Rio - Quatro meses depois que o DIA denunciou, com exclusividade, o descaso com bens públicos em Pinheiral, no Sul do estado - onde uma frota inteira, com pelo menos 20 veículos, entre eles um ônibus escolar e quatro ambulâncias -, apodrecem ao relento, novas imagens recebidas pelo jornal mostram o flagrante de dois homens num veículo da Secretaria de Saúde da mesma cidade, alimentando ainda mais o problema.
Eles, que seriam supostamente servidores municipais, aparecem nas imagens retirando cadeiras, móveis danificados e outros objetos, da carroceria de uma picape adesivada em nome da secretaria. Tudo é jogado no quintal da sede de outra secretaria, a de Meio Ambiente, na Estrada Pinheiral-Arrozal (RJ-141).
No local, já havia uma montanha de equipamentos obsoletos da prefeitura, equivalente à altura do teto do primeiro andar do imóvel, que chama a atenção e revolta contribuintes. "É revoltante rever essas cenas", desabafou o homem que fez as imagens, pedindo anonimato.
Criadouros de mosquitos
O "lixão clandestino de bens públicos", ironicamente na porta da Secretaria de Meio Ambiente, preocupa, porque, segundo os moradores, servem de criadouro de mosquitos, como Aedes aegypti (transmissor de quatro tipos de dengue, zika vírus, chikungynya e febre amarela), e de moradia para sem-teto, segundo testemunhas. Pior: mesmo completamente sucateados, os automóveis que se deterioram a cada dia, ainda são considerados partes ativas da administração municipal.
Em nota, a administração da Prefeitura de Pinheiral, que tem Ednardo Barbosa (MDB) como chefe do Executivo, informou que "mediante à nova denuncia, será feita a verificação, pois, até então, não há informação de novos depósitos na área". "Conforme nota enviada anteriormente, o material (veículos) que há anos está no local, antes de ser retirado, tem que passar por um levantamento sobre os bens para a realização de um leilão. Sendo assim, informamos que já foi nomeada uma Comissão de Avaliação e Desfazimento de Bens Inservíveis, que esta já começou a catalogar os bens inservíveis. A comissão tem um prazo de 120 dias para concluir o trabalho, tempo que pode ser prorrogado".
Prejuízos aos cofres públicos e indignação de contribuintes
Além dos veículos, a montanha de sucatas no local é formada por equipamentos obsoletos da prefeitura. São carcaças de computadores, aparelhos de ar condicionados, geladeiras, mesas e estantes de escritórios, mesa de massagem terapêutica e cadeiras de rodas. Todo os bens, adquiridos com dinheiro de impostos, poderiam ter sido leiloados ou vendidos para ferros-velhos, a partir do momento que passaram a não ser mais utilizados pelo governo municipal, de acordo com especialistas.
"Deixar patrimônios municipais chegarem a esse ponto de abandono e desleixo, à céu aberto, é o cúmulo da falta de compromisso com a coisa pública por parte dos governantes", lamentou o economista Jardielson Péricles da Conceição, que analisou as imagens, ressaltando que a venda da frota danificada poderia ter dado retorno para a compra de alguns carros novos.
Estima-se, que só com leilões de carcaças o lucro poderia ter sido superior a meio milhão de reais.
Os veículos abandonados, alguns totalmente depenados e até sem motor, conforme adesivos ainda colados nas latarias, conforme O DIA revelou na reportagem anterior, pertenciam à diversas secretarias, principalmente Saúde e Educação. Mas há também automóveis que serviam ao Departamento de Iluminação Pública e até à funerária municipal.
A carroceria de um tanque de combustível, já toda enferrujada, chama a atenção, assim como as ambulâncias, duas delas doados pelos governos estadual e federal.
