Rio - Diversos passageiros aproveitaram a confusão na estação Mato Alto do BRT Transoeste, na manhã desta segunda-feira, para dar calote no modal. O DIA flagrou pessoas entrando na estação pelas portas laterais, mesmo com a presença de policiais militares no local. Os PMs foram acionados para conter a manifestação.
O protesto aconteceu por melhorias nos articulados do corredor e interrompeu a circulação dos veículos na região até meados das 9h. Segurando cartazes e com gritos de ordem, os manifestantes ocuparam as pistas da estação. O protesto só acabou depois que policiais militares dispararam bombas de efeito moral para dispersar a multidão.
De acordo com o BRT, quatro articulados foram vandalizados durante o protesto. Dois tiveram pneus furados e os outros dois vidros quebrados.
"Eu estava indo para o trabalho, quando jogaram uma bomba do meu lado. Eu estava quieto, esperando a confusão acabar para poder entrar na estação. O policial me viu sentado", conta o pintor Alcimar Moura, que teve a calça rasgada e ficou com ferimentos no rosto.
A grávida Vanessa Lima, de 28 anos, também sofreu com os impactos das bombas de efeito moral disparadas. Ela não foi diretamente atingida por uma, mas passou mal ao sentir o efeito do gás lacrimogêneo quando estava na estação. Vanessa foi levada ao Hospital Pedro II, em Santa Cruz.
Já um técnico de refrigeração que preferiu não se identificar acredita que possa ter perdido o emprego que havia acabado de conseguir por causa da confusão.
"Eu estou desempregado há cinco meses e peguei o último dinheiro que tinha em casa para ir na empresa entregar a documentação", diz o morador de Campo Grande que, por causa da interrupção no serviço, não conseguiu chegar ao Centro da cidade. "Acho que perdi o emprego. Vou ligar para a empresa e explicar o que houve para ver se eles ainda me aceitam".
Inúmeros problemas
Os passageiros que protestaram nesta segunda reivindicam uma série de melhorias no sistema. As reclamações vão de horários irregulares a articulados velhos. Muitos contam que o ar-condicionado dos veículos não dão vazão, que há goteiras quando chove, superlotação e até roubos e furtos dentro dos articulados.
Procurado pelo DIA, o BRT culpa a falta de conservação das pistas para o desgaste "acentuado dos ônibus". Para o consórcio, por causa disso, muitos veículos foram retirados de circulação. "Com reflexos, óbvios, na eficiência e qualidade do serviço ofertado, como a superlotação. Cerca de 70 articulados estão em manutenção, gerando impactos na qualidade do transporte e no conforto dos passageiros", alega.
O BRT compara, ainda, a vida útil dos articulados no Rio com os de outros países. De acordo com o consórcio, fora do Brasil, os ônibus duram, em média, 20 anos. "Mas no Rio o tempo médio é de apenas cinco anos, em função das péssimas condições das pistas e dos atos de vandalismo", reclama.
Já a assessoria do interventor Luiz Alfredo Salomão informou que um grupo que participou da manifestação será recebido nesta tarde para apresentar as reivindicações. Ainda segundo a nota, a intervenção trabalha para aumentar a segurança nas estações contra os calotes e o comércio ilegal e o recapeamento dos trechos críticos do corredor Transoeste, e ressaltou que a pista foi inaugurada em 2012 com um projeto cheio de erros de pavimentação e de dimensionamento das estações.
A reportagem também procurou a Polícia Militar sobre a bomba que atingiu o técnico de refrigeração, mas até a publicação da reportagem não obteve retorno.