Ônibus do BRT trafega lotado e com as portas abertas na Avenida das Américas, no Recreio, Zona Oeste do Rio - Daniel Castelo Branco
Ônibus do BRT trafega lotado e com as portas abertas na Avenida das Américas, no Recreio, Zona Oeste do RioDaniel Castelo Branco
Por O Dia

Rio - Quem precisa do BRT Transolímpico, que liga a Vila Militar ao Recreio dos Bandeirantes para se deslocar pela cidade do Rio, enfrentou intervalos longos e veículos lotados na manhã desta segunda-feira. A dor de cabeça aconteceu no mesmo dia em que o prefeito Marcelo Crivella acompanhou uma operação no Terminal Alvorada determinada pela intervenção, na qual cerca de 80 agentes públicos, dentre guardas municipais, agentes de controle urbano e assistentes sociais percorreram as estações de BRT.

A ação foi feita para reduzir o número de passageiros que utilizam o transporte sem pagar e a ação de ambulantes nas estações. A equipe de O DIA percorreu a Avenida das Américas, na Zona Oeste do Rio, e flagrou diversas irregularidades.

Lixo se acumula na entrada da estação do BRT no Tanque - Agência O Dia

Quando o sistema o Transporte Rápido por Ônibus (Bus Rapid Transit- ou BRT) entrou em atividade em junho de 2012, certamente seus administradores e a Prefeitura carioca jamais imaginaram que um dia as estações com design moderno e ousado se transformariam em camelódromos. Mas é exatamente isto que vem acontecendo em várias delas, como no corredor Transcarioca, que liga a Barra da Tijuca até o aeroporto internacional do Galeão.

Sob o olhar complacente dos funcionários, homens e mulheres instalaram bancas no interior das estações e em seus acessos, onde é possível comprar até roupas, como no Tanque. Já na Antônio Teles, em Campinho, Zona Norte do Rio, um morador de rua utiliza uma das entradas como casa. Como se não bastasse, vários usuários utilizam a "gratuidade", isto é, o calote para não pagar a passagem.

Entrada da estação do BRT do Tanque tem bancas de roupas e comidas - Agência O Dia

Segundo um levantamento do Consórcio em 2108, realizado através da análise das câmeras de monitoramento, o número de calotes era de 74 mil por dia, nos quatro corredores do sistema. Diariamente são transportadas cerca de 500 mil passageiros. 

A presença dos camelôs é maior nas estações que atendem usuários da Zona Norte e uma parte da Oeste. Quanto mais próximo de áreas consideradas nobres como Jardim Oceânico, Alvorada entre outros os ambulantes atuam em menor número ou circulam no ônibus articulados e das linhas alimentadoras. "Tem horas que me sinto em um trem da Supervia, onde a todo instante tem alguém vendendo alguma coisa. Acho um absurdo várias estações terem se transformado em ponto de vendas de biscoitos, refrigerante ou água. Entendo que as pessoas precisam trabalhar, mas eles são ilegais. O pior é que ninguém faz nada", reclama o funcionário público Humberto dos Santos, 35 anos.

Reportagem do DIA flagra diversas irregularidades em BRTs na Avenida das Américas, no Recreio - Daniel Castelo Branco

Caixas estocadas

A reportagem de O DIA percorreu as estações de Campinho, Capitão Menezes, Ipase, Praça Seca, Antonio Teles e Tanque. O cenário não é muito diferente em nenhuma delas. A certeza da impunidade é tanta que em um dos acessos da estação da Praça Seca caixas de biscoitos estão empilhadas ao lado das máquinas de recarga. A reposição do estoque é feito pela porta de embarque e desembarque que estão sempre abertas.

Entrada do BRT da Praça Seca é usado como depósito por camelôs - Agência O Dia

Segundo um dos vendedores que não quis se identificar, a fiscalização é rara e os funcionários das estações não impedem a venda. "Um amigo começou vendendo em uma estação aqui perto. Como estou desempregado também resolvi entrar no "negócio", sempre levo algum dinheiro para casa", conta o ambulante que não revelou como consegue as mercadorias.

O autônomo Kleiton Moreira, 30 anos, diz ser favorável aos camelôs. "Não vejo problema algum, como as estações não tem nenhuma lanchonete, é uma alternativa para enganar a fome ou matar a sede. Eles não atrapalham em nada com as bancas", defende.

O BRT Rio informou que fiscalizar a atuação de ambulantes, assim como coibir calotes, transgressões, delitos e crimes de qualquer natureza é atribuição e competência do poder público, e que tem enviado oficios à Prefeitura relativo a ação dos ambulantes. O consórcio entrou na Justiça com uma ação cível contra o Poder Concedente.

Equipe do DIA registra BRT fazendo retorno por canteiro central na Avenida das Américas no Recreio - Daniel Castelo Branco/ Agência O DIA

Quanto aos calotes o BRT destaca que desde o dia 1º de outubro de 2018 está em vigor o decreto 44.837, que ficou conhecido popularmente como a "Lei do Calote". De acordo com o decreto, a fiscalização e aplicação de multa de quem não pagar passagem cabe à Guarda Municipal do Rio.

A Guarda Municipal disse que atua na fiscalização do BRT, por meio de rondas, com foco na coerção a evasão em 33 estações indicadas pelo consórcio como de maior incidência de não pagamento da tarifa do transporte. Durante o patrulhamento, caso os agentes flagrem ambulantes sem autorização atuando no entorno das estações, eles realizam a apreensão com foco na desobstrução do espaço público.

Em relação ao morador de rua na estação Antonio Teles, a Secretaria Municipal de Assistência Social informou que uma equipe tentou levá-lo para um abrigo, mas ele não aceitou. Segundo a secretaria, as pessoas em situação de rua podem aceitar ou não o acolhimento institucional, bem como, não acompanhar a equipe de abordagem após o atendimento. Uma nova tentativa será feita na próxima semana.

Você pode gostar
Comentários