exemplarmente punidos e excluídos”.
O DIA quis saber quantos policiais foram expulsos da PM, nos últimos anos, após serem identificados como milicianos. A corporação não respondeu as indagações.
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