Rio - Uma instalação montada nos pilotis do Museu de Arte Moderna (MAM) faz homenagem ao Museu Nacional, dentro da 11ª edição da Exposição Rio+Design, atração da Semana Design Rio, que começou nesta quinta-feira e vai até domingo.
A ideia nasceu da comoção provocada pelo incêndio que destruiu o Museu Nacional, no último dia 2, deixando pesquisadores e visitantes órfãos de um acervo de 20 milhões de itens, oriundos do Brasil e de outros países. A homenagem é realizada pela agência Crama Design Estratégico, em espaço de 25 metros quadrados cedido no MAM.
A advogada Bárbara Sczesny disse que a instalação permite aos visitantes relembrar o Museu Nacional, ao mesmo tempo que faz uma crítica à falta de investimentos na preservação da cultura brasileira. "Estou arrepiada, porque, quando eu andei... 'está em chamas'! E eu me emocionei, mesmo sendo uma imagem do que aconteceu. Realmente é uma bela homenagem e uma crítica também", conta Bárbara.
Andando sobre cinzas
A instalação dá ao público a sensação de "andar sobre cinzas" ao se aproximar ou afastar de uma grande fotografia do Museu Nacional colocada no fundo do espaço, com efeito tridimensional. "Painéis flutuantes retratam as obras do acervo que foram perdidas, por meio de fotos postadas nas redes sociais por pessoas que documentaram as visitas feitas ao museu em diversas fases da vida", diz o CEO e diretor da Crama, Ricardo Leite.
Os painéis trazem o nome de quem enviou as fotos e frases de escritores e pensadores sobre a importância da arte e da cultura. "O projeto foi desenvolvido a partir do conceito de colocar as pessoas visitando o Museu Nacional das cinzas à reconstrução coletiva", informa Leite.
Na instalação, destaque para a mensagem que diz: "A cultura não é nossa. Ela está em nós. É um tesouro que não se perde nunca, que fica para sempre na gente". "O objetivo do texto é passar à população uma mensagem otimista, apesar da destruição do acervo do Museu Nacional, dizendo que o patrimônio que estava ali, por mais que ele tenha sido perdido fisicamente, vai permanecer em nós", salientou o CEO.
A mensagem destaca que, a partir da dor da perda das valiosas obras do Museu Nacional, é possível despertar na população a importância da preservação da nossa história, cultura e arte. "Queremos ajudar a renascer o encantamento, a beleza de se descobrir o mundo quando estamos dentro de um museu, avisa.
Leite lembrou que o próprio MAM foi alvo de um incêndio há 40 anos (em julho de 1978), em que se perdeu grande parte do seu acervo. "Havia um simbolismo muito grande. Nós estávamos dentro do MAM, tinha um espaço de 25 metros quadrados para expor o que a gente quisesse e decidimos prestar homenagem ao Museu Nacional. É uma oportunidade de levar o público visitante leigo a ter contato com a produção museológica do Rio de Janeiro", explica Leite.
Aprendizado
Para Sara Lustosa, farmacêutica de formação e escritora, mesmo em cinzas, o Museu Nacional não morreu. "Ele continua vivo. O físico dele morreu, mas o que ele deixou, o que se aprendeu dele não morre. Por isso, a gente tem que manter a cultura viva e perpetuar".
Ela lamentou que, além do acervo destruído, o trabalho de anos desenvolvido pelos pesquisadores tenha sido perdido também.
A psicóloga Sílvia Barbosa concorda com a mensagem transmitida na instalação: "É perfeita!", exclama.
Segundo Sílvia, o incêndio do Museu Nacional despertou o desejo, em muita gente, de visitar outros museus. "É não perder mais tempo para ver, para mostrar para as crianças, porque isso não vai se perder nunca se a gente ver, se viver isso".