Material apreendido pela PF durante operação desta quinta-feira  - Divulgação
Material apreendido pela PF durante operação desta quinta-feira Divulgação
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - A Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) tiraram das ruas, na manhã desta quinta-feira, sete deputados estaduais acusados de integrar esquema criminoso comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral Filho (MDB). Agentes da PF também cumpriram mandados de prisão contra o ex-presidente da Alerj Jorge Picciani (MDP), que já cumpre prisão domiciliar. O presidente do Detran, Leonardo Silva Jacob, e seu antecessor no cargo, Vinicius Farah, que se elegeu deputado federal nas últimas eleições, estão foragidos. Caso não se apresentem à PF, a prisão temporária será convertida para preventiva. 

O grupo é acusado de lavagem de dinheiro, loteamento de cargos públicos e mão de obra terceirizada em órgãos da administração estadual. As autoridades esperam cumprir 22 mandados de prisão e outros 47 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2).

A ação deve ser realizada em pelo menos 40 locais, entre eles o prédio anexo da Alerj. A operação mira, ao todo, 10 deputados estaduais. Foram presos: Coronel Jairo (MDB), Luiz Martins (PDT), Marcelo Simão (PP), Marcos Vinícios “Neskau” (PTB), André Corrêa (DEM), Marcos Abrahão (Avante) e Chiquinho da Mangueira (PSC).

André Corrêa chega à sede da PF: ele é um dos presos por receber mensalinho e negou acusações - Estefan Radovicz / Agência O Dia

Além deles, Leonardo Mendonça Andrade, chefe do gabinete do deputado Marcos Abrahão (PP), e o chefe do gabinete do deputado André Corrêa (DEM) também foram presos. O último também foi alvo de mandado de busca e apreensão, que resultou na apreensão de uma grande quantidade de dinheiro em sua casa, localizada na Região Oceânica de Niterói, Região Metropolitana do Rio. O atual secretário de governo do Luiz Fernando Pezão, Affonso Monnerat, também foi preso. Em nota, o Governo do Estado declarou que "desconhece os fatos e não teve acesso aos autos do processo".

Affonso Monnerat, secretário estadual de governo e membro da equipe de transição é um dos presos da operação desta quinta-feira - ESTEFAN RADOVICZ / AGÊNCIA O DI

Os deputados estaduais Edson Albertassi (MDB) e Paulo Melo (MDB), atualmente presos em Bangu, também são alvos de mandado de prisão da operação desta quinta-feira. Além deles, a operação ainda tem mais sete alvos: quatro assessores da Alerj, um membro do Detran, um do Governo do Estado, e o último do grupo Facility/Prol.

Atualmente, André Corrêa é líder da mesa diretora e Chiquinho Mangueira é corregedor da Alerj, responsável por fiscalizar os deputados.

Chiquinho da Mangueira é um dos presos na operação desta quinta-feira - ESTEFAN RADOVICZ / AGÊNCIA O

Na sede da PF, André Corrêa negou todas as acusações. Ele entrou aos gritos de “quem não deve não teme” e em uma breve declaração aos jornalistas afirmou que se eleito presidente da Alerj vai retirar o PSol da Comissão dos Direitos Humanos.

“Sigo com a minha candidatura à presidência da Alerj e reafirmo o meu compromisso de, se eleito [presidente da Alerj], retirar o PSol da Comissão de Direitos Humanos e confio na Justiça do meu país e do Estado, sobretudo na justiça divina. Estou tão tranquilo que nem advogado eu tenho”, declarou.

Sete dos deputados estaduais presos nesta quinta-feira foram reeleitos na eleição do último mês: Coronel Jairo (MDB), Luiz Martins (PDT), Marcelo Simão (PP), Marcos Vinícios “Neskau” (PTB), André Corrêa (DEM), Marcos Abrahão (Avante) e Chiquinho da Mangueira (PSC)

No começo da tarde, poucas horas após a prisão de sete colegas parlamentares e a manutenção da prisão de outros três, o presidente em exercício da Alerj André Ceciliano (PT) abriu a ordem do dia normalmente e falou sobre a operação "Furna da Onça".  "O trabalho da Casa vai continuar (normalmente). Eu defendo que sejam realizadas as investigações e que seja dado amplo direito de defesa dos acusados", disse. 

Nos corredores da Casa o que se via era deputados constrangidos com o que aconteceu nesta quinta-feira.

A operação

Os deputados são suspeitos de usarem a Alerj a serviço de interesses da organização criminosa do ex-governador Sérgio Cabral (MDB), que em troca pagava propina mensal (“mensalinho”), que variava de R$ 20 mil a 100 mil reais, durante seu segundo mandato (2011- 2014). Os valores eram pagos em troca de votos em favor de projetos de lei de interesse da organização.

De acordo com as investigações, a propina resultava do sobrepreço de contratos estaduais e federais. As empresas do Grupo Prol ofereciam as vagas de trabalho prometidas aos deputados estaduais pelo Executivo estadual. Em troca, o Poder Executivo estadual garantia ao Grupo Prol contratos vantajosos com órgãos e pessoas jurídicas vinculadas ao Estado.

Além de Cabral, comandavam a organização investigada os ex-presidentes da Alerj Jorge Picciani e Paulo Melo, presos um ano atrás na Operação Cadeia Velha.

A delação de Carlos Miranda, considerado como o operador financeiro do esquema chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral, foi usada como fonte para a denúncia do Ministério Público Federal que levou às prisões dos deputados estaduais do Rio. Ela indica que André Corrêa recebia R$ 100 mil por mês, Marcos Abrahão e Luiz Martins recebiam R$ 80 mil, e Marcos Vinícios "Neskau" recebia R$ 50 mil.

Na denúncia, há também os valores pagos a Edson Albertassi (R$ 80 mil por mês), Chiquinho da Mangueira (mais de R$ 3 milhões), Coronel Jairo (R$ 50 mil por mês), Jorge Picciani (R$ 400 mil por mês), Marcelo Simão (R$ 20 mil por mês) e Paulo Melo (R$ 900 mil por mês).

Nesta quinta-feria, 48 equipes da PF e 35 membros do MPF na 2ª Região (RJ/ES) e MPF/RJ estão participando da ação, que é um desdobramento Operação Cadeia Velha, deflagrada em novembro de 2017, que prendeu o então presidente da Alerj Jorge Picciani, em prisão domiciliar, e os deputados Paulo Melo e Jorge Albertassi, que cumprem pena em Bangu. A operação investigou esquema de corrupção em que os deputados usavam da sua influência para aprovar projetos na Alerj para favorecer as empresas de ônibus e também as empreiteiras.

O nome da operação faz referência a uma sala de reuniões que fica perto do plenário da Alerj, onde os deputados, segundo as investigações, se reuniam para rápidas discussões antes das votações no plenário.

Em nota, a assessoria do deputado Chiquinho da Mangueira declarou "que todas as acusações imputadas a ele através da operação 'Furna da Onça', realizada pela Polícia Federal, que o levou a prisão temporária no dia de hoje (08), são infundadas e totalmente inverídicas. Segundo o advogado Pablo Andrade, da equipe jurídica de Chiquinho da Mangueira, a medida foi completamente desarrazoada e ficará demonstrado que não houve qualquer ato ilícito praticado pelo deputado". 

A assessoria do deputado André Corrêa publicou a seguinte nota em suas redes sociais: "Deus no controle sempre. Nunca envergonhei vocês. Confio na justiça do meu Estado e do meu País. Quem não deve não teme. Lamento que no momento que 44 deputados assinam um compromisso com minha candidatura à Alerj isto aconteça. Repito que estou tranquilo. Quem me conhece sabe meu modo de agir. Continuarei de cabeça erguida. Não tenho sequer advogado. Confio em Deus."

"O Ministério Público Federal (MPF) transformou a persecução penal em uma ação sem critério lógico. como se fosse uma loteria. Ressaltamos que o deputado Edson Albertassi nunca participou de qualquer ato criminoso durante seus mandatos e reafirma sua inocência”, declarou a defesa de Albertassi em nota.

"O sr. Vinicius Farah confia na Justiça e afirma que a situação será devidamente elucidada. Ele já se apresentou às autoridades em Brasília para os devidos esclarecimentos. Ele estava na cidade para agenda de trabalho", declarou a defesa de Farah.

Você pode gostar