Jandira morreu durante aborto 
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Jandira morreu durante aborto Reprodução
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - O júri popular de oito acusados pela Justiça da morte de Jandira Magdalena dos Santos Cruz, que morreu após realizar um aborto em uma clínica clandestina na Zona Oeste do Rio, em agosto de 2014, acontece nesta quinta-feira. Além da morte no procedimento ilegal, os criminosos cometeram outro crime: carbonizaram o corpo da vítima, que foi encontrado semanas depois em Mangaratiba. O julgamento acontece no 4° Tribunal do Júri. O caso completa quatro anos no próximo dia 28.

"A expectativa é muito grande para que a Justiça seja feita. A Jandira já foi e não volta mais. Nesses quatro anos, estamos levando na medida do possível. As duas filhas dela (que hoje tem 15 e 13 anos) estão fazendo tratamento psicológico. Mas, mesmo com todo o suporte, não se tampa o buraco da perda dela. Minha mãe deu alguns depoimentos ao longo dos anos e ela disse que ver os assassinos na minha irmã foi muito chocante pra ela. Verei quem matou a minha irmã, pessoalmente, pela primeira vez. É estranho isso”, disse Joyce Magdalena dos Santos Lima, 36 anos, irmã da Jandira.

Ângela Magdalena, mãe da vítima, no Tribunal de Justiça do Rio - Alexandre Brum / Agência O Dia

O julgamento estava previsto para começar às 10h, mas estava atrasado às 11h45. A mãe de Jandira, testemunha de acusação, foi dispensada e o motivo ainda é desconhecido, assim como uma testemunha de defesa. Os acusados podem ser condenados por homicídio doloso, associação criminosa, ocultação de cadáver e por aborto provocado com a autorização da gestante. Uma mulher foi retirada do processo. A juíza Elizabeth Machado Louro alegou na sentença "a insuficiência dos indícios apurados".

Ângela Magdalena, mãe da Jandira, diz que está ansiosa e espera que a Justiça seja feita. "Eu cheguei cedo, fui pra uma sala e eles me despencaram. Eu não sei o porquê. Agora, vou aguardar e assistir o julgamento. A última vez que eu os vi (os acusados pelo assassinato) foi horrível ver aquelas pessoas que fizeram aquela atrocidade com a minha filha foi difícil", lamenta. "No final, eu perdoei pois não vai adiantar eu ficar com raiva. Quero que a justiça seja feita. A minha filha foi errada e pagou com a vida. Agora, quero que eles sejam condenados. Hoje, eu faço o papel da mãe das meninas. Isso dói muito”, completa.

São os acusados Carlos Augusto Graça de Oliveira (preso); Rosemere Aparecida Ferreira (preso); Vanusa Vais Baldacine (preso); Carlos Antonio de Oliveira Junior; Monica Gomes Teixeira (responde em liberdade); Marcelo Eduardo de Medeiros (preso); Jorge dos Santos Pires (responde em liberdade por ocultação de cadáver); e Luciano Luis Gouvêa Pacheco (responde em liberdade por ocultação de cadáver). 

Nesta quinta-feira serão julgados pelo juiz Gustavo Kalil, da 4ª Vara Criminal, somente Carlos Augusto, Rosemere e Vanusa. O júri de Carlos Antonio, Monica e Marcelo Eduardo está marcado para o dia 20 de setembro. Já Luciano Luiz Gouveia Pacheco e Jorge dos Santos Pires ainda não tem data para irem para o banco dos réus. 

Relembre o caso

No dia 26 de agosto de 2014, Jandira, então grávida de cinco meses, saiu de casa para realizar o procedimento de aborto em uma clínica ilegal em Campo Grande e não voltou mais. Segundo a investigação, ela entrou em um carro na Rodoviária do bairro da Zona Oeste do Rio em direção a uma clínica ilegal. O procedimento teve complicações e ela acabou morrendo.

Para ocultar vestígios da morte, o grupo envolvido no crime carbonizou o corpo de Jandira em um carro, que foi encontrado em Mangaratiba. Após exames de DNA com material genético da mãe da vítima, foi confirmada que o corpo encontrado, sem os membros, era de Jandira.

Oito mulheres em um só dia

Durante as investigações, a polícia informou que tinha descoberto que Rose, como Rosemere era conhecida, fazia contatos com as clientes por telefone e chegava a marcar de seis a oito atendimentos por dia.

Os procedimentos eram realizados no quarto de uma casa alugada em Campo Grande, pelo qual ela pagava R$ 3 mil por dia de uso. As grávidas eram levadas por outra integrante do grupo em um Gol, veículo que Jandira foi levada e no qual seu corpo teria sido encontrado carbonizado.

Segundo informações da polícia, os abortos eram feitos com a ajuda de um médico e todo o material era levado para a clínica a cada dia de atendimento.

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