Carro de Diogo foi atingido por mais de 30 disparos. Em outro bloqueio, o policial bateu em um veículo  - Estefan Radovicz / Agência O Dia
Carro de Diogo foi atingido por mais de 30 disparos. Em outro bloqueio, o policial bateu em um veículo Estefan Radovicz / Agência O Dia
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - O soldado da Polícia Militar morto a tiros após furar bloqueios do Exército em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, teria confundido militares com criminosos que atuam em comunidades da região. Segundo uma fonte da Polícia Civil ouvida pelo DIA, o PM Diogo Gama Alves Mota, de 35 anos, passava pela via escura durante a madrugada, por volta das 5h, o que pode ter dificultado a identificação da barreira militar. O Comando Conjunto da Intervenção determinou a abertura de um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar o caso.

O soldado da PM morava a um quilômetro do local do crime e seguia em seu carro para o 6º BPM (Tijuca), onde pegaria uma viatura descaracterizada para buscar o comandante da UPP Andaraí, onde era lotado. Os dados preliminares narrados pela fonte ouvida pelo DIA apontam que o policial desceu do carro ao ver os militares, descarregou sua pistola e voltou a entrar no seu automóvel, um Kia Cerato. Nesse momento os militares revidara com vários disparos.

Diogo Gama já estaria baleado quando bateu no carro de um morador que estava no segundo bloqueio, o que provou uma nova reação e disparos dados pela equipe que estava nessa barreira, a cerca de 500 metros da primeira. "Foi uma fatalidade. A noite não daria para o policial identificar os miliares", disse o policial civil. O soldado da PM era casado e deixa um filho de 8 anos. O veículo do policial foi atingido por mais de 30 disparos. 

Diogo Gama Alves Mota - Divulgação

"Ele jamais iria atirar. Acredito que ele tenha se assustado e confundido os militares. Todo dia quando ele ia trabalhar ele passava por aqui. Ele era um moleque bom de coração que ajudava todo mundo. O filho dele era apaixonado por ele", diz o eletricista Renato Alves, 28 anos, primo de Diogo.

O tio do policial também acredita que o sobrinho tenha se assustado ao confundir os militares com criminosos. "Está todo mundo estarrecido e pasmo. Pela conduta do Diogo, ele jamais iria atirar no Exército. Ele era motorista do comandante e levava muito a sério a polícia. O meu sobrinho era apaixonado pela profissão e respeitava o que fazia, e os cidadãos. Acredito que ele tenha confundido a blitz, que segundo quem passou por aqui, estava mal sinalizada", disse Francisco Assis Alves, de 48 anos.

Segundo o Comando Militar do Leste, Diogo não estava em serviço no momento da ocorrência e estava em um veículo particular, um Kia Cerato. Ele furou os bloqueios atirando contra as equipes do Exército e descumpriu uma ordem de parada. No segundo bloqueio, os militares começaram a atirar contra o soldado, que perdeu o controle do seu carro e bateu no veículo de um popular, que acabou sendo atingido por um tiro na perna. A vítima, identificada como Carlos Cesar de Azevedo, de 66 anos, está em observação no Hospital Geral de Nova Iguaçu e será estado de saúde é estável.

Militares isolam cena do crime: PM foi morto pelo Exército ao furar dois bloqueios e fazer disparos, segundo o Comando Militar do Leste (CML) - Estefan Radovicz / Agência O Dia

De acordo com o CML, "após desobedecer às determinações de parar e ignorar os demais sinais de advertência previstos nas regras de engajamento, foi alvejado por disparo de arma de fogo decorrente da legítima reação da tropa, indo a óbito no local".

Policiais da Delegacia de Homicídio da Baixada Fluminense (DHBF) chegaram no local por volta das 8h30 para realizar a perícia. Um trabalho pericial também é feito pelo Exército, que será responsável pela investigação. Cápsulas de armas foram recolhidas e os agentes buscam imagens de câmeras de segurança para tentar entender como começou a troca de tiros.

A Corregedoria da PM acompanha os trabalho, assim como o comandante da UPP em que a vítima trabalhava. A Avenida Joaquim da Costa Lima foi interditada para a perícia por cerca de duas horas e meia, causando um grande congestionamento na região.

Mais de 3 mil militares em 18 comunidades de Belford Roxo

As Forças de Segurança realizam, desde a madrugada desta quarta-feira, uma operação em 18 comunidades de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Os militares estão na Palmeira, Castelar, Vilar Novo, Santa Amélia, Morro da Fonte, São Leopoldo, Gogó da Ema, Bom Pastor, Parque São Vicente, Parque Floresta, Morro da Galinha, Morro da Caixa D'Água, Morro do Machado, Guaxa, Parque Roseiral, Vale do Ipê, Parque São José e Santa Teresa. São 3 mil agentes das Forças Armadas, 130 policiais civis e 250 policiais militares, com apoio de blindados e aeronaves.

Bases do Exército — com tanques, blindados e caminhões — foram montadas em varias partes da cidade de Belford Roxo. Militares percorrem as ruas e fazem blitzes revistando pedestres, carros e motos. Uma das bases foi montada em frente ao batalhão da Polícia Militar.

"Nunca vi tanto soldado do Exército aqui na cidade. Parece até que estamos em guerra. Mas, vale a pena, porque nunca vimos tantos bandidos a solta. Moro aqui há mais de 60 anos e a violência tá demais”, disse um aposentado de 77 anos, que pede anonimato, e mora no município conhecido por ser a “Cidade do Amor”.

De acordo com o Comando Conjunto da Intervenção Federal na Segurança Pública do Rio, os militares estão fazendo cerco, estabilização dinâmica das áreas e remoção de barricadas. Também são realizadas revistas de pessoas e de veículos, além da checagem de antecedentes criminais. Além disso, os agentes verificam denúncias de atividades criminosas e mandados judiciais poderão ser cumpridos.

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