Rio - Jorge Alberto Moreth, o "Beto Bomba", um dos alvos da operação contra a milícia de Rio das Pedras, nesta terça-feira, é o presidente da Associação de Moradores da comunidade, cargo conquistado, segundo o Ministério Público do Rio (MPRJ), a partir de ameaças e uso de força. Através da associação são realizadas as transações de compra e venda dos imóveis construídos ilegalmente e a manipulação de documentos necessários à concretização de operações ilícitas, além de empréstimos.
""Beto Bomba" goza de informações privilegiadas sobre operações policiais realizadas nas localidades dominadas, sempre alertando seus subordinados, de forma prévia, sobre as intervenções programadas, a fim de que o esquema criminoso não seja desbaratado", diz o Ministério Público.
Documentos comprovam que moradores eram obrigados a alugar determinadas casas e se precisassem de empréstimos não poderiam pegar em bancos ou empresas especializadas. Os moradores eram obrigados a contratar as dívidas junto à associação. Em um dos documentos, o Ministério Público encontrou uma pessoa que fez um empréstimo de R$ 100 mil a juros de 6% ao mês.
Em outro, os policiais encontraram o nome de pelo menos 20 pessoas que alugavam casas e apartamentos dos milicianos. De acordo com as provas, que estão sendo analisadas, todas as operações de compra e venda de imóveis passava pelo crivo da associação de moradores de Rio das Pedras.
Alguns integrantes do grupo também respondem pelo homicídio de Júlio de Araújo, em 24 de setembro de 2015, morto com vários tiros na cabeça da vítima e que seria uma "queima de arquivo", já que ele poderia fazer denúncias sobre crime anterior cometido por integrantes da organização criminosa. Também há imputação do crime de corrupção ativa para dois denunciados.
O MP do Rio pede a condenação dos denunciados por organização de milícia e pelos crimes de homicídio "mediante recompensa", por motivo torpe ou emboscada. "O Ministério Público espera que, a partir destas prisões, a comunidade passe a denunciar outras práticas ilegais de cobrança ilegal de taxas e outros crimes praticados pela organização criminosa", diz o órgão.
Entre alvos, suspeitos de matar Marielle e Anderson
A operação, chamada de "Os Intocáveis", busca prender nesta terça-feira suspeitos das execuções da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Pedro Gomes. A ação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil, conta com cerca de 140 agentes e visa cumprir 13 mandados de prisão preventiva, além de busca e apreensão, contra a milícia mais antiga e perigosa do estado: a que atua em Rio das Pedras, Muzema e redondezas. Cinco pessoas foram presas.
Entre os presos estão o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira e Maurício Silva da Costa, o Maurição, tenente reformado da Polícia Militar. Os dois são chefes do grupo miliciano, ao lado de Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão do Bope, que também é procurado. Os outros presos são Manoel de Brito Batista, o Cabelo; Benedito Aurélio Ferreira Carvalho, o Aurélio; e Laerte Silva de Lima.