Rio - A facção criminosa Comando Vermelho (CV) fez uma ameaça em vídeo à procuradora-geral do Paraguai, Sandra Quiñonez, forçando o Ministério do Interior a montar uma operação para protegê-la. O grupo está com o seu líder, Marcelo Pinheiro Veiga, o Marcelo Piloto, preso no país desde dezembro do ano passado. Divulgação do vídeo acontece um dia após o narcotraficante negar acusações de terrorismo.
No vídeo, cinco homens encapuzados e armados com fuzis exibem a foto de Quiñónez. Eles dizem à mulher que “sua cabeça está à venda” e lhe prometem que, se eles não completarem sua missão, outra equipe o fará, na mensagem que dura 40 segundos e termina com os criminosos apontando a arma para a câmera.
Três dos homens que estão no vídeo foram mortos pelas forças de segurança no final de outubro, segundo o governo paraguaio. Os outros dois permanecem sendo procurados pelas autoridades do país.
A existência do vídeo foi divulgada pelo Ministério do Interior paraguaio. O governo reforçou a segurança da procuradora enquanto investiga a origem das imagens. As facções brasileiras têm conseguido ganhar força em territórios vizinhos. Além do Paraguai, a forte presença dos grupos é também notada na Bolívia, e em menor grau, na Colômbia, no Peru e na Guiana.
Em uma casa na cidade de Presidente Franco, a 300 quilômetros de Assunção e na Tríplice Fronteira, uma cópia do vídeo foi achada. No mesmo local, as autoridades localizaram um carro-bomba, que seria usado para resgatar Marcelo Piloto, hoje preso no Agrupamento Especializado da Polícia, na capital. O veículo foi detonado de forma controlada pela polícia.
Terrorismo
A divulgação do vídeo ocorreu um dia depois de Piloto ter concedido uma entrevista coletiva, de dentro da prisão, à imprensa paraguaia, em que nega a acusação de terrorismo, imposta a ele pelas autoridades policiais. "Não estou dizendo que sou inocente Mas não sou terrorista, nunca fui. Jogaram coisas em cima de mim que não são verdadeiras", alegou.
"Todo mundo sabe que me dedico ao comércio de armas e drogas. Compro aqui em Assunção e vendo em Ciudad del Este, Pedro Juan Caballero, em Salto del Guairá. Compro e vendo", acrescentou, de acordo com jornais paraguaios.
Ele foi preso em dezembro passado em Encarnación após uma operação que mobilizou agências antidrogas do Paraguai, Brasil e Estados Unidos. O governo brasileiro busca a sua extradição, que está sob análise da Justiça do país vizinho.
Na entrevista, Piloto disse ainda que pagava muito dinheiro para que um comissário da Polícia Nacional o protegesse de investigações no Brasil. O ministério ordenou uma apuração após essa declaração.
Nesta quinta-feira, ao jornal O Estado de S. Paulo, o Ministério da Segurança Pública do Brasil disse não ter sido comunicado pelo Paraguai sobre o vídeo.
Após voltar de viagem, o presidente paraguaio Mario Abdo Benítez afirmou que tinha conhecimento da gravação "há tempos". A própria procuradora-geral disse que há semanas soube da ameaça. "Fui convocada pelo ministério e advertida para tomar todas as precauções quanto a minha segurança." Sandra recebeu também o apoio do embaixador americano no Paraguai, Lee McClenny.
De acordo com Sandra, o vídeo não havia sido divulgado antes pois causaria "impacto de terror". Ela revelou que, além dela, outros promotores que atuam contra o narcotráfico foram ameaçados, mas não deu detalhes.
A Justiça do Paraguai já autorizou a extradição do narcotraficante. De acordo com informações do jornal paraguaio La Nacion, a decisão foi tomada pela juíza Alicia Pedrozo, no dia 26 de outubro, após diversas tentativas de resgate do chefão do Comando Vermelho (CV).
A extradição de Piloto, no entanto, só ocorrerá após a conclusão de dois processos que ele responde no Paraguai, um por homicídio e outro por falsificação de documentos. Piloto é condenado a 26 anos de prisão no Brasil.
Marcelo Piloto
Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, o Marcelo Piloto, foi preso no Paraguai em dezembro de 2017. Ele foi encontrado em uma operação da Secretaria de Estado de Segurança do Rio (Seseg), em conjunto com a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai (Senad), a Polícia Federal brasileira, a Polícia Nacional do Paraguai e a Agência Antidrogas Americana (DEA).
Piloto era homem de confiança de Fernandinho Beira-Mar (preso em penitenciária federal há 11 anos), tendo recebido todos os contatos de fornecedores de armas de Marcelinho Niterói, morto por agentes da Polícia Federal na Maré, em 2011.
Na ficha criminal do traficante, há também participações em ações violentas, como arrastões e ataques a Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), além de resgate de preso.
Segundo o Portal dos Procurados, Piloto, também conhecido como Celo, foi preso pela primeira vez em 1998. Em 2007, seis dias após ganhar da Justiça o benefício do regime semiaberto, ele fugiu do Instituto Penal Edgard Costa, em Niterói, na Região Metropolitana. Contra ele, havia ao menos 20 mandados de prisão.
Piloto faz parte do grupo de dez traficantes, acusados de participar do resgate de Diogo de Souza Feitoza, o DG, de 29 anos, da 25ª DP (Engenho Novo), no dia 3 de julho de 2012. A principal área de atuação dele era em Inhaúma, Ramos, Penha, Bonsucesso, Pilares e Benfica. O traficante costumava ainda promover bailes funk nas comunidades, impulsionados pela venda de drogas, e circular com carros roubados. Em julho de 2010, Piloto teria participado de arrastões na Avenida Pastor Martin Luther King e na Linha Amarela.
*Com informações do Estadão Conteúdo