Rio - Se no mundo real o PM reformado Ronnie Lessa tinha como alvo a vereadora Marielle Franco, no mundo virtual na mira do militar estava parlamentares de esquerda e seus parentes, os ex-presidentes da república, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT, delegados, autoridades e jornalistas, profissionais e entidades ligadas aos Direitos Humanos, como a Anistia Internacional.
As buscas na rede mundial de computadores foram feitas ao longo de 2017 e terminaram pouco tempo antes do crime, que aconteceu dia 14 de março de 2018.
Lessa e o ex-PM Élcio Queiroz foram presos nesta na quarta-feira acusados de envolvimento nas mortes da vereadora Marielle Franco e o motorista dela Anderson Gomes em março de 2018. O PM é apontado como o executor dos disparos que mataram as vítimas, e Élcio era o motorista do Cobalt prata usado no crime.
O deputado federal Marcelo Freixo (Psol) e familiares do parlamentar apareceram na lista de buscas de Lessa na internet rastreadas pela Delegacia de Homicídios. Palavras como morte, enforcado e estado islâmico estão associadas ao nome do político. Morte ao Psol também foram digitadas pelo sargento em sites de buscas.
Além de Freixo, o deputado estadual do Psol Flavio Serafini também foi procurado pelo PM em sites. A busca foi feita após Lessa buscar pelo termo 'bomba em protesto' e encontrar matéria veiculada na mídia onde dizia que o parlamentar foi alvo de bomba durante manifestações e que iria denunciar o ataque ao Ministério Público.
"A gente vai solicitar investigações específicas sobre os casos. Isso nos preocupa porque é um crime que tem objetivo e aspecto ideológico. Por isso, é preciso encontrar o mandante", afirmou Serafini.
Lessa ainda procurou por endereços onde Marielle poderia estar, como um curso de inglês e um antigo endereço no Rio Comprido, Zona Norte do Rio. A investigação cruzou os dados das buscas sobre a vereadora feitas pelo PM com a agenda de compromissos de Marielle, anotados no celular dela, e constatou que o policial acompanhava os passos da vítima.
Sargento pesquisou sobre arma, silenciadores e bloqueadores de sinais
O sargento também pesquisou por metralhadora MP5, que teria sido usada no crime. A arma que matou Marielle e Anderson ainda não foi encontrada. Ele também buscou por bloqueadores de sinais de GPS e de celular, o chamado Jammer ou Capetinha, e silenciadores para arma. Testemunhas do homicídio contaram que os sons dos tiros que mataram as vítimas estavam abafados.
As investigações também descobriram que Lessa pesquisou por “Intervenção Federal no Estado do Rio de Janeiro” na tentativa de achar parlamentares que votaram em desfavor da ação, que durou de fevereiro de 2018 a 31 de dezembro do mesmo ano. Marielle era relatora da comissão criada para acompanhar e fiscalizar a intervenção no estado.
O general Richard Nunes também foi alvo das pesquisas de Lessa enquanto o militar foi secretário de Segurança do estado durante o período da intervenção.
Em muitas das buscas feitas pelo nome Dilma, uma delas mostra acesso a uma montagem da ex-presidente decapitada. Dilma estado islâmico e Lula enforcado também foi um termo pesquisado pelo policial.
Nas buscas, Lessa pesquisou como seria possível apagar os acessos
Ditadura Militar e Ustra também foram digitadas nas buscas do PM. Ustra é Carlos Alberto Brilhante Ustra coronel do Exército Brasileiro, ex-chefe do DOI-CODI entre 1970 a 1974, um dos órgãos de repressão política na época da ditadura no país. O militar é ídolo do presidente da República Jair Bolsonaro, que foi vizinho de Lessa, num condomínio de luxo da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, até Bolsonaro se mudar para Brasília. Ustra foi o primeiro militar condenado pela Justiça Brasileira pela prática de tortura durante a ditadura.
As investigações também descobriram que Lessa tentou apagar todas as suas buscas na internet digitando 'Desfazer a sincronização do Google Chrome'. Para a polícia, ficou evidenciado que o policial tinha por objetivo excluir os dados dele dos servidores do Google.