Para evitar o recebimento de dinheiro falsificado, comerciantes utilizam tecnologias como caneta de luz negra e máquinas testa-nota - Daniel Castelo Branco
Para evitar o recebimento de dinheiro falsificado, comerciantes utilizam tecnologias como caneta de luz negra e máquinas testa-notaDaniel Castelo Branco
Por NADEDJA CALADO

Rio - Transformar R$ 500 em R$ 6 mil; R$ 750 em R$ 10 mil; R$ 1.500 em R$ 25 mil ou qualquer outro valor em quantias até 2.000% maiores. É o que dezenas de anúncios na internet têm prometido. Mas não se trata de nenhum investimento, sorteio ou premiação. Ao contrário, são criminosos que anunciam a venda de cédulas de dinheiro falsas.

Os diversos anúncios na internet têm vários elementos em comum. Em geral, garantem que as notas têm marca d'água e são capazes de passar nas máquinas testa-nota e no teste das canetas de luz negra. "Faço vídeo falando seu nome, com data e hora, mostrando o material", oferecem alguns anunciantes, para atestar a veracidade. A maioria prefere negociar pelo WhatsApp, onde as mensagens são criptografadas.

Em conversa com a reportagem, acreditando estar negociando com possível comprador, um fornecedor explicou: "O pacote mínimo, de R$ 350, vai R$ 3.200 'fake' (falso). Não temos pacote menor, pois o custo para fazer a nota é alto". Procurado por possíveis clientes, ele envia dezenas de referências de outros supostos compradores, mostrando, em vídeos e fotos, malotes de dinheiro recebidos pelos Correios.

Em outros estados, a polícia já prendeu vários golpistas vendo as notas falsas pela internet.

Vítima do golpe

Embora os vendedores garantam que vão entregar, o anúncio pode ser falso, um golpe. Os compradores pagam o vendedor e as notas falsas nem sequer são entregues. "Não é verdade isso. Fiz o depósito, faz semanas, e nunca recebi. Nunca mais apareceu no WhatsApp, nunca mais me respondeu", alertou uma vítima. Ao DIA, sob a condição de não ter a identidade revelada, ela comentou: "No desespero, a gente faz várias coisas. Achei que ia resolver a vida, mas me afundei ainda mais".

O êxito do golpe se dá pelo fato de a maioria dos vendedores dizer preferir entregar o 'produto' pelos Correios ou por motoboys, e, não, em mãos. Além disso, a maioria usa perfis falsos no Facebook ou números de telefones anônimos no WhatsApp para fazer os anúncios.

Penalidades

A rede social, por sinal, serve apenas como uma plataforma para facilitar a prática de um crime antigo. A falsificação está prevista no artigo 289 do Código Penal, com penas que variam entre 3 e 12 anos de prisão. E quem coloca nota falsa em circulação, ciente da falsidade, pode ser condenado a penas entre 6 meses a 2 anos de detenção. O crime pode ser denunciado nas polícias Civil e Federal.

Recomendação do Banco Central alerta que quem perceber que recebeu nota falsa deve recusá-la na hora. Já aqueles que receberam, de boa fé e não perceberam, precisam procurar uma agência bancária, que encaminhará a cédula para análise. A quantia, porém, não será trocada ou substituída.

Equipamentos ajudam a evitar fraude

Comerciantes e pessoas que fazem várias transações em dinheiro devem ficar atentos às cédulas falsas. E podem se proteger com máquinas e canetas testa-notas. O uso de tais aparelhos, aliás, já é uma realidade em alguns estabelecimentos. É o caso de um restaurante na Lapa, que usa a caneta para evitar falsificações. “Só lembro de ter visto alguém tentar passar nota falsa aqui uma vez, e há muito tempo”, conta o gerente da casa, que pede para não ser identificado.

Outra forma de evitar prejuízos é aprender a identificar uma nota falsa. Segundo o Banco Central, nas cédulas antigas, o relevo, o tipo de papel e a marca d’água são as principais características.

Há ainda faixa holográfica nas notas de R$ 50 e R$ 100, e números que mudam de cor nas de R$ 10 e R$ 20. A explicação detalhada, com fotos, pode ser encontrada no site da instituição — www.bcb.gov.br.

Segundo a pesquisa ‘O brasileiro e sua relação com o dinheiro’, do Banco Central, divulgada mês passado, o número de pessoas que já receberam cédulas falsas tem caído: 23% dos entrevistados em 2018, contra 28% em 2013.

Entre quem recebeu as falsificações, apenas 28,3% entregaram para análise da instituição. O levantamento apontou a marca d’água é o item de segurança mais conhecido, seguido do fio de segurança e da textura da nota. No comércio, a textura é o item mais usado para reconhecer a nota verdadeira.

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