Ciep Brigadeiro Sérgio Carvalho, em Campo Grande - Luciano Belford/Agência O Dia
Ciep Brigadeiro Sérgio Carvalho, em Campo GrandeLuciano Belford/Agência O Dia
Por GUSTAVO RIBEIRO

Rio - O adolescente de 15 anos esfaqueado no braço por outro aluno, de 16, dentro do Ciep Brigadeiro Sérgio Carvalho, em Campo Grande, na quinta-feira, não quer mais voltar para o mesmo colégio. A mãe da vítima disse o garoto ainda está em estado de choque. Era o primeiro dia de aula do rapaz na nova escola, para cursar o 1º ano do Ensino Médio. A cuidadora de idosos Claudia Regina Cerqueira Carvalho, de 43 anos, não queria matricular o filho no Ciep por causa da distância de casa e chegou a pedir para ele não ir naquele dia. Ela acha que foi um pressentimento.

"Ele está se demonstrando forte, mas a mãe conhece. Ele disse: 'Eu não quero voltar para lá'. E eu falei: 'Mas você não vai voltar pra lá'. Eles vão dar o jeito deles de arrumar vaga perto da minha casa. E não é só ele. A outra amiguinha também, que o socorreu até a secretaria. O garoto também disse pra ela que ia matá-la. Na delegacia, disse que ia matar meu filho, ia matar ela e mais um, e depois ia se matar", relatou a mãe ao DIA.

"Ele está aéreo. Eu estou uma pilha de nervos, porque é um aluno exemplar. Nunca teve problema na escola antiga. Os professores ficaram sabendo e estão desesperados. Aonde a gente vai parar? Eu vou ter que prender meu filho dentro de casa? Vou ter que trancar ele do mundo por causa de pessoas doentes que vivem na mesma sociedade que a gente? Se ele (o agressor) é doente, tinha que ter um laudo e um acompanhamento médico", acrescentou.

Claudia recebeu por uma amiga a notícia de que o filho tinha sido vítima de uma facada e entrou em desespero. Chamou um Uber e foi correndo para o hospital. O rapaz levou quatro pontos no braço esquerdo e recebeu alta. O adolescente relatou à mãe nunca ter visto o agressor, que o abordou perguntando seu nome. A vítima pensou que fosse alguém querendo fazer amizade.

"Ele respondeu: 'Meu nome é Gabriel'. O outro tirou um facão de cozinha da cintura e tentou atingir a barriga do meu filho no pátio. Eles ainda nem tinham ido para a aula e não houve briga. Meu filho se afastou para trás e chegou a tentar lutar, mas acabou ferido no braço. Nesse momento, o garoto falou apenas: 'O mundo é nosso'. A camisa ficou toda ensanguentada. O Gabriel e as outras crianças correram na hora", lembrou a cuidadora de idosos, que está à base de calmantes.

A mãe de Gabriel foi na quinta-feira mesmo registrar ocorrência. Na delegacia, ficou sabendo que o agressor já estudava há mais tempo no Ciep, seria um aluno com dificuldade nos estudos e que já havia repetido de ano. Claudia chegou a ver a mãe dele na unidade policial, mas elas não tiveram contato. "Parece ser um menino sem estrutura familiar. Disseram que ele sofre problemas mentais", ressaltou. O que mais deseja agora é que o filho consiga uma vaga em outro colégio e possa continuar se dedicando aos sonhos, como ser cantor e ajudar a terminar de construir a casa dos pais. Ele chegou a se inscrever na última edição do programa 'The Voice Kids'.

Por último, Claudia fez um apelo para que a segurança nas escolas seja reforçada e cobrou acompanhamento psicológico para as crianças que necessitam. "Tinha que ter em todas as escolas um psicólogo, um guarda municipal ou um policial para quando acontecesse alguma coisa. Ser revistado antes de entrar, porque eles não são revistados. Tem que revistar. Você não sabe quem está entrando na escola."

Funcionário do CIEP Brigadeiro Sérgio Carvalho, em Campo Grande - Luciano Belford/Agência O Dia

Um dia após ataque, estudantes preferiram não ir ao colégio

O Ciep Brigadeiro Sérgio Carvalho, em Campo Grande, não suspendeu as aulas nesta sexta-feira, um dia depois que um aluno foi esfaqueado por outro no pátio. Mas o clima era bem diferente do normal. A agitação de alunos deu lugar a pátio vazio e silêncio de estudantes, pais e funcionários, que refletiam sobre o ataque que poderia ter tido desfecho trágico. O portão ficou trancado em tempo integral com cadeado e um porteiro abria e fechava sempre que alguém passava. "Agora tem que ficar assim", disse um funcionário.

Abalados, muitos adolescentes preferiram não ir ao colégio nesta sexta. "Eu só estou vindo aqui para recarregar o cartão, porque preciso dele para ir à Faetec. Minha turma combinou de não vir porque a gente já sabia que não ia estar muito legal e ia acabar não tendo matéria, porque ficaria um clima e as pessoas comentando", contou uma aluna de 17 anos, do 3º ano do Ensino Médio, que preferiu não se identificar.

Segundo ela, o Ciep costuma ser seguro. "Fica geralmente um moço aqui na porta ou ali no portão", explicou. A adolescente acha que as escolas precisam tomar medidas para evitar novos casos. "Eu acho que precisa de conscientização, palestra, falar mais sobre o assunto para o pessoal se conscientizar", completou.

A cabeleireira Nilce Santo, 53, mãe de um estudante de 21 anos, ficou apavorada quando soube do episódio. "Fiquei muito preocupada. Não só pelo meu filho, mas pelas crianças que estudam aqui também. Em São Paulo já tinha acontecido tudo aquilo um dia antes. Não estamos acostumados com essa violência aqui na escola. Foi a primeira vez aqui", disse ela.

Pais que foram à secretaria para matricular seus filhos também estavam em alerta e pediram reforço na segurança das escolas. A dona de casa Raimunda Gonçalves, 39, orientou ao filho de 17 anos, que vai cursar o 2º ano no Ciep Brigadeiro Sérgio Carvalho, para se manter atento. "A violência está muito grande. Nem dentro da escola tem segurança. Já o orientei a não se misturar, ficar atento e entregar nas mãos de Deus. Na minha opinião, o governo teria que colocar guardas nas escolas ou revistar as bolsas das crianças. Muitos não concordam, mas acho que deveria, sim", afirmou.

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