Foram comprados galões de água para consumo de pacientes e funcionários. Análise microbiológica deve ficar pronta na quinta-feira - Marcio Mercante / Agencia O Dia
Foram comprados galões de água para consumo de pacientes e funcionários. Análise microbiológica deve ficar pronta na quinta-feiraMarcio Mercante / Agencia O Dia
Por WILSON AQUINO

Rio - 'Eu quero viver. Se der metástase, eu não vou conseguir. Estou com muito medo". O desabafo, em tom de súplica, é do aposentado M., 62 anos, cuja operação para extirpar um tumor na mandíbula, que estava agendada para esta segunda-feira, foi suspensa, assim como todas as cirurgias eletivas marcadas para o Hospital do Câncer 1 (HC1), a principal unidade do Instituto Nacional do Câncer (Inca), na Praça Cruz Vermelha, no Centro do Rio de Janeiro.

O motivo do cancelamento é a contaminação na água do HC1. Segundo funcionários, vazou esgoto para as cisternas de água potável da unidade. Além das cirurgias, a quimioterapia adulta e infantil e o setor de endoscopia ficarão sem funcionar, provavelmente, até quinta-feira, quando deve ficar pronta a conclusão das análises microbiológicas da água.

"As consultas ambulatoriais e exames de laboratório continuam a ser realizados normalmente. O Banco de Sangue também está aberto aos doadores", comunicou o Inca, por nota. Segundo o instituto, no domingo houve uma pane em uma bomba responsável pela destinação final dos resíduos da Nutrição do Hospital do Câncer I. "Após a pane, verificou-se risco de contaminação de uma das cisternas do hospital, que teria afetado a qualidade da água distribuída em uma das colunas do edifício. Imediatamente, toda a água do sistema atingido foi descartada e o reservatório submetido a uma higienização e reabastecimento com água de outra fonte", destacou o instituto.

Nesta segunda, o Inca colocou em prática um plano de contingência no HC1, com distribuição de água mineral a colaboradores, pacientes, acompanhantes e visitantes. "É a segunda vez que suspendem a minha cirurgia", contou o aposentado M., que chegou a levar bagagem com roupas para o Inca, na esperança de ser internado para a operação. "Na semana passada, faltou o anestesista. Agora é o problema do esgoto. Todos nós sabemos que câncer tem que resolver logo, se não a gente morre", lamentou o aposentado, que não quis se identificar temendo represálias. Segundo M., mandaram ele voltar na semana que vem. "Mas me falaram que pode ser que não haja leito para operar".

Cartazes alertando para não consumir água de bicas e bebedouros foram espalhados no hospital. Servidores contaram que a administração demorou a perceber o problema e pacientes tiveram contato com a água contaminada. "Pessoas que saíram de cirurgia foram lavadas com esta água, que também foi usada na diálise", denunciou um funcionário. Entretanto, de acordo com a assessoria de imprensa do Inca, não há registro de pacientes que tenham sido atendidos com problemas ligados ao consumo da água.

Problema igual em outra unidade

Há três meses, outro vazamento de esgoto já havia comprometido o funcionamento de uma das unidades do Instituto Nacional do Câncer (Inca). O Hospital do Câncer II (HCII), no Santo Cristo, também suspendeu as cirurgias eletivas, tratamentos e até as consultas por conta da contaminação em sua rede de água.

Na ocasião, a direção da unidade admitiu que o vazamento de esgoto contaminou uma das três cisternas do hospital. A dúvida era se o refluxo era da rede de esgoto da prefeitura ou da Cedae. O Inca não comentou como o problema da unidade do Santo Cristo foi solucionado e nem quis se manifestar como o cancelamento de cirurgias prejudicam a saúde do paciente.

Em ambos os vazamentos de esgoto, foram funcionários e parentes de pacientes do Inca, os primeiros a alertarem sobre o problema, ao sentirem um cheiro forte nos bebedouros e na torneiras.

 

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